Mostrar mensagens com a etiqueta _Fantasy. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta _Fantasy. Mostrar todas as mensagens

Review: Is It Wrong to Try to Pick Up Girls in a Dungeon? Vol. 1 (Fujino Omori)

Is It Wrong to Try to Pick Up Girls in a Dungeon? Vol. 1 by Fujino Omori
Publisher: Yen Press (2013)
Format: ebook | 216 pages
Genre(s): Fantasy, Light Novel
Synopsis.

This was just... bad on so many levels.

So. Why did I read this book, when it was objectively bad almost from the get-go.

Well, I've watched the anime (all seasons out) and it keeps getting better, but even the first season, that was focused on the whole pick up girls thing was better than this book.

What was bad:

- The writing: it was like reading the actual script for the anime. There were literally parts where the dialogue went as such: "Gwraaht", "!", "...". I have no idea what any of this means, I guess the first one is monsters growling I suppose

- The fact that Bell, the main character was 14 YEARS OLD and all the women interested in him were adults and/or hundreds of years old goddesses. And they referred to the humans as "children" which made it creepier

- The over sexualization of the women by focusing on physical attributes, like Hestia's "ridiculously big boobs" and her childish face

- It's basically a tween's fantasy, but written for adults and that is seriously creepy.

- The plot was nonsensical and thin.

Review: Kill the Queen (Jennifer Estep)

Publisher: Harper Voyager (2018)
Format: ebook | 480 pages
Genre(s): Fantasy

Disclaimer: I thoroughly enjoyed this book.

However... it has so many structural problems, I can't in good conscience give it more than 2 stars. So...

The good:
- The writing: very engaging and the narrator did a decent job at reading it.
- The pace: it was fast-paced and there wasn't time to feel bored.
- The self-discovery journey: while recounted in a cliché manner I liked how Evie reclaimed herself and learned to stand up for what she believed.

The not so good:
- The entire storyline: it was predictable and followed a well-threaded path in urban fantasy books.
- The character development: most of the characters were stereotypes and never got past it - the mwahaha, bully villain, the selfless heroine, the troubled and brooding male lead. More nuanced characters were never explored.
- The magic system: it was explained, but it was too simplistic and just there so people could have magic.
- The world building: was terrible. I was confused the whole time, the world seemed post-medieval (sort of) with swords and castles and nobles, but they had toilets, hot water and showers (how, we're never explained).
In speech the characters drew comparisons with modern things and used modern idioms. Basically there was no world building. This book is plain urban fantasy, the world is just sketched and there to accommodate the characters, it does not stand on his own. There was no effort made to create a sustainable, believable fantasy world.

So these were my impressions of the book. It's deeply flawed but I still enjoyed it as fluff "reading".

Opinião: A Lâmina (Joe Abercrombie)

Editora: Gailivro/ 1001 Mundos (2011)
Formato: Capa mole | 624 páginas
Géneros: Fantasia

Mais um livro das minhas prateleiras conquistado.

Este "A Lâmina" é a obra de estreia de Joe Abercrombie, um aclamado escritor de fantasia britânico.

Segue as desventuras de três personagens muito diferentes entre si, que têm todas, aparentemente, a particularidade de serem... más pessoas. Ou pelo menos é o que é apregoado, porque sinceramente nunca me pareceu que qualquer uma delas fosse particularmente malévola... apenas humana.

Logan Novededos é um bárbaro do norte que anda com uma má sorte desgraçada. O seu bando foi atacado e morto às mãos de estranhas criaturas, que denominam "cabeças rasas". E ele próprio anda fugido, quer dessas criaturas, quer do novo, autoproclamado Rei do Norte. Quando um aprendiz de mago lhe diz que o grande Bayaz, o Primeiro dos Magos, pede a sua presença, Logan encolhe os ombros e pensa: "porque não".

