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Opinião: Sistemas em Estado Crítico (Martha Wells)

Editora: Relógio de Água (2024) 
Formato: Capa mole | 120 páginas 
Géneros: Fição científica, Mistério

O que dizer deste pequeno livro?

Primeiramente tenho a dizer que estou muito contente por finalmente terem publicado por cá esta série. Para quem gosta de fição científica, esta série vai ser uma delícia.

@ protagonista (sem género definido) é um android cujo objetivo é proteger humanos sempre que estes necessitem de tal, como por exemplo em missões que comportem riscos.

O que é diferente neste android é que el@ conseguiu piratear o módulo que permitia à empresa a que pertence controlar o seu comportamento, transformando-se assim, numa unidade completamente independente. O que faz el@ com esta liberdade? Ora essa vê séries de TV enquanto guarda os humanos.

Assassiborgue (nome escolhido pel@ mesm@) despreza humanos mas mesmo assim tem de fingir que os guarda. 

Estas novas emoções transformam @ Assassiborgue: desprezo, enfado, irritação (quando lhe interrompem as séries) e vão mudar a forma como olha para o mundo.

Os livros desta série são pequenos, leem-se num instante e são bastante acessíveis.

O mundo é extremamente interessante, com grandes corporações a mandarem basicamente no espaço controlado pelos humanos (centenas de planetas) o que demonstra os excessos do capitalismo com uma estrutura de quasi-escravidão de humanos em operações em grande escala.

O mundo é também imersivo e as personagens são divertidas e é fácil gostar delas, especialmente d@ protagonista, com a sua visão algo niilista e muito sarcástica do(s) mundo(s).

Este livro serve como introdução ao mundo e a algumas das personagens. Tem ação, muito diálogo interior do Assassiborgue e monstros galáticos. É uma espécie de mistério/thriller passado no espaço.

Acho que se pode ver que gostei muito desta leitura. Se gostam de fição científica, personagens bem desenvolvidas, ação e um mistério vão adorar este livro. As aventuras d@ Assassiborgue merecem ser seguidas e é de leitura fácil e imersiva.

Recomendado.

Opinião: Um Acordo Muito Sedutor (Maggie Robinson)

Um Acordo Muito Sedutor de Maggie Robinson
Editora: Editorial Planeta (2015) 
Formato: Capa mole | 336 páginas 
Géneros: Romance histórico
Sinopse.

Uma história bastante típica dentro do romance histórico, cuja resolução é fraquita, especialmente porque havia lugar para um mistério interessante, se o mesmo tivesse sido bem desenvolvido.

E a tradução não ajudou. Tenho visto imensos erros de tradução em livros, mas este livro foi dos piores. A tradução literal abunda e faz-me questionar se a tradutora percebe realmente o inglês e as suas nuances. Algumas frases foram traduzidas tão literalmente que nem sequer faziam sentido. É por isso que os tradutores devem ser profissionais formados e não umas pessoas quaisquer que fazem barato e "até percebem mais ou menos de inglês" (claro que não sei se será este o caso... mas sei que é esta a mentalidade relativamente à profissão/trabalho de tradução). O resultado nunca é satisfatório e é insultuoso para os leitores, que não pagam pouco pelo livro, depararem-se com uma qualidade que deixa tanto a desejar. Enfim.


Opinião: The Wrong Family (Tarryn Fisher)

Editora: Graydon House (2020) 
Formato: Capa mole | 336 páginas 
Géneros: Mistério, Thriller

Estou de volta, para falar sobre um thriller que terminei recentemente. Na verdade, isto não significa que vá retomar a atividade no blogue porque atualmente pouco tenho a dizer sobre os livros que leio e as minhas leituras têm andado reduzidas. Manter um blogue dá um trabalho que não me parece que tenha estrutura mental para manter (paciência, mais que tudo).

Mas chega da parte pessoal, estamos aqui para a opinião. Este livro foi, numa palavra, dececionante. Muito pouco de thriller, quase nada de mistério, é complicado pôr este livro numa categoria... mas para efeitos de simplicidade vamos pô-lo nestas categorias.


A história é contada do ponto de vista de duas personagens Winnie, uma mulher com problemas profundos no seu casamento e Juno uma sem-abrigo. As entradas destas duas narradoras estão fora de alinhamento, ou seja, a narrativa salta do passado para o presente de forma algo confusa. Exploramos os passados destas duas personagens e os seus problemas, como acabaram na sua situação. 

Não há grande mistério no meio de toda esta exposição exceto que Juno começa a pensar que há algo de errado com a família de Winnie, que esta cometeu algum crime imperdoável no passado.

Diria que passamos cerca de 85% do livro nisto, para a frente e para trás, aprendendo mais sobre como a Winnie está num casamento sem amor, quais são as suas origens e como é a sua relação com o resto da família. 

Também aprendemos muito sobre Juno, sobre como passou de psicoterapeuta de sucesso a sem-abrigo.

Basicamente este livro pareceu-me convoluto, forçado. Foi o livro mais inacreditável que li recentemente e estou a ler uma série de fantasia épica.

O enredo é muito tênue, há muita exposição, mas nada é desenvolvido adequadamente. A exposição parece acrescentar nada ou muito pouco à história. Quase não há indícios espalhados pelo livro para o final apressado.

Uma das narradoras é uma sem-abrigo que consegue viver meses dentro de uma casa sem que ninguém perceba.

Se tivesse sido enquadrado de forma diferente, por exemplo, os proprietários a notar que coisas mudam repentinamente sem motivo aparente, pendendo mais para o terror do que mistério, poderia ter funcionado, mas ninguém dentro da casa nunca percebeu que havia uma pessoa a morar num armário. Simplesmente demasiado inacreditável.

No geral, não é definitivamente o meu tipo de livro. Demasiado confuso e às vezes aborrecido, com muito pouco sumo, por assim dizer. Não recomendo.

Opinião: Alpha & Omega (Patricia Briggs)

Editora: Berkley Books (2008) 
Formato: ebook | 86 páginas 
Géneros: Fantasia urbana

Alpha & Omega é um conto (novella) originalmente publicado na antologia On the Prowl (2007) e conta a história do irmão mais novo de Samuel (uma das personagens semi-permanentes do cast da série Mercy Thompson), Charlie.

Charlie, um dos filhos do Marrok (o chefe de todos os lobisomens da América do Norte) é enviado para outra cidade para investigar uma alcateia de lobisomens que parece estar a violar as leis do Marrok. Como filho do Marrok, Charlie é um lobisomem bastante forte e um Alfa por direito próprio (Alfas são geralmente líderes de alcateias de lobisomens). É por isso que foi escolhido pelo Marrok como braço armado da alcateia do Marrok; é quem chamam sempre que é necessário matar um lobisomem por violação das regras.

Em Chicago, Charlie encontra uma lobisomem chamada Anna que parece ser muito submissa. Mas Charlie depressa descobre que Anna foi abusada pela sua alcateia e que é, na realidade, uma Omega, um tipo de lobisomem muito raro que consegue acalmar os outros lobisomens.

Enquanto Charlie e Anna tentam descobrir as razões da traição do Alfa de Chicago, descobrem que estão destinados a ficar juntos.

Geralmente não gosto de ler contos. Acho sempre que vai faltar desenvolvimento das personagens e do mundo. Felizmente o mundo está bem estabelecido nos livros da Mercy Thompson e o ritmo da ação não permite muito pensar no desenvolvimento das personagens; sim foi um bocado rápido, mas felizmente a autora elabora mais em livros posteriores (este conto é o início de uma nova série centrada em Charlie e Anna).

