Opinião: Trocada (Amanda Hocking)

Editora: Asa / 1001 Mundos (2012)
Formato: Capa Mole | 272 páginas
Géneros: Literatura Juvenil, Romance Paranormal
Descrição (GR): "Aos seis anos Wendy escapa à morte quase por milagre - e quem a tenta matar é a própria mãe, acha que a filha não é sua, mas sim uma intrusa, trocada à nascença no hospital. Onze anos mais tarde, a estranha adolescente, de cabelos negros, começa a suspeitar de que a mãe, se calhar, até tinha razão. Na nova escola, mais uma entre tantas, ela sente-se posta à parte por todos. Menos por Finn Holmes, um rapaz silencioso e sombrio que se limita a olhá-la fixamente - e lhe desperta sentimentos contraditórios, um medo enorme, e uma irresistível atração. Finn é um Achador, que a procura há anos. E agora que a encontrou, quer levá-la para casa, para o reino dos Trylle, onde Wendy vai descobrir o que sempre suspeitou - ela é mesmo diferente, e tem poderes mentais muito mais poderosos do alguma vez imaginara."
AVISO: Contém alguns SPOILERS
Apesar de gostar imenso de literatura young adult, por vezes leio livros que não são, decididamente os mais apropriados para mim. Um caso recente foi Desejar, de Carrie Jones. Outro foi Trocada de Amanda Hocking.

As únicas coisas que sabia sobre este livro antes de o ler era que tinha sido ao início 'auto-publicado' e que era sobre trolls. Não existem muitas séries de fantasia urbana que lidem com trolls, por isso fiquei com esperanças que fosse interessante. Afinal os trolls não são das criaturas mais glamorosas dos contos de fadas: são verdes, são maus e vivem debaixo das pontes. Fiquei intrigada porque me perguntei como é que a  autora descreveria este tipo de criaturas de modo a que o leitor ficasse encantado com a história. Achei que a autora tinha escolhido uma temática desafiante.

Pois bem, descobri como foi e acho que se os olhos pudessem apanhar um torcicolo acho que os meus teriam apanhado um, de tantas vezes que os revirei. Este livro não é sobre trolls. É sobre criaturas belas e sobrenaturais, com capacidades mágicas a quem a autora decidiu chamar trolls só para poder dizer que estava a escrever sobre um novo tipo de ser sobrenatural. Pelo que li, duvido que ela tenha sequer pesquisado assim muito sobre trolls até na Wikipédia. A única parecença com as lendas e mitos é o facto de trocarem crianças humanas por crianças trolls (como o fazem nas lendas muitos outros seres sobrenaturais como as fadas ou os elfos) e serem um bocado para o matreiro (escolhem famílias ricas quando fazem as trocas para poderem usufruir do dinheiro que as mesmas deixarão aos 'filhos' trocados).

Ou seja, estes 'trolls' não são assim muito diferentes das fadas, anjos caídos ou vampiros de obras como - sim, adivinharam - Hush, Hush, Anjo Caído, Eternidade e Crepúsculo.

Depois desta descrição do mau uso que a autora fez da mitologia sobre 'trolls', passemos então à história. Já leram os Diários da Princesa, de Meg Cabot? Trocada tem basicamente o mesmo enredo, com um bocado de Crepúsculo à mistura, para se poder dizer que é um 'romance paranormal'.
A heroína, Wendy, sente-se diferente de toda a gente e imagina até que tem poderes. Para piorar tudo, o novo rapaz da escola, o misterioso (yuck) Finn está sempre a olhar para ela. A Wendy tenta ser sarcástica e cortante mas falha porque a autora não consegue escrever esse tipo de personagens (mais sobre a escrita da autora a seguir); além disso os olhos de Finn são escuros e misteriosos, pelo que Wendy sente-se atraída, claro. E mais atraída fica quando ele lhe aparece em casa a meio da noite (está a espreitar pela janela), tipo perseguidor (parece-vos familiar?). Ela lá descobre que é um troll (ou parte dos trylle, porque troll é uma palavra tão pejorativa, não ée nem é um troll qualquer! É a princesa dos trolls e por isso passa grande parte do livro a ter aulas de etiqueta. Sobre as origens e poderes destes seres, pouco ou nada nos é dito. O elemento sobrenatural quase não está presente uma vez que Wendy passa o tempo todo em jantares com elementos da nobreza, bailes de apresentação e a aprender tudo sobre que garfo utilizar. No fim temos uma escaramuça com uns trolls rebeldes mas a Wendy, apesar de ser a mais poderosa de todas tudo o que faz é olhar horrorizada e esperar que a venham salvar.