Jezal dan Luthar é filho de uma poderosa e nobre família da União, uma potência política e militar encaixada entre o norte (que tem povos reminiscentes dos vikings) e o sul (onde residem povos com uma cultura parecida com a da antiga civilização chinesa, talvez). O seu título militar foi comprado pelo pai e tudo o que Jezal quer fazer é ser um típico adolescente (apesar de não o ser, em idade) e beber, ir para a cama com montes de gajas e, no fundo, curtir a vida. Infelizmente, sem saber bem como acabou inscrito na "Prova" uma competição onde guerreiros combatem por honrarias e prémios.

Glokta, antigo soldado é hoje um Inquisidor de Sua Majestade. Com o corpo e a alma partidos, parece conseguir alguma felicidade em arrancar à pancada e através de tortura, todo o tipo de confissões aos traidores (sejam elas verdade ou não). Vai-se ver metido numa conspiração política cujo objetivo não é claro.

E são estes os heróis improváveis deste livro. Oh... há ainda Ferro Maljinn uma antiga escrava do Imperador (do Sul), cuja especialidade é desancar tudo o que se mexe.

Como já terão podido adivinhar (talvez) pelas minhas descrições algo sarcásticas das personagens, este livro não me encheu, de todo, as medidas. Para uma fantasia épica tão popular e bem cotada, achei que foi extremamente... aborrecida.

Primeiro problema: o mundo. Tão genérico, senhores. As ideias sem qualquer originalidade, os reinos estereotipados, enfim, podia chamar-se "Mundo de fantasia A-3" ou "União" que seria a mesma coisa. Não há descrição que permita a visualização das cidades, da geografia (exceto que no norte está frio e no sul há desertos, I mean, really?), da história... de nada. A mitologia, o pouco que o livro dedica a ela, pareceu-me vagamente interessante e pode ser a única razão pela qual continuarei a ler esta série. De resto... total snoozefest. Pelo menos não há elfos e anões. Ainda.

Segundo problema: as personagens. As suas ações não parecem ter qualquer sentido. O Logan embarca numa viagem para ir conhecer o Primeiro Mago porque... não sei. O Jezal é o mestre da indolência. O Glokta é constantemente usado pelo Inquisidor chefe e sabe que está a ser usado mas não faz mais do que seguir ordens. 

Depois temos o Bayaz, que é um mago Mui Poderoso e que anda de um lado para o outro a intrometer-se em todo o lado e a dizer que é um homem que viveu há eons atrás (e espera que todos acreditem assim, sem mais nem menos).

E nem me ponham a falar da Ferro. A solução dela para tudo é dar porrada em toda a gente. Muito profundo.

Terceiro problema: a história. E qual história, pergunto eu. O livro tem umas impressionantes 624 páginas que são passadas a... apresentar as personagens. I kid you not. Intriga política? Bem, uma coisinha incipiente lá pelo meio, mas apenas para mostrar que o Glokta não tem tomates e que o Bayaz tem todo o direito a interferir em tudo. No fim de tudo, as personagens andam de um lado para o outro a realizar ações perfeitamente corriqueiras: Logan viaja com Bayaz para a capital da União, Jezal treina-se para os Jogos da Fome a Prova e Glokta recebe ordens para torturar pessoas because... razões (que nunca percebemos porque a tal intriga política não leva a lado nenhum e as pessoas torturadas e afastadas não parecem ter assim tanta importância, no final fica tudo em águas de bacalhau). O Bayaz fala numa demanda (uuuuh!) mas isso é só para o segundo livro.

Gosto de personagens desenvolvidas, mas 1) 624 páginas é demais e 2) se realmente se tem de utilizar 624 páginas para o fazer, por favor deem-me personagens que sejam mais do que estereótipos de personagens de fantasia épica (o bárbaro, o guerreiro e o inquisidor) sem profundidade! Vá lá isto não é um RPG online. 

No geral... desapontante. Apenas a mitologia e a promessa da visita a novos mundos me fez ter interesse no segundo livro.

Opinião: Vision in Silver (Anne Bishop)

Editora: Penguin Publishing Group (2015)
Formato: e-book | 416 páginas
Géneros: Fantasia, Fantasia urbana

Aviso: Spoilers dos livros anteriores
O terceiro livro da série "The Others" introduz, não apenas novas linhas de ação e novos desenvolvimentos, como lida com as consequências das ações levadas a cabo por Simon e os Outros a seu cargo em Murder of Crows, o segundo livro da série.