Gostei bastante desta leitura. Foi tudo um pouco apressado? Sim, mas estranhamente não faltou nenhum passo e estranhamente o ritmo pareceu o correto relativamente ao tipo de história. Talvez se deva ao facto da estrutura da história estar ligada ao primeiro livro da Mercy, "O Apelo da Lua".

Nem me importei com o insta-love porque a autora tem uma razão "lógica" (entre aspas porque é lógica dentro das regras do mundo) para ele.

No geral, gostei e recomendo a leitura deste conto para os fãs de Patricia Briggs e especialmente para quem vai começar a série Alpha & Omega.


Outras opiniões sobre livros da autora no blogue:

Opinião: Os Altos e Baixos do meu Coração (Becky Albertalli)

Editora: Porto Editora (2018) 
Formato: Capa mole | 288 páginas 
Géneros: Ficção contemporânea, Literatura YA

Ora bem... Os Altos e Baixos do meu Coração. O que dizer sobre este livro? Na verdade, não há assim muito que dizer, exceto que se trata de uma leitura romântica direcionada ao público mais jovem (o atualmente intitulado "Young Adult")

A história centra-se em Molly uma jovem que tem uma boa vida familiar e uma irmã gémea com quem partilha tudo. A família dela não seria, decerto, considerada a mais tradicional (infelizmente), pois tem duas mães que a tiveram, à irmã e ao irmão mais novo através de fertilização in-vitro, mas, no geral, Molly diria que é feliz.

A única coisa que a atrapalha são as suas frequentes paixonetas. Cassie, a irmã gémea, tem andado a contar e foram, durante os 16 anos da vida de Molly... 26.

No entanto, Molly nunca teve um namorado, uma curte, nada. Nunca age quando tem uma paixoneta por ter medo de se magoar. 

Quando Cassie arranja uma namorada, Molly conhece os dois amigos da mesma por arrasto. Será que Molly irá finalmente arranjar um namorado? E será um dos dois rapazes giríssimos que conheceu ou tudo ficará estragado pelos estranhos sentimentos que tem por Reid, o funcionário da loja onde ela também trabalha.

Como disse acima... não há muito a dizer sobre este livro exceto que é romântico, divertido e muito docinho. O suficiente para causar diabetes, quase.

Gostei mais deste livro do que do primeiro livro da autora, O Coração de Simon contra o Mundo. Identifiquei-me tanto, mas tanto com a Molly, com as suas inseguranças e com o seu medo de rejeição. 
Já da Cassie não gostei tanto, achei que foi insensível nalguns momentos para com a irmã e Molly, que supostamente quer ser uma pessoa forte, não reage muito, é muito passiva. 

O meu problema com este livro (e que já tinha tido com o primeiro) é que, apesar de termos muita diversidade (diferentes sexualidades, diferentes tipos de corpo, diferentes etnias, religiões, etc), tudo é tratado com "óculos cor de rosa". Ok, também não tem de ser um drama pesado, mas tendo em conta a sociedade de hoje... Becky Albertalli escreve como se toda a gente fosse super, mega tolerante e como se a diferença não causasse desprezo, desconforto, atitudes ridículas e erradas e tudo o mais. Ok, a rejeição de certas coisas está lá (a tia homofóbica, por exemplo), mas de forma tão camuflada e simplista que não há oportunidade de explorar esta vertente. 

E sendo uma obra para jovens, ainda em "formação", acho que é importante que se retrate a realidade como ela é, que se escreva de forma a que também estes jovens considerem como a sociedade ainda tem muito que evoluir em muitos aspetos. Talvez seja demasiado para esperar de um livro YA e talvez não seja realmente algo que qualquer escritor tenha realmente de fazer (não é nenhuma obrigação); mas seria interessante que o fizessem.  

No geral uma leitura rápida e agradável. Apesar da diversidade apresentada, é um livro com pouca profundidade pois não nos leva a pensar e retrata uma realidade que, a meu ver, não existe. Também me entristeceu que as personagens não crescessem, não se desenvolvessem, não passassem por momentos de angústia; um exemplo: Molly tem problemas com o corpo por ter peso a mais e isto é uma constante ao longo do livro; no entanto, no final ela já se aceitou como é e tudo por causa se um simples acontecimento. Lamento, não é assim que funciona. Enfim, uma leitura fofinha e pouco mais.

Detalhes da versão original:
Título: The Upside of Unrequited
Ano: 2017

Opinião: Um de Nós Mente (Karen M. McManus)

Editora: Gailivro (2018) 
Formato: Capa mole | 334 páginas 
Géneros: Ficção contemporânea, Literatura YA

Um de Nós Mente é a estreia de Karen M. McManus e é um livro de ficção contemporâneo dirigido ao público jovem adulto. Hesito em chamar-lhe um "thriller" porque, de facto, a resolução é bastante simples e acho que a exploração do clima social que se vive durante a adolescência é bastante mais interessante e chamativo do que o mistério em si.

O livro começa com cinco jovens, todos muito diferentes, que apanharam detenção por terem telemóveis ligados durante as aulas. Temos a rapariga estudiosa, o desportista popular, a rainha de beleza com o namorado jogador, o delinquente e o geek curioso que pesca um bocado de computadores e que se entretém a escrever mexericos e a denunciar segredos da escola numa app.

Deveria ser apenas uma detenção; mas não foi. Porque o geek, Simon, morre em frente dos outros quatro são considerados suspeitos e depois de muitos interrogatórios e de ações de alguma intimidação da parte da polícia, decidem tentar perceber o que se passou. No decurso dessa investigação, os segredos de cada um vão sendo revelados; segredos que Simon parecia saber, mas que nenhum deles queria ver tornados públicos. Então... qual deles matou Simon?

Um de Nós Mente foi uma leitura divertida. Como disse, a solução do mistério é quase imediatamente aparente e por isso não foi essa a parte que me puxou. No entanto, a exploração da vida e dos segredos dos protagonistas foi interessante, assim como da vida escolar e de como tudo é tão público, tangível e imediato nos dias de hoje, com as redes sociais e a internet.

Gostei do facto das personagens terem crescido (apesar de de forma superficial) e aceitado que os seus "segredos" eram como uma pedra que os prendia ao fundo do rio e que, depois de conhecidos, os libertaram para serem eles mesmos. 

Gostei muito da viagem de Addy, a rapariga que achava que tinha tudo e que se apercebeu de que estava numa relação emocionalmente abusiva (algo difícil de detetar, por vezes).

Não há muito mais que possa dizer sem revelar partes da história, por isso termino por aqui. Uma leitura interessante em termos de exploração do ambiente social na escola secundária, mas um bocado previsível em termos do mistério.

Detalhes da versão original:
Título: One of Us is Lying
Ano: 2017

Opinião: Verão em Edenbrook (Julianne Donaldson)

Editora: TopSeller (2018) 
Formato: Capa mole | 288 páginas 
Géneros: Romance histórico, ficção histórica 

OMG, uma publicação no blogue! Finalmente conquistei a minha preguicite (mas durante quanto tempo, I wonder)!

"Verão em Edenbrooke" foi uma leitura estranha para mim. Como consumidora ávida de romances históricos mais picantes, esta tentativa de Julianne Donaldson de criar algo mais "clássico", ao estilo de Jane Austen, falhou em imensos aspetos, que irei enumerar a seguir a uma breve descrição da ação.