Ao nível das personagens, não é muito melhor. A autora não desenvolve convenientemente nenhuma delas e as emoções e reacções de Wendy pareceram-me falsas e inconsistentes. Ao princípio a autora descreve-a como sendo algo rebelde e descontente, mas durante o livro Wendy não se comporta de forma a suportar esta descrição. Pelo contrário é uma personagem apagada e desinteressante. Finn é, claro, um rapaz muito giro e misterioso, mais velho (claro) e que sabe fazer tudo e mais alguma coisa, como Wendy nos diz nesta frase, sem uma ponta de sarcasmo:
"Finn sentou-se ao piano e começou a tocar uma valsa linda e elaborada. Claro que sabia tocar piano. Sabia fazer tudo. (...)"
Não sei bem se é torturado, mas do pouco que se sabe creio poder dizer que sim. Um verdadeiro estereotipo andante por quem a heroína se apaixona à primeira vista (sim temos o infame insta-love ou 'amor-Crepúsculo'!).

A escrita é demasiado simplista por vezes; creio que nem a este tipo de livros (YA) se adapta bem porque a estrutura frásica é demasiado básica (até rima).

Apesar de tudo, e para não estar a realçar apenas os negativos, é um livro que se lê com relativa facilidade (apesar de o ter achado um pouco aborrecido lá pelo meio) e vá lá, não há um triângulo amoroso (por enquanto).

No geral, uma obra bastante fraca. Não tem qualquer originalidade, as personagens são unidimensionais e nada interessantes. O elemento sobrenatural (os trolls e os seus poderes) é deixado em segundo plano e o livro foca-se na aprendizagem de Wendy enquanto princesa troll (que não difere muito da aprendizagem de uma rapariga de alta sociedade). Um livro com muito pouco que se recomende. Acredito que possa parecer mais interessante para os leitores que não tenham lido muitos livros sobre seres paranormais, mas para quem já leu, o enredo revelar-se-á formulaico e pouco envolvente. Não recomendado.

Comentários

Anónimo disse…
Agora fiquei com "medo" deste livro xD
Até estava curiosa, mas pelo que parece é "apenas mais um livro" de fantasia... Aliás, pelo que parece é um livro de suposta fantasia xD

bjs*
slayra disse…
Sou sincera: não gostei muito. Não é que seja daqueles livros que não se conseguem ler, mas é aborrecido porque parece que já li a mesma coisa imensas vezes antes. No entanto, há muita gente que gostou (não faltam por aí opiniões contraditórias à minha, eheh) e acho que não há nada como lermos nós próprios se nos sentirmos realmente curiosos. ^_^
addle disse…
Eu até estava com vontade de ler este livro (mais de vido à capa que outra coisa?, mas depois de ler a tua crítica fiquei um bocado de pé atrás. Não me apetece ler outro livro quase tipo-Crepusculo. Além disso, sou eu a única que se visse um rapaz no meu quarto/a espreitar pela janela a meio da noite começava a gritar e chamava a polícia? Ou mandava-lhe com um candeeiro à cabeça?
slayra disse…
Lol, não acho que não. De certeza que gritava tanto que acordava meia rua. O.o

A capa é realmente linda. Eu, como disse senti-me atraída pela ideia dos trolls, mas... enfim.
Ana C. Nunes disse…
Já tinha ouvido falar muito deste livro, mas com esta tua opinião já percebi que não é nada o meu estilo. Parece super-aborrecido! E tão estereotipado que até fico enervada.
Que é feito da originalidade? Das personagens memoráveis? Da escrita eficiente mas bonita?

Com todos os defeitos que apontas, a tua classificação não podia ser mais acertada. :)
slayra disse…
Se preferes os teus livros com mais fantasia do que angústia emocional e romance adolescente eu evitaria. É a mesma fórmula de sempre... sigh.