Editora: Editorial Presença (2011)
Formato: Capa Mole | 390 páginas
Géneros: Fantasia
Sinopse (Goodreads): "Após um longo sono de várias décadas, Calédra, a bela guerreira aurabrana, desperta subitamente para uma realidade que lhe é estranha, um tempo que não é o seu. Antiga rainha dos aurabranos, Calédra está destinada a protagonizar uma missão quase impossível – salvar o mundo e os humanos da crescente ameaça do domínio Holkan. Ao longo desta saga extraordinária, são muitos os aliados que Calédra vai encontrando, e muitas as vezes em que enfrenta inimigos terríveis e se vê às portas da morte. Mas o seu espírito inquebrantável promete dar luta aos seus inimigos e cativar-nos desde logo, levando-nos a ler com insaciável voracidade as páginas deste épico vibrante."
AVISO: Contém alguns Spoilers!
Devo confessar, que até ao lançamento deste livro pela Presença, nunca tinha ouvido falar de Pedro Ventura ou da sua obra. No entanto, quando me foi proposta esta leitura fiquei bastante entusiasmada uma vez que gosto do género fantástico (desde a vertente épica à contemporânea) e tenho prazer em ver que cada vez mais autores portugueses apostam nele. Por outro lado, entrei na leitura um pouco de "pé atrás", digamos, uma vez que a minha experiência com o fantástico nacional não tem sido muito boa.
Concluída a leitura tenho a dizer que fiquei, no geral, satisfeita. A história de "Regresso dos Deuses - Rebelião" é interessante e mistura elementos bastante originais tocando mesmo um pouco na ficção científica. O enredo desenrola-se a bom ritmo e contém todos os elementos indispensáveis a uma boa fantasia: heróis, vilões, povos oprimidos e sociedades ao nível medieval. No entanto, Ventura surpreende, não pela história que não é particularmente única (uma luta pela liberdade de uma raça), mas pela introdução de opositores nunca antes vistos (pelo menos por mim) numa obra de fantasia. Os Holkan e as suas motivações são um elemento novo no género e contribuem para que o livro seja de leitura quase compulsiva. A genialidade do autor ao criar esta raça e ligá-la a Calédra foi magistral.
Quanto a Calédra é uma personagem principal digna do papel especialmente nos últimos capítulos.
Enquanto lia, apercebi-me de que este livro fazia parte de uma série ou que pelo menos, não era a primeira vez que o autor escrevia sobre este mundo. Como tal deparei-me muitas vezes, especialmente no início, com conceitos desconhecidos e lembranças de acontecimentos passados em livros anteriores,o que tornou a leitura algo confusa. Creio que um mapa e talvez um glossário das raças e territórios existentes nos Sete Reinos teriam sido uma mais-valia para os leitores que, como eu, entram pela primeira vez no mundo criado por Pedro Ventura para as Crónicas de Feaglar.
No entanto, esta não é uma falha grave uma vez que à medida que nos vamos imergindo na história vamos ficando a saber mais sobre o mesmo apesar dos detalhes serem vagos.
O aspecto que mais me desapontou no livro foi o desenvolvimento das personagens. Calédra desde cedo me fez lembrar Xena, a Princesa Guerreira (devido aos gritos guerreiros, aos saltos mortais e às acrobacias desnecessárias com a espada), excepto em termos de personalidade; apesar de perceber que a intenção do autor ao descrever Calédra como arrogante e autoritária era criar uma heroína original, quase que uma "anti-heroína", creio que exagerou um bocado e que a sua arrogância e vaidade eram quase excessivas. Custou-me um pouco ler sobre Calédra e o facto da maioria das outras personagens serem pouco interessantes - com a notável excepção de Delkon, que para mim é a personagem mais bem desenvolvida do livro - tornou a leitura desagradável nalguns pontos. Para além da sua desmesurada agressividade que no mundo real nunca lhe conseguiria a lealdade que os seus seguidores lhe parecem ter, Calédra tende a perder-se por vezes em lamentações muito irritantes que não captam o seu suposto sofrimento.
Ou seja, apesar de entender as razões que levaram o autor a escrever a personagem desta forma creio que ele não conseguiu o efeito pretendido. Não senti que Calédra fosse uma mulher aparentemente arrogante mas com um coração de ouro e também não senti empatia para com o seu sofrimento. É verdade que a sua atitude melhorou bastante nos capítulos finais mas durante a maioria do livro foi-me extremamente difícil ligar-me com esta personagem.
As restantes personagens não colmataram esta falta, uma vez que representavam estereótipos (a vilã arrependida, o homem taciturno com o passado negro e a mulher que é mais do que aparenta). Também não cheguei a perceber as razões que os levaram a juntar-se à demanda de Calédra... pareceram-me bastante mal explicadas e inverosímeis.
Gostaria ainda de ter sabido mais sobre os Holkan (apesar de serem os maus da fita) que me pareceram fascinantes e com a sua tecnologia e a sua crença de que eram superiores.
Outra falha que detectei prende-se não só com a escrita do autor, mas também com a edição. Apesar de Pedro Ventura escrever de forma apelativa, tem uma tendência irritante para usar reticências na maioria dos seus diálogos o que me pareceu um excesso e quebrou a fluidez dos mesmos, na minha opinião. Se é propositado, confesso que não percebi a intenção.
Também achei confuso que houvessem, dentro dos capítulos, mudanças de ponto de vista, sem que se notasse a mínima diferença no texto; ou seja, o texto é todo corrido, acaba uma frase sobre Calédra e o parágrafo seguinte já é do ponto de vista dos vilões, por exemplo sem que haja um único espaçamento a marcar a mudança.
Falhas à parte (que todos os livros têm), "O Regresso dos Deuses - Rebelião" foi sem dúvida uma das melhores obras de fantasia épica por um autor português que já li. Depois das desilusões do passado esperava mais uma, mas Pedro Ventura surpreendeu-me pela positiva com uma história interessante e bem fundamentada que tem a particularidade de não cair nos principais clichés da fantasia (não há elfos nem anões!). Recomendado para amantes do género.
Nota: Foi-me enviado um exemplar desta obra pela Editora para análise mas isso não influenciou em nada a opinião aqui apresentada.
Comentários
Mas parece que os jovens autores portugueses têm cartas para dar. :) Já leste alguma coisa da Madalena Santos? É uma autora que me deixa curiosa.
Sim esta leitura não foi nada má. Até fiquei surpreendida. Por acaso nunca li nada da Madalena Santos, mas também estou curiosa. :)
Tens de ler Martin S. Braun, da SdE :)