Marianne Daventry é uma jovem de 17 anos proveniente da baixa nobreza (pelo menos é o que parece). Vive com a avó em Bath após a morte da mãe e de o pai ter "fugido" para Paris para suportar o desgosto. Foi, estranhamente, separada da irmã gémea, Cecily, que foi mandada para Londres.

Marianne aborrece-se em Bath, com a avó sempre a querer que ela se comporte "como uma senhora" e com o pretendente, cujo nome não fixei, mas que é mais velho do que ela e cujo único problema parece ser o de acumular demasiada saliva nos cantos da boca (de resto parece ser um cavalheiro simpático).

Por isso, quando a convidam para passar algum tempo em Edenbrooke, casa de uns amigos de família, Marianne sente-se feliz. Mas o problema é que vai ter muitos tête-a-tête com o anfitrião, o jovem (e belo) Sir Phillip.

Ora bem... o que dizer deste livro? Numa palavra: simplista. A escrita é fácil de ler q.b., mas Verão em Edenbrook tem muito pouco de original. Não só lhe faltam as cenas picantes, como as personagens principais são quase tiradas a papel químico dos famosos heróis de Jane Austen, Elizabeth Bennet e Mr Darcy.

Se não, vejamos: Marianne é um espírito livre (porque gosta de rodopiar e do campo), mas ao mesmo tempo uma senhora recatada e seguidora dos costumes que fica chocada com o facto da irmã trocar uns chochos com um ou outro pretendente. Esta parte moralista desagradou-me um bocado, mas pronto. Já Sir Phillip é um cavalheiro do mais alto gabarito com quem a heroína se dá mal logo de início e com o qual tem muitos debates acesos.

Mas se as características são semelhantes, faltam a Marianne e a Phillip o fogo dos seus modelos. São personagens muito superficiais e pouco desenvolvidas.

O enredo é bastante típico e parece que Donaldson decidiu meter tudo o que é cliché em romance histórico no livro: desentendimentos, mal-entendidos, salteadores, raptos, declarações fervorosas de amor... tudo acontece e mesmo assim, a prosa da escritora não consegue nunca dar-nos um sentimento de urgência, de calor; as emoções não saem do papel, não se concretizam.

No geral, uma leitura "meh". Acabei o livro ontem à noite e os pormenores já se desvanecem da minha mente. Houve algumas falhas de caracterização da época, alguma moralidade incomodativa e de nariz empinado e personagens que não ficam na memória. Poderia tecer muitos e muitos mais comentários à falta de desenvolvimento das personagens e do enredo, à superficialidade de todo o livro, às múltiplas situações que demonstram falta de conhecimento da época da Regência britânica e de como as pessoas se comportavam. Mas não vale a pena; basta dizer que as palavras que melhor caracterizam este livro são "superficial" e "simplista". Uma leitura rápida e, no final, agradável q.b., suponho.

Detalhes da versão original:
Título: Edenbrook
Ano: 2012

Opinião: Um Pequeno Favor (Darcey Bell)

Editora: Bertrand (2017)
Formato: Capa mole | 304 páginas
Géneros: Mistério/Thriller
Sinopse.

O que dizer sobre este livro? É complicado porque é um daqueles livros sobre o qual há, ao mesmo tempo, muito e pouco a dizer.

Pouco porque tem muito pouca substância e muito porque... tem tão pouca substância que só apetece é começar um monólogo inflamado sobre o tempo e dinheiro perdidos.

Mas vou tentar um meio termo e começar com a já habitual sinopse/resumo da minha lavra... e... não me lembro.

Pois. Não me lembro do nome das personagens ou daquilo que aconteceu. Só me lembro que a história foi particularmente má e... eh...

Ahem. A personagem principal, de cujo nome não me recordo, é uma viúva com um filho que consegue subsistir apenas com a pensão pelo que é aquilo que os americanos chamam "stay at home mom" e que, para nós, portugueses é essa ave rara intitulada "mãe a tempo inteiro" (porque quem é que consegue ter um filho e não trabalhar para o sustentar aqui, não sei). Pode até dizer-se que esta senhora leva a maternidade muito a sério, porque vive tanto para isto que até tem um "blogue para mães" onde todos os dias discorre sobre os desafios de ser mãe.

Não me entendam mal; nada tenho contra este estilo de vida. É só que a personagem em si é extremamente irritante, começando todas as publicações do blogue com um alegre "Olá, mães!" e escrevendo as coisas mais aborrecidas. E como as publicações do blogue compõem cerca de 15% (assim inventado, como todas as estatísticas, mas percebem a ideia) do texto, bem... imaginem a minha irritação no final.

Então, temos a mãe a tempo inteiro com o blogue. E temos a vizinha (cujo nome também não sei) que tem um filho da mesma idade e que, voilá, se torna por isso a melhor amiga da protagonista. Quando a vizinha não aparece para levar o seu filho (que a protagonista tinha ido buscar à escola a pedido da amiga), a protagonista fica preocupada e começa a escrever no blogue.

À medida que o tempo passa, a protagonista lamenta-se pela sua amiga desaparecida, toma conta dos miúdos (o seu e o da vizinha) e seduz o marido choroso.

Ok. Espero que tenham percebido mais ou menos do que trata o livro. Há uma pessoa que desaparece mas As Coisas Não São o Que Parecem (marca registada).

Os SPOILERS COMEÇAM AQUI!

Comparam isto ao livro "Em Parte Incerta", mas sinceramente considero a comparação um bocado insultuosa para o livro de Flynn, uma vez que "Um Pequeno Favor" é uma obra tão amadora e terrivelmente má que mesmo não tendo gostado do bestseller "Em Parte Incerta" por aí além, o considero 100 vezes melhor do que este desastre.

Primeiro, as personagens de Flynn têm realmente algum génio na sua construção e são realmente inteligentes. A protagonista e a respetiva antagonista são só parvas. E a protagonista é tão burra, mas tão burra que não é necessário ser realmente muito inteligente para a enganar e a levar a fazer o que se quer que ela faça... o que é bastante notório pelo facto de ela ser enganada até ao fim, apesar das pistas gritantes de que está a ser enganada.

Ou seja, a protagonista não tem cérebro. Suponho que a intenção da autora era compor uma história sobre o poder da amizade ou da solidão. Mas o comportamento da protagonista não grita "sei que é errado, mas vou fazer isto por esta amizade/porque não quero abrir mão da convivência com esta pessoa". Não, a protagonista acredita piamente no que lhe dizem apesar das evidências em contrário.

Todas as outras personagens sofrem de falta de caracterização (bem, a protagonista também, mas pelo menos ficou bem marcado na minha cabeça que ela era... burra como uma porta) e mostram também falta de discernimento. A trama é simples, tão simples que é quase insultuoso para o leitor... a autora vai adicionando coisas ao enredo para forçar a narrativa e esta nunca parece "natural".

No geral, um livro bastante fraco. Personagens mal escritas e idiotas, um enredo sem sentido e simplista e algumas passagens escritas num tom infantil e irritante (as entradas no blogue). Não recomendo isto a ninguém, na verdade. Não consigo perceber porque foi publicado sequer.

Detalhes da versão original:
Título: A Simple Favor
Ano: 2017

Opinião: O Leitor do Comboio (Jean-Paul Didierlaurent)

O Leitor do Comboio de Jean-Paul Didierlaurent
Editora: Clube do Autor (2017)
Formato: Capa mole | 196 páginas
Géneros: Lit. Contemporânea
Sinopse.