Os Outros libertaram as cassandra sangue, jovens humanas que conseguem ver o futuro através do derramamento do seu próprio sangue. Tiveram de o fazer, uma vez que estas jovens eram mantidas prisioneiras e o seu dom era oferecido a quem pagasse mais. 

No entanto, isto pode não significar uma melhoria de vida para as cassandra sangue, que sempre viveram em prisões douradas e que sentem dificuldades em adaptar-se às suas novas condições. Para além disso, estas jovens sentem o impulso de se ferirem a si próprias, o que dificulta a tarefas das pessoas que as recolheram, os Intuit.

É por isso que os Intuit pedem ajuda a Simon Wolfgard e aos habitantes do "Courtyard" de Lakeside; afinal, entre eles vive a única cassandra sangue que escapou e consegue viver uma vida relativamente normal: Meg Corbyn. E os Intuit precisam mesmo de ajuda, porque algumas das raparigas estão a suicidar-se. Meg terá de tentar descobrir como ajudá-las a adaptar-se à sua nova vida.

Por outro lado, as tensões entre humanos e Outros adensam-se, com a visibilidade cada vez maior do grupo "Humanos em primeiro e último lugar", que defende que os humanos têm direito a todos os recursos de Thaisia e não devem fazer acordos com os Outros para conseguirem recursos. Simon e o resto da Associação Comercial do "Courtyard", Tess, Vlad e Henry, terão de descobrir quais são os planos do grupo extremista, uma vez que as ações e a agitação contra os Outros estão a crescer nas cidades... e se os Outros que vivem nas "Terras Selvagens" decidirem que os humanos estão a causar demasiados problemas, o seu veredicto será claro: extermínio.

Como sempre, este foi um livro de leitura rápida e compulsiva. Bishop sabe definitivamente como manter a atenção do leitor. Em "Vision in Silver", Meg começa por ter uma visão quando efetua um "corte controlado" para tentar controlar a sua adição a cortar-se. Ela vê perigos para os Outros na crescente animosidade dos humanos para com os Outros.

Para tentar combater isto, Simon tenta criar pontos de entendimento entre humanos e Outros, mas tal revela-se difícil quando se apercebem que um grupo extremista tem um plano bem delineado para fazer com que as pessoas passem fome... e culpem os Outros por isso.

Achei que a narrativa neste livro se dividiu entre demasiadas personagens. Para além de Meg (que aliás aparece pouco no livro), temos Simon, uma cassandra sangue libertada, os Intuit, alguns membros da polícia de Lakeside, entre outros. Talvez a narrativa tenha, por isso, perdido um pouco o foco.

Este livro foi, sem dúvida, um livro que desenvolveu o enredo geral, ou seja, as complicadas relações entre humanos e Outros no continente de Thaisia e qual o caminho que irão tomar em livros subsequentes. Ficámos a saber que existem outras raças de Outros (eh) que não têm qualquer contacto com os humanos e que vampiros, animais inteligentes e elementais que controlam o fogo ou a água não são o pior que anda pelas terras de Namid. Relativamente ao enredo mais específico, relacionado com as personagens (especialmente Meg e Simon), não houve grandes desenvolvimentos, o que foi um bocado desapontante. Mas, mesmo assim, foi uma ótima leitura.

No geral, mais um livro fascinante de Anne Bishop. Apesar do mundo ser uma cópia do nosso, gosto imenso da mitologia que a autora desenvolve e estou a achar esta série muito interessante. Uma obra imprescindível para quem gosta de fantasia urbana e desta autora. Mal posso esperar pelo próximo da série!


Outros livros da série:
  1. Written in Red
  2. Murder of Crows (curta)

Opinião: Warbreaker (Brandon Sanderson)

Warbreaker de Brandon Sanderson
Editora: Gollancz (2012)
Formato: Capa mole | 672 páginas
Géneros: Fantasia
Sinopse.

Aviso: pequenos SPOILERS
O que dizer de Warbreaker? Foi possivelmente o livro que mais me desiludiu de Brandon Sanderson (até agora), o que me fez parar a “Sanderson-fest” que estava a fazer, lendo todos os livros do autor de rajada (a seguir a este ia iniciar a série Stormlight Archive).