AVISO: ALGUNS SPOILERS

Um pequeno livro, que se lê de uma assentada, O Leitor do Comboio retrata a vida rotineira de Guylain Vignolles, um jovem de 36 anos, solteiro, dono de um peixinho dourado.

Guylain é uma pessoa vulgar num mundo de pessoas vulgares; todos os dias apanha o comboio para o trabalho, tem de aturar um chefe mandão e prepotente, um colega ao mesmo tempo ambicioso e mediocre e uma tarefa que detesta: destruir livros.

A única altura do dia em que Guylain Vignolles é alguém diferente e mágico é durante a viagem do comboio, onde lê páginas soltas que arranca das entranhas da "Coisa", a máquina que transforma livros em pasta de papel reciclável. Estas "peles vivas", como lhe chama, são o que resta dos livros enfornados e destruídos e fazem as delícias dos seus companheiros de viagem. Também poderão ser aquilo que mudará a vida de Guylain para sempre.

Não é muito comum para mim ler livros sobre pessoas "reais" com vidas reais. Leia-se: pessoas com vidas vulgares, monótonas e repetitivas; no fundo parecidas com a minha. O meu objetivo ao ler livros é viajar na companhia de seres invulgares, mesmo que comecem como eu, normais e com vidas normais pois é sabido que na maioria dos livros, eles depressa descobrem a existência de um mundo bem mais interessante.

Mas este livro, "O Leitor do Comboio", foge a essa regra. Guylain Vignolles é o mais normal possível: vive num pequeno apartamento, tem um trabalho monótono e previsível, é tímido e apagado; em suma é o que tanta gente é. O que nos permite, de certo modo, identificarmo-nos com a personagem. O que gostei.

O que me desapontou aqui não foi a natureza da história (algo que eu sinceramente temia que acontecesse), mas sim o facto de ela nunca ter chegado a "levantar voo", por assim dizer.

Vignolles é arrancado da sua vida sempre igual por dois acontecimentos: o convite de duas senhoras idosas para que vá à sua casa de repouso ler todos os sábados de manhã e a descoberta de uma pen drive repleta de textos escritos por uma jovem chamada Julie.

Apesar de acompanharmos Guylain a duas leituras na casa de repouso e de o ouvirmos a ler no comboio excertos do diário de Julie, nunca vemos grandes alterações na sua vida diária. A procura por Julie acontece em segundo plano e apenas devido à pesquisa de um dos amigos de Guylain; e este nunca colhe frutos da sua nova atividade no lar.

Assim, o livro acaba como começou... sim, o autor diz-nos que os esforços da nossa personagem podem ser recompensados, mas nunca vemos essas recompensas, essas mudanças.

No geral, este livro entreteu-me, mas soube-me a pouco, parece inacabado. Acho que é um dos poucos livros que já li até hoje que tem conteúdo a menos em vez de a mais e que beneficiaria de mais páginas e desenvolvimento.

Detalhes da versão original:
Título: Le liseur du 6h27
Ano: 2014

Opinião: Confissões (Kanae Minato)


Editora: Suma das Letras (2016) 
Formato: Capa mole | 216 páginas 
Géneros: Thriller

Confissões de Kanae Minato não é propriamente um livro de mistério, uma vez que não existe nada para desvendar. Existe um crime (ou vários, na verdade), mas os culpados são imediatamente aparentes.

Tudo começa quando Manami, uma rapariga de 4 anos, aparece morta na piscina de uma escola preparatória. Manami é filha de uma das professoras da escola e, um dia antes de se retirar, a professora discursa em frente da sua turma e revela que sabe que Manami foi assassinada e por quem. Diz também que, uma vez que segundo o sistema de justiça japonês os assassinos não podem ser "propriamente" julgados pelos seus crimes, que ela decidiu vingar-se dos culpados.

A forma como o faz vai despoletar uma série de acontecimentos na pequena comunidade. Desde os alunos culpados aos pais, colegas e outros que tais, este livro mostra o lado mais negro da alma humana e como as nossas experiências nos definem de forma infelizmente, muito decisiva.

Intenso, perturbador, um thriller na verdadeira acepção da palavra. "Confissões" conta a história de um crime hediondo, perpetrado por razões hediondas e de como o ódio, o ressentimento e a vingança geram mais ódio, ressentimento e vingança, criando um círculo inquebrável que vai destruir vidas numa pequena cidade rural japonesa.

Contado a várias vozes, permite-nos entrever motivos diversos, de diversas personagens, alguns mais repugnantes do que outros, mas todos estranha e assustadoramente humanos.

No geral, um livro bastante assustador por parecer tão real. As personagens não são estereótipos como tantas hoje em dia. São muito humanas, tão maliciosas sem serem efetivamente más.

Recomendo.

Detalhes da versão original:
Título: 告白 [Kokuhaku]
Ano: 2008

Opinião: Ao Fechar a Porta (B.A. Paris)

Ao Fechar a Porta de B.A. Paris
Editora: Editorial Presença (2017)
Formato: Capa mole | 264 páginas
Géneros: Thriller
Sinopse.

Atenção: SPOILERS

A vontade de escrever opiniões teima em não regressar (assim como a vontade de ler muito, suponho), mas cá estou, escrevendo mais uma.

Parece que estou a cair no cliché de ler thrillers no verão. Assim, adquiri este porque, pela sinopse, me pareceu um interessante estudo sobre uma vertente muitas vezes não explorada da violência doméstica: o abuso psicológico.

Quando vi o tamanho do livro (menos de 300 páginas), fiquei um bocado receosa (e com razão). Mas lá chegaremos; primeiro, uma pequena sinopse, como sempre.

Grace e Jack são o casal perfeito. Ele é um advogado de sucesso em casos de violência doméstica, que nunca perdeu um caso; ela, uma esposa e dona de casa esmerada que sabe dar as melhores festas. Com uma boa casa, dinheiro suficiente para uma vida desafogada e o que parece ser verdadeira afeição, amigos e familiares concordam: Grace e Jack têm tudo para serem felizes. Mas será que tudo é tão maravilhoso como aparenta ser?

Ao Fechar a Porta assenta numa premissa muito simples: aquilo que aparenta ser uma vida perfeita é, na verdade, um pesadelo. Ao melhor estilo dos filmes para a TV de segunda categoria, Jack é realmente um psicopata charmoso, que conseguiu enganar Grace durante os tempos de namoro e que agora se diverte a torturá-la psicologicamente, mantendo-a, virtualmente, uma prisioneira na sua casa, enquanto espera pela sua verdadeira presa: a irmã de Grace, Millie, que sofre de Síndrome de Down e que irá viver com eles depois de atingir a maioridade.

A premissa é um bocado irrealista e a execução deixa muito a desejar. O livro mergulha-nos de cabeça na trama, abrindo com o casal modelo a dar uma pequena festa em casa, para alguns amigos. Mas assim que a porta se fecha (lá está), Jack tira a sua máscara e torna-se controlador, zombeteiro e cruel. Grace nada consegue fazer para se libertar.

Em suma, é um bom livro para se ler sem se pensar muito no enredo. Ele presta-se a isso mesmo: é pequeno, com capítulos curtos e o ritmo da ação nunca esmorece. É por isso que é fácil não pensar muito nas falhas de caracterização das personagens (que são mais caricaturas e estereótipos do que outra coisa) e da história (que nunca é assim muito desenvolvida ou particularmente realista). É um livro que nos agarra logo no início, com os extremismos de Jack e o sofrimento de Grace e nunca mais nos larga durante as horase dias tortuosos da nossa protagonista enquanto esta tenta escapar ao seu captor e salvar a irmã de um destino indescritível.

A tensão, como disse, ajuda a folhear o livro com rapidez e a ignorar as falhas gritantes: como nunca ninguém (ou quase ninguém) percebe que a fachada é demasiado perfeita ou que Grace nunca tem tempo para os amigos apesar de não trabalhar, entre outras coisas. Suponho que se Grace e Jack não tivessem amigos, seria mais fácil de engolir; geralmente, as pessoas não se interessam por estranhos, mesmo que sejam vizinhos. Pelo menos, não realmente. São capazes de engendrar mexericos, no entanto, e muita gente vive para isso, especialmente quando os alvos fazem inveja com as suas vidas aparentemente perfeitas. Assim, a inação da vizinhança e sobretudo dos amigos, não faz muito sentido.

No entanto, falhas no enredo à parte, esta foi uma leitura rápida, viciante e satisfatória. É um thriller no mais puro sentido da palavra e é competente a deixar o leitor com as emoções à flor da pele e a querer saber o que se vai passar a seguir. 

Detalhes da versão original:
Título: Behind Closed Doors
Ano: 2016

Opinião: The Raven Boys (Maggie Stiefvater)

Editora: Scholastic Press (2012) 
Formato: e-book | 312 páginas 
Géneros: Mistério, Literatura YA, Fantasia Urbana 

Houve uma altura na minha vida em que achava imensa piada a livros ou séries para jovens adultos (YA ou Young Adult, no original). Isto porque achava (e ainda acho), que os autores deste tipo de livros têm de se esforçar mais para manterem os seus públicos interessados porque... bem, como sabemos, os livros competem, hoje em dia, com a televisão e os jogos de computador.

Mais tarde, depois de ler um número considerável de livros para esta faixa etária (entre os 14-20 anos, mais ou menos), descobri que muitos partilham dos mesmos elementos e que isso parece ser mais ou menos suficiente para cativar as massas adolescentes.

O que muitos destes livros têm, quer sejam contemporâneos, históricos ou fantásticos é uma história de amor dramática à qual é dada muita proeminência.

Com o passar do tempo, fui desistindo um pouco da literatura YA, mas há alturas em que volto a elas. Como nesta ocasião, para ler o primeiro livro na aclamada série de







Opinião: Escrito na Água (Paula Hawkins)

Editora: Topseller (2017) 
Formato: Capa mole | 384 páginas 
Géneros: Mistério, Thriller 

"Escrito na Água" é o mais recente livro de Paula Hawkins, autora do bestseller "A Rapariga no Comboio" (Topseller). Devido ao massivo sucesso do seu primeiro livro, Hawkins viu a sua oferenda literária ser lançada mundialmente no dia 2 de maio. Portugal não foi exceção e devo dizer que a sinopse me cativou o suficiente para comprar o livro logo no primeiro dia, apesar de, como os que me conhecem melhor sabem, thrillers não serem exatamente o meu género preferido.

Tal como o seu predecessor, "Escrito na Água" é então um thriller e tem como pano de fundo uma zona rural de Inglaterra. Ao contrário de "A Rapariga no Comboio", no entanto, este segundo livro não tem uma personagem principal claramente definida (ou melhor, tem, mas trata-se da vítima), sendo composto pelos pontos de vista de diversas personagens.

Fiquei um bocado desapontada com este livro. Pela sinopse, pensei que o mistério teria um pendor vagamente sobrenatural (não verdadeiramente, isto é um thriller, não fantasia, mas devido às crenças populares), mas a autora não se focou muito nesse aspeto.

Nel Abbott sempre viveu obcecada com o rio que passa na sua vila. Para ela o rio era tudo e a sua história era um motivo de investigação frenética. Mas agora, Nel morreu, um aparente suícidio, apenas mais uma morte num rio cujas águas já levaram a vida de muitas mulheres. Mas será que Nel se suicidou realmente? Ou será que alguém com algo a esconder, algo que a investigação de Nel ameaçava levar à luz?

Como disse anteriormente, Nel Abbott é, mais ou menos, a protagonista desta história. Apesar do livro começar com a sua morte, são as mudanças e segredos descobertos que este acontecimento despoleta que são o tema central do livro. Narrado a muitas vozes (Jules, a irmã de Nel, Lena, a filha de Nel, Sean o detetive, Louise, cuja filha também escolheu afogar-se no rio e outros habitantes da vila), são elas que constituem a tapeçaria da história, que vão formar o enredo.

Geralmente  não sou muito fã de livros narrados por diversas personagens, pois considero que é uma distração, pois muitas vezes os autores não conseguem imprimir personalidades vincadas e diferentes o suficiente às suas personagens para que resulte. E foi este o caso com "Escrito na Água". Cada capítulo é narrado por uma ou outra personagem, na primeira pessoa, mas nunca senti realmente que se tratavam de personagens diferentes. Porque todas elas "soavam" parecidas; se isso faz sentido.

No entanto, isto nem foi o que me desagradou mais. O que me desagradou mais foi mesmo o facto de a autora nos dar uma história tão interessante sobre o rio (um local onde afogavam "bruxas" e mulheres problemáticas) e no final, o mistério ter uma resolução tão prosaica, tão... normal. Tão pouco relacionada.

Mas, claro, isto é apenas uma preferência pessoal. Não tem nada a ver com a qualidade do mistério ou da narrativa, com a qual tive alguns problemas também, como referi acima quando falei dos múltiplos pontos de vista. Devo dizer que para além de não ter captado grande diferença entre as vozes das diversas personagens, também tive alguns problemas com as suas motivações e atitudes... simplesmente não me pareceram realistas ou particularmente humanas. Não posso aqui falar muito sem "spoilar" o livro, mas digamos que certas ações de Sean e de Lena e os seus comportamentos posteriores não me pareceram assim muito possíveis (a não ser que a vila tenha um número anormal de psicopatas no seu seio).

Enfim, no geral, foi uma leitura rápida e relativamente interessante. A autora não seguiu a via que, no meu humilde entender, tornaria a narrativa mais apelativa, mas mesmo assim não me custou ler este "Escrito na Água". É um thriller competente e "pipoca", que vai certamente agradar aos fãs do género. Eu só gostaria que tivesse tido um pouco mais de profundidade (perdoem-me o trocadilho) e desenvolvimento. Não há realmente muito que distinga este livro de um qualquer mistério passado numa cidade pequena. 

Detalhes da versão original:
Título: Into the Water  
Ano: 2017

Opinião: A Rapariga que Sabia Demais (M.R. Carey)

A Rapariga que Sabia Demais de M. R. Carey
Editora: Nuvem de Tinta (2016)
Formato: Capa mole | 440 páginas
Géneros: Fantasia Urbana
Sinopse

ATENÇÃO: contém spoilers (mínimos, mas têm de existir para poder escrever sobre o livro)

Ok, como já disse milhentas vezes, zombies não são a minha praia. Mas este livro parecia interessante porque pensei que me mostraria algo novo no género. E mostrou; mais ou menos.

Reino Unido, futuro (próximo?). Melanie vive para os dias em que a professora Justineau dá aulas. Juntamente com uma turma de rapazes e raparigas, Melanie aprende as mais variadas coisas com diversos professores. Mas é aí que acaba a normalidade: a escola fica dentro de um complexo onde Melanie também vive... numa cela. Para sair, tem de ser amarrada a uma cadeira de rodas por militares; e é também amarrada que assiste às aulas.

Melanie não se lembra da sua vida antes da base mas sabe que se sente feliz quando a professora Justineau lhe lê contos e mitos gregos, especialmente o de Pandora: a mulher que abriu uma caixa proibida porque era o seu destino. Qual será o destino de Melanie?

Desde o início é bastante claro que a Melanie não é uma criança normal. Ela é um génio, compreende conceitos que a maioria das crianças de 10 anos não compreendem. Ao mesmo tempo, tem reações de criança, como apegar-se à figura maternal da professora Justineau.

O livro começou bastante bem. Todo o enredo está organizado de forma a que o leitor se questione acerca do propósito das experiências que ocorrem, muito obviamente, na base. Experiências com crianças... o que pode justificar isso?

O autor dá-nos a resposta em breve. E é aí que o livro descamba. Passa de mistério científico, de um desenrolar pausado e introspetivo da narrativa da vida de Melanie e dos que a rodeiam para luta pela sobrevivência e ação non-stop. Perde a sua profundidade aí. As personagens polarizam-se (em termos de apresentarem comportamentos estereotipados) e passa a ser mais um livro de fantasia urbana.

O final é extremamente anti-climático. Algumas pessoas acharam incrível, mas sinceramente, achei que era uma saída simplista, um corte abrupto.

No geral, um livro que poderia ter sido muito mais. Teve um começo forte, estava empenhada em descobrir o que se passava com Melanie, o mundo das personagens, como se justificava o que acontecia... mas tudo isto é abandonado quando as personagens abandonam a base. Algo desapontada, apesar de ter gostado da leitura. Só achei que este livro poderia ter sido mais especial se não tivesse tentado agradar a todos os tipos de leitores: a os que queriam mais ação e aos que queriam mais introspeção. Ficou ali no meio e acabou por não encher as medidas.

Opinião: Sundiver (David Brin)

Editora: Bantam (2010) 
Formato: Capa mole | 340 páginas 
Géneros: Ficção Científica 

(Nota: a edição apresentada não corresponde à que está a ser lida, porque estou a ler um livro com a trilogia completa). 

Já há algum tempo que ando para ler David Brin. Na verdade, desde que peguei, há muitos anos, num dos livros dele, publicados pela Europa-América que o meu pai tem lá por casa e li sobre golfinhos sencientes! 

Acho que acabei por não ler o livro todo, mas quando me deparei com uma edição 3 em 1 da trilogia original "Uplift" (Elevação), não resisti a comprar.

O primeiro livro, intitulado, "Sundiver" abre com o nosso protagonista a fazer experiências no sentido de modificar os golfinhos de forma a que estes sejam "elevados" ao nível dos seres humanos. Mas cedo, o protagonista (cujo nome eu não me lembro, e nem estou a brincar) é chamado como "consultor" numa outra experiência: humanos estão a realizar uma das experiências mais incríveis de sempre: uma expedição ao Sol. Mas surgiram problemas e, então, o nosso herói (mas como é que ele se chama, pá?) é chamado a investigar.

Devo dizer que não fiquei grandemente impressionada com este primeiro livro. Tem uma premissa tão boa, mas desperdiça-a para se focar num mistério desinteressante e algo simplista.

A premissa geral é a seguinte: a Humanidade estabeleceu contacto com centenas de espécies na Galáxia que, como eles, respiram oxigénio. E descobriu, no processo, que ao contrário dessas espécies fogem ao padrão estabelecido há muito pelos misteriosos Progenitores: as espécies sencientes "elevam" outras espécies (pré-sencientes) para um estado de senciência, criando laços reminiscentes de uma sociedade feudal: os que elevam são os benfeitores e os elevados são, durante algum tempo, seus "clientes", no sentido de lhes deverem a senciência. 

Todo este processo é registado numa Biblioteca galáctica que contém informações sobre as espécies da Galáxia e sobre todo o seu conhecimento tecnológico, científico, filosófico, etc. Como tal, nesta sociedade galáctica todo o saber é reciclado.

Os humanos, como não podia deixar de ser, são diferentes. Não se conhecem benfeitores para esta raça e tudo indica que evoluiram da pré-senciência para a senciência naturalmente. Darwin e tudo o mais.

E agora, os humanos estão a levar a cabo experiências, algo que as outras espécies não compreendem: para quê experimentar, se já está tudo na Biblioteca? E a tal expedição ao Sol é mais uma dessas experiências.

O enredo bem se podia focar num destes interessantes pontos: onde estão os benfeitores dos terráquios? Será que evoluímos mesmo sozinhos? 

Ou mesmo: será que o Sol é habitado? Porque parece ser essa a conclusão a que chegam os investigadores. E serão os habitantes do Sol os benfeitores da Terra?

Mas não. O enredo tem contornos bem mais simplistas e nenhuma das temáticas acima é abordada. Na verdade este livro é um... mistério.

E nem sequer é um bom mistério. O livro parece estar a descrever uma investigação científica normal até o protagonista ter um momento eureka e dizer a todos "juntem-se na sala X" e, depois, explicar a todos como fulano e sicrano fizeram isto e aquilo. O leitor nunca saberia que algo estava errado se o protagonista não o dissesse! Não há processo de investigação, suspense, nada. Num momento temos uma explosão suspeita, no seguinte o protagonista dá-nos uma solução.

As personagens também estão bastante mal exploradas; são estereótipos e nenhuma prima pela complexidade.

No geral, um primeiro livro bastante fraco. Poderia ter explorado tantas coisas interessantes, que o facto de se ter focado num mistério corriqueiro de "quem está a tentar sabotar a missão de exploração dos seres humanos" foi sinceramente desapontante.

Opinião: Uma Noite para se Render (Tessa Dare)

Uma Noite para se Render de Tessa Dare
Editora: Topseller (2016)
Formato: Capa mole | 320 páginas
Géneros: Romance histórico
Sinopse.

(Nota: a edição lida foi a inglesa, mas apresentam-se os dados da portuguesa)

Uma Noite para se Render, o primeiro livro da série Spindle Cove, de Tessa Dare, foi já uma leitura do ano passado. Na verdade, comprei a versão original deste livro porque a autora, apesar de nunca ter sido uma das minhas favoritas, é bem cotada entre os leitores de romance histórico e parece ter ideias originais para os seus livros.

Infelizmente, não fiquei grandemente impressionada com esta leitura (assim como já não tinha ficado impressionada com a anterior).

Penso que parte do problema se deve ao facto de eu já ter lido muitos livros dentro deste género; como tal, tenho menos tolerância para os estereotipos que povoam este tipo de obras. E um livro, como este, que acumula tantos clichés é particularmente irritante. Ora, vejamos, temos:

 - Um heroi alto, belo e forte que é torturado pelo facto de não poder voltar para a guerra (pois sofreu um ferimento que impede essa possibilidade) para fazer coisas "másculas" como dar ordens ao seu pelotão, lutar e gritar de forma viril (a la Braveheart ou algo do género);

- Uma heroina que é supostamente "independente" (notem as aspas), especialista nas artes de curar e Muito Competente (tm)... ou seja, uma Mary Sue. Ela ainda é solteira apenas porque é, imagine-se, demasiado alta (e bela, claro) para os padrões do século XIX... afinal, o que se quer por estas alturas são mulheres sem graça e inteligência (e, aparentemente, baixas). A nossa heroina é também torturada, porque, woe, para além de ser uma solteirona tem também problemas com o pai;

- Paixão desmesurada à primeira vista (um olhar e pimba... quero mesmo ir para a cama com ele/ela, ai nunca me senti assim) que serve de base para a história de amor;

- A nossa heroina que supostamente é independente e inteligente, quer secretamente ser dominada por um homem (e não apenas na cama, em todos os aspetos da vida... se fosse só na cama, não me faria tanta impressão);

- O nosso heroi é muito macho e tem muito pensamentos/fantasias de dominância, quer resolver tudo com lutas e é daqueles que gosta da carne mal passada (agora repitam comigo: Arrrr! e imaginem um homem com uma espada na boca);

- A opinião geral de que solteironas inteligentes e criativas precisam mesmo é de um homem machão que as domine (yuck, much?);

- Zero porcento de química entre os protagonistas;

- O enredo (o pouco que há... este livro é maioritariamente composto por uma quase interminável cena de sexo, interrompida por alguns acontecimentos pelo meio) e a narrativa seguem padrões tão previsíveis que a leitura me aborreceu em diversos momentos;

Acho que é bastante óbvio que não gostei assim muito deste livro. Já não é o primeiro da autora que leio e, apesar dos primeiros livros dela (os mais antigos) até terem a sua graça, os últimos têm pendido para a categoria de "tempo perdido". O foco na lúxuria instantânea dos protagonistas é sinceramente aborrecido e, apesar de a escrita ser competente, penso que as personagens e o mundo parecem demasiado "modernos" por vezes, o que estraga também a leitura. Tenho sempre a sensação de que a autora está a tentar fazer algo (ou dizer algo) com as suas heroinas, mas nunca lá chega porque quem vence sempre (ou os valores que vencem sempre) são os dos seus "homens medievais".

Penso que continuarei a ler livros desta autora no futuro (quanto mais não seja porque já comprei mais livros dela, antes de ler este malfadado livro), mas não espero muito.

No geral, não é das autoras que mais recomendaria para quem quer algo diferente dentro dos romances históricos. E, sim, é possível escrever um livro focado no romance e mesmo assim abordar temas interessantes ou relevantes. Veja-se o caso de A Loucura de Lorde Ian MacKenzie, editado em Portugal pela Topseller: é um romance histórico, mas foca-se num tema pouco explorado neste género, a Síndrome de Asperger. E mesmo que os livros sejam puramente romances históricos, sem temas mais sérios, podem ser bons, explorar melhor as personagens, criar uma química mais verosímil e um romance mais realista. Como os romances de Sherry Thomas, por exemplo. 

Se querem uma leitura leve e familiar (cheia de clichés), apostem neste livro. Se, como eu, já são leitores calejados neste género e querem algo diferente, não o recomendo. Mas, como digo, uma opinião vale o que vale. O melhor mesmo é experimentarem. :) 

*Esta opinião foi adaptada da minha crítica original em inglês, publicada no Goodreads em 2015.


Outras opiniões sobre livros da autora no blogue:

Opinião: série Kitty Norville (Carrie Vaughn)

Editora: Grand Central Publishing + Tor
Formato: Bolso + E-book
Géneros: Fantasia Urbana

Já há muito, muito tempo que o blogue não está ativo. Como escrevi em outubro do ano passado, a vontade de me dedicar ao blogue não voltava, parecia quase um sacrifício escrever. Por isso ficou encerrado por termo indefinido.

E, bem, não posso dizer que esteja novamente cheia de vontade de me dedicar a isto como no passado, mas decidi experimentar, para ver o que sai, até porque escrever opiniões, estranhamente, ajuda a acalmar a irritação causada pelo dia a dia (go figure).

A série sobre a qual vou opinar hoje é de um dos meus géneros favoritos (a fantasia urbana) e está terminada, com 14 livros. Foi uma das primeiras séries do género que li, mas parei a leitura porque na altura só tinham saído 4 livros (estão a ver ao tempo que isto foi). Este ano decidi reler os quatro primeiros e ler o resto. Até agora, li 10 livros e já tenho mais ou menos uma ideia do que vai acontecer.

Kitty Norville foi mordida por um lobisomem depois de uma noite traumática e é acolhida pela alcateia de Denver, na qual assume a posição de submissa, uma loba fraca e abaixo de todos as outros. Como tal, tem de ser protegida pelo alfa, Carl, mesmo que isso implica que ele pode ter sexo com ela quando quer e que pode mesmo dar-lhe umas bofetadas.

O único amigo de Kitty (sim, uma lobisomem? Lobimulher? chamada "Kitty", eu sei) é T.J. um lobisomem mais forte do que ela, mas que a trata como mais do que uma cria de lobo a proteger.

7662235Quando Kitty começa inadevertidamente um programa de rádio noturno para onde outros seres sobrenaturais podem ligar, não só despoleta acontecimentos que vão mudar a realidade em todo o mundo como também mudanças nela própria: torna-se mais confiante, mais assertiva. Mas conseguirá Kitty sair da relação abusiva que tem com Carl, o alfa da alcateia?

Esta série é interessante porque todo o mundo evolui. Passo a explicar: na maioria das séries de fantasia urbana, o sobrenatural é algo reconhecido e estabelecido ou então é algo escondido. Esta é a primeira série que leio onde o sobrenatural passa de algo mitológico para algo bem real. Vemos então como as coisas mudam e os humanos se adaptam, o que é super interessante, de um ponto de vista "what if".

13513643Esta série é também interessante porque Kitty, a protagonista, evolui muito significativamente. Não no sentido de ganhar poderes que a tornam superior, mas de uma maneira mais realista, pois cresce como ser humano, o que afeta a sua "submissividade" perante o resto da sua alcateia. E uma coisa que me surpreendeu imenso pela positiva: Kitty nunca se torna super poderosa, apesar de ascender a uma posição de poder. Ela nunca se torna uma "mary sue" super especial com uma herança escondida e poderes diferentes dos do resto dos lobisomens. Não, Kitty não é a mais forte fisicamente, mas é a mais "apta a liderar" pelo que ascende à sua posição de poder e ganha o respeito de outras criaturas sobrenaturais.

Relativamente à história e à mitologia, as mesmas são generalistas. Não são particularmente originais: a história de cada livro é um pequeno mistério paranormal, não muito elaborado; e a mitologia não difere muito da da maioria dos livros de fantasia urbana do mercado: os vampiros são sedutores e hipnóticos, os lobisomens têm regeneração instantânea, as fadas são misteriosas e traiiçoeiras, etc. Nenhuma das "espécies" está grandemente desenvolvida.

No geral, uma série que vale, principalmente pela originalidade do conceito e pelo desenvolvimento das personagens.

Opinião: Erebos (Ursula Poznanski)

Editora: Editorial Presença (2015)
Formato: Capa mole | 379 páginas
Géneros: Ficção científica, Lit. Juvenil, Mistério

Parece que o blogue agora é semanal, com uma opinião nova a cada sábado. Sinceramente não sei quanto tempo será assim, mas chego a casa tarde e sem vontade para abrir o computador depois de 8 horas à frente de um. Enfim, estou numa daquelas fases em que não me apetece muito andar a escrever aqui. Se será permanente, não sei. Ainda gosto de ler, gosto de ir ao Goodreads, mas as opiniões teimam em não querer ser escritas.

Depois desta breve reflexão, que pouco tem a ver com o livro sobre o qual vou escrever, centremo-nos então em "Erebos".

A verdade é que não há grande coisa a dizer. Foi uma leitura rápida, agradável e medianamente interessante, mas não tem profundidade suficiente para ser mais do que isso.

Numa escola de Londres circula um jogo clandestino: Erebos. Os participantes são secretivos e muito, muito viciados.

Nick Dunmore quer saber o que se passa. Quer entrar nesse clube exclusivo e descobrir todos os seus segredos até porque um dos seus amigos ficou enredado e falta à escola, aos treinos de basquetebol e é mal educado quando falam com ele.

Mas conseguirá Nick entrar no mundo de Erebos sem ficar enredado? Conseguirá descobrir o segredo do seu sucesso?

E... a resposta é não à primeira pergunta, que foi o mais irritante do livro. Nick Dunmore começa como uma personagem bastante ajuizada, mas no fundo, assim que tem acesso ao jogo online, fica igualzinho aos outros. Tudo bem que acontecesse, durante algum tempo; mas não é, infelizmente, a inteligência de Nick que o salva, mas sim o facto de ser, a certa altura, expulso do jogo.

"Erebos" foi, como disse, uma leitura medianamente interessante. Um jogo RPG incrivelmente realista corre uma escola de Londres, rodeado de segredo. O mais interessante é que o jogo parece ter influência na vida real, conseguir saltar para fora das fronteiras do computador. Cedo, o nosso personagem principal, Nick, é "convidado" a jogar (mas mantendo segredo do facto dos "não-jogadores") e vê-se sugado para um mundo de fantasia onde tem de lutar para ganhar experiência. Mas não é tudo. A misteriosa personagem do Mensageiro (uma espécie de Mestre do Jogo) dá aos jogadores "missões especiais" que lhes permitem avançar de nível mais rapidamente. Essas missões têm lugar no mundo real e o jogo só "deixa" os jogadores regressarem se completarem as missões.

O livro retrata a cultura dos jogos online e o vício pelos mesmos. A autora cria bastante bem a atmosfera do jogo, mas falha, na minha opinião, em criar algo que parecesse realisticamente interessante para jovens adolescentes, ao ponto de se esquecerem de dormir e de comer, e de ir à escola para jogar.

A identidade do Mensageiro (ou a sua natureza, direi antes) é bastante óbvia, embora também bastante irrealista. Para dizer a verdade, este livro fez-me lembrar o anime Sword Art Online, o que até nem é uma coisa má; mas mostra que a ideia não é propriamente original.

O desfecho foi tão inesperado quanto apressado e, mais uma vez, irrealista (especialmente porque não nos foi dada qualquer pista no sentido daquele final).

No geral, uma leitura interessante quanto baste, mas nada de especial. Um livro direcionado para um público jovem-adulto que teria beneficiado de mais algum desenvolvimento, uma vez que o conceito não é mau de todo.

Opinião: A Lâmina (Joe Abercrombie)

Editora: Gailivro/ 1001 Mundos (2011)
Formato: Capa mole | 624 páginas
Géneros: Fantasia

Mais um livro das minhas prateleiras conquistado.

Este "A Lâmina" é a obra de estreia de Joe Abercrombie, um aclamado escritor de fantasia britânico.

Segue as desventuras de três personagens muito diferentes entre si, que têm todas, aparentemente, a particularidade de serem... más pessoas. Ou pelo menos é o que é apregoado, porque sinceramente nunca me pareceu que qualquer uma delas fosse particularmente malévola... apenas humana.

Logan Novededos é um bárbaro do norte que anda com uma má sorte desgraçada. O seu bando foi atacado e morto às mãos de estranhas criaturas, que denominam "cabeças rasas". E ele próprio anda fugido, quer dessas criaturas, quer do novo, autoproclamado Rei do Norte. Quando um aprendiz de mago lhe diz que o grande Bayaz, o Primeiro dos Magos, pede a sua presença, Logan encolhe os ombros e pensa: "porque não".

Jezal dan Luthar é filho de uma poderosa e nobre família da União, uma potência política e militar encaixada entre o norte (que tem povos reminiscentes dos vikings) e o sul (onde residem povos com uma cultura parecida com a da antiga civilização chinesa, talvez). O seu título militar foi comprado pelo pai e tudo o que Jezal quer fazer é ser um típico adolescente (apesar de não o ser, em idade) e beber, ir para a cama com montes de gajas e, no fundo, curtir a vida. Infelizmente, sem saber bem como acabou inscrito na "Prova" uma competição onde guerreiros combatem por honrarias e prémios.

Glokta, antigo soldado é hoje um Inquisidor de Sua Majestade. Com o corpo e a alma partidos, parece conseguir alguma felicidade em arrancar à pancada e através de tortura, todo o tipo de confissões aos traidores (sejam elas verdade ou não). Vai-se ver metido numa conspiração política cujo objetivo não é claro.

E são estes os heróis improváveis deste livro. Oh... há ainda Ferro Maljinn uma antiga escrava do Imperador (do Sul), cuja especialidade é desancar tudo o que se mexe.

Como já terão podido adivinhar (talvez) pelas minhas descrições algo sarcásticas das personagens, este livro não me encheu, de todo, as medidas. Para uma fantasia épica tão popular e bem cotada, achei que foi extremamente... aborrecida.

Primeiro problema: o mundo. Tão genérico, senhores. As ideias sem qualquer originalidade, os reinos estereotipados, enfim, podia chamar-se "Mundo de fantasia A-3" ou "União" que seria a mesma coisa. Não há descrição que permita a visualização das cidades, da geografia (exceto que no norte está frio e no sul há desertos, I mean, really?), da história... de nada. A mitologia, o pouco que o livro dedica a ela, pareceu-me vagamente interessante e pode ser a única razão pela qual continuarei a ler esta série. De resto... total snoozefest. Pelo menos não há elfos e anões. Ainda.

Segundo problema: as personagens. As suas ações não parecem ter qualquer sentido. O Logan embarca numa viagem para ir conhecer o Primeiro Mago porque... não sei. O Jezal é o mestre da indolência. O Glokta é constantemente usado pelo Inquisidor chefe e sabe que está a ser usado mas não faz mais do que seguir ordens. 

Depois temos o Bayaz, que é um mago Mui Poderoso e que anda de um lado para o outro a intrometer-se em todo o lado e a dizer que é um homem que viveu há eons atrás (e espera que todos acreditem assim, sem mais nem menos).

E nem me ponham a falar da Ferro. A solução dela para tudo é dar porrada em toda a gente. Muito profundo.

Terceiro problema: a história. E qual história, pergunto eu. O livro tem umas impressionantes 624 páginas que são passadas a... apresentar as personagens. I kid you not. Intriga política? Bem, uma coisinha incipiente lá pelo meio, mas apenas para mostrar que o Glokta não tem tomates e que o Bayaz tem todo o direito a interferir em tudo. No fim de tudo, as personagens andam de um lado para o outro a realizar ações perfeitamente corriqueiras: Logan viaja com Bayaz para a capital da União, Jezal treina-se para os Jogos da Fome a Prova e Glokta recebe ordens para torturar pessoas because... razões (que nunca percebemos porque a tal intriga política não leva a lado nenhum e as pessoas torturadas e afastadas não parecem ter assim tanta importância, no final fica tudo em águas de bacalhau). O Bayaz fala numa demanda (uuuuh!) mas isso é só para o segundo livro.

Gosto de personagens desenvolvidas, mas 1) 624 páginas é demais e 2) se realmente se tem de utilizar 624 páginas para o fazer, por favor deem-me personagens que sejam mais do que estereótipos de personagens de fantasia épica (o bárbaro, o guerreiro e o inquisidor) sem profundidade! Vá lá isto não é um RPG online. 

No geral... desapontante. Apenas a mitologia e a promessa da visita a novos mundos me fez ter interesse no segundo livro.