Numa terra tropical, existe um reino, Halladren, governado pelo Rei Deus e o seu panteão de Retornados, pessoas que tiveram uma morte heroica e que voltaram como deuses. Os deuses vivem num enclave fechado, em mansões de luxo e são eles que tomam decisões governamentais, ouvem petições e fazem profecias.

Halladren é também uma cidade de magia (o BioChroma), onde feiticeiros denominados “Awakeners” (os que despertam) fazem magia através do Fôlego, algo que todos têm. Cada pessoa tem um Fôlego, mas podem acumular mais para “despertarem” objetos e fazerem funcionar pessoas mortas (que podem ser utilizadas no exército). Quanto mais Fôlegos uma pessoa colecionar, mais feitiços pode fazer mas também melhores serão os seus sentidos.

Não muito longe, em terras montanhosas, situa-se o reino de Idris, formado há 3 séculos pela antiga família imperial de Halladren, depois de terem sido expulsos. Idris é uma terra agreste que considera o estilo de vida de Halladren blasfemo. Mas, para evitar a guerra, o rei de Idris tem de mandar a sua filha, Vivenna, para casar com o Rei Deus.

Siri, a irmã mais nova de Vivenna é, ao contrário da irmã, voluntariosa e rebelde. Nunca ninguém pensaria que seria chamada para uma função importante. Assim, quando o pai troca as voltas a todos, Siri vê-se a caminho de Halladren para casar com o noivo da irmã.

Ao mesmo tempo, fala-se de guerra entre os reinos.

Esta é a história de Vivenna, Siri e de Lightsong, o deus da coragem que não acredita na sua divindade. E, claro, de um rebelde escondido com intenções vagas… rebelde esse que é um mestre na magia do BioChroma e que tem uma espada senciente.

Não consigo precisar bem o que fez com que torcesse o nariz a Warbreaker. Talvez seja o facto de a narrativa me ter parecido algo fragmentada e que se arrastava no tempo sem razão. Algumas partes do livro pareceram-me um pouco supérfluas, para dizer a verdade, muito tempo passado com as ruminações de Vivenna, que me pareceu uma personagem extremamente irritante até quase ao final do livro.

O problema aqui é que as personagens costumam ser um ponto forte dos livros de Sanderson… neste livro; nem por isso. Vivenna é irritante, com a sua mente fechada e a sua parvoíce e apenas se redime um pouco no final; Vasher, que é, supostamente, o herói do livro, mal aparece; e o Rei Deus e Siri poderiam ter sido melhor explorados. A única personagem sobre a qual gostei genuinamente de ler (tirando Nightblood, a espada encantada) foi Lightsong, o deus com dúvidas relativamente ao sistema religioso de Halladren. Gostei imenso desta personagem e de Llarimar o seu sacerdote-chefe. 

O sistema de magia também foi interessante, confesso, mas também não está assim muito desenvolvido. Nunca nos é realmente explicado o que é o BioChroma e como cria os Retornados, por exemplo. 

Achei que ficou muito por explorar neste livro e isso tirou-me um pouco o gosto da leitura, especialmente quando foram gastas tantas páginas em ações mundanas (por exemplo, Vivenna a encontrar-se com malfeitores para tentar sabotar os esforços de guerra de Halladren) e algo aborrecidas.

No geral, uma leitura interessante q.b., mas até agora o livro mais fraco de Sanderson. O mundo deste livro não tem aquela magia que o distingue de tantas outras obras de fantasia épica… confesso também que o facto de haver personagens que são deuses em todos os seus livros começa já a fartar um pouco, apesar da forma inventiva que o autor arranja para os explicar.

Outras obras do autor no blogue:

Opinião: Elantris (Brandon Sanderson)

Editora: Gollancz (2011)
Formato: Capa mole | 615 páginas
Géneros: Fantasia

Elantris, a primeira obra do escritor Brandon Sanderson, transporta-nos a mais um mundo repleto de magia e de intrigas políticas e religiosas.

Elantris foi outrora chamada “A cidade dos deuses”. Povoada por seres de pele prateada e cabelo branco capazes das mais incríveis magias, a cidade era o centro do reino de Arelon e os seus habitantes – seres humanos transformados pelo Shaod – eram venerados como deuses.

Mas algo aconteceu e os habitantes de Elantris perderam a sua magia e tornaram-se seres doentes e repulsivos. O povo de Arelon, sempre invejoso dos seus “deuses”, atacou a cidade e uma classe mercantil tomou conta do reino, instalando-se em Kae, uma das cidades que crescera à sombra de Elantris.

Dez anos mais tarde, a princesa Sarene do reino de Teod prepara-se para viajar para Arelon para se casar com o príncipe Raoden, de forma a que ambos os reinos possam fazer frente à expansão do império de Fjordell e da religião Shu-Dereth.

Quando Sarene chega, percebe que se tornou viúva. E que o reino de Arelon corre grande perigo pois um dos padres do Shu-Dereth, uma religião baseada na ambição e na força, tenta converter as massas. E fazer com que estas odeiem os habitantes de Elantris.

Raoden, por sua vez, passou pelo Shaod e foi fechado na cidade decrépita de Elantris. Privados da sua magia pelo estranho acontecimento de dez anos antes, todos os que sofrem o Shaod se tornam mortos-vivos de pele cinzenta e com chagas, sem cabelo e sem forma de curarem as suas feridas. Isto enlouquece a maioria dos novos habitantes de Elantris, mas Raoden está decidido a resistir e a fazer com que estas pessoas tenham uma vida condigna. Pelo caminho, começa a tentar perceber as razões da queda de Elantris.

Elantris foi uma boa leitura, tal como previa. Gostei bastante das personagens e do mundo desenvolvido por Sanderson. Sarene foi uma personagem divertida de conhecer, pois ela tem um temperamento forte e sabe tomar decisões. Raoden é um bocado perfeito demais (aliás ambas as personagens, Raoden e Sarene, o são), mas mesmo assim é impossível não se gostar dele.

Apesar de ter gostado da leitura, é bastante óbvio que Elantris é a primeira obra de Sanderson. O mundo é mais genérico, menos complexo do que o apresentado na trilogia Mistborn – Nascida das Brumas; as personagens são demasiado “coloquiais” por vezes, tendo em conta que se tratam de princesas, príncipes e nobres e o reino de Arelon, as antigas religiões que fazem parte da trama, o sistema de magia e o passado de Elantris podiam ter sido melhor desenvolvidos.

No entanto, este livro tem já aquela qualidade que nos faz querer ler mais e mais para saber qual é afinal o segredo da queda de Elantris. Que acabamos por saber.

No geral, um bom livro de fantasia, que deu gosto ler, mas que precisava de algumas arestas limadas e mais alguma complexidade ao nível do mundo e das personagens.


Outras obras do autor no blogue:

Opinião: As Fadas de Edimburgo (Elizabeth May)

Editora: Planeta (2014)
Formato: Capa mole | 384 páginas
Géneros: Romance hist., Fant. urbana, Lit. Juv./YA, Ficção cient.
Sinopse: "Lady Aileana Kameron, a única filha do marquês de Douglas, estava destinada a uma vida cuidadosamente planeada em torno dos encontros sociais de Edimburgo - até ao dia em que uma fada assassina a sua mãe. Está determinada a encontrar a fada que lhe matou a mãe e, pelo caminho, vai destruindo todas aquelas que se alimentam dos humanos nas muitas ruelas escuras da cidade. O equilíbrio entre as exigências da alta sociedade e a sua guerra privada é, porém, delicado e, quando um exército de fadas ameaça destruir Edimburgo, ela tem de tomar algumas decisões. O que estará Aileana disposta a sacrificar?"
Já estou sinceramente a ficar farta de escrever opiniões más e “assim-assim”. Ok, eu adoro uma boa sessão de criticismo, especialmente quando o livro não me cativou e/ou chateou mas tudo o que é demais enjoa.

Acho que é esta uma das razões pelas quais não me tem apetecido escrever opiniões. Entre outras, claro, mas esta é importante.

As Fadas de Edimburgo, o primeiro livro de uma nova série “Young Adult” (ou juvenil), é uma mistura de romance histórico e de fantasia urbana. A protagonista, Lady Aileana Kameron é filha de um marquês e depois de uma ocorrência trágica em que a sua mãe morre às mãos de uma fada, Aileana alia-se, não sabemos bem como (nunca nos é explicado) a uma fada chamada Kiaran (um gajo bom e uma fada poderosa) para caçar, todas as noites, fadas malignas como a que matou a sua mãe. Estranhamente, no meio disto tudo, Aileana consegue fazer amizade com um duende (como são chamadas aquelas fadas tipo Sininho neste livro).

Ao mesmo tempo, Aileana tem de manter a sociedade, os seus amigos e o seu pai no escuro acerca das suas atividades.

Ai por onde começar? Talvez pelo conceito. Sim, este livro tem um bom conceito porque a) tem fadas (fae ficaria bem melhor, no entanto), b) steampunk e c) heroína kick-ass!

Mas não resultou porque… a autora falha redondamente tanto na caracterização, como no desenvolvimento do mundo.

Vejamos:
Esta Inglaterra de meados do século XIX parece ter algumas invenções e desenvolvimentos tecnológicos que não existiram realmente. Mas temos alguma razão para isto? Não, não nos é dada qualquer explicação sobre o surgimento de tudo isto. Ok, este é um livro juvenil, mas mesmo assim…

As fadas são seres que se alimentam da energia dos humanos. Mais do que isto, não se sabe. A caracterização destas personagens, tanto enquanto indivíduos como enquanto raça sobrenatural é escassa e a que há, pouco interessante. Porque é que as fadas querem sugar a energia dos humanos? Como eram vistas antigamente? Como estão organizadas? Nada disso se sabe.

Kiaran: é um verdadeiro estereótipo. Diz que não é humano mas comporta-se como tal. Não mostra assim muita emoção, mas isso não o torna diferente dos humanos, apenas um idiota. Não dá para ver como é que passou de ser completamente indiferente a "amar" a protagonista.

Aileana: apesar de ser uma heroína que dá porrada nos mauzões, não gostei particularmente dela. Para já é demasiado perfeita: bonita, rica, sabe construir coisas, etc. E claro que tinha de ser uma "escolhida" super, hiper, mega especial, uma "Falcoeira". Depois é demasiado convencida e antipática.

O romance pareceu-me ter pouco brilho e ser pouco realista. Apesar de Aileana e Kiaran terem “discussões” (nem lhes chamo debates com espírito, porque para isso seria necessário que houvesse conversa espirituosa), nunca senti nenhuma faísca entre os dois.

O enredo está mal desenvolvido, primeiro que tudo porque começamos logo a meio e certas coisas (muitas) não nos são explicadas. As relações entre as personagens já estão estabelecidas e são-nos explicadas através de flashbacks confusos. A história é bastante simplista e pouco interessante no geral.

No geral, uma leitura rápida mas menos intrigante do que previa. Gostaria que a história e as personagens tivessem sido melhor desenvolvidas e que os protagonistas não fossem tão... pouco interessantes.

Opinião: Loveless vols. 1 e 2 (Yun Kouga)

Loveless (vols. 1 e 2) de Yun Kouga
Editora: Viz Media (2012)
Formato: Capa mole | 376 páginas
Géneros: Fantasia, lit, juvenil, manga
Sinopse: "When his beloved older brother is brutally murdered, Ritsuka is heartbroken but determined to search for answers. His only lead is Soubi, a mysterious, handsome college student who offers him an intimate link to his brother’s other life: a dark and vibrant world of spell battles and secret names. Will Ritsuka’s relationship with Soubi ultimately lead to the truth or further down the rabbit hole than he imagined possible?"
"Loveless" é um manga da autoria de Yun Kouga e uma mistura inebriante de vários géneros. Apesar da pouca idade do seu protagonista, aventurar-me-ia a dizer que "Loveless" será apreciado por um público mais velho (a partir dos 15 anos), devido às suas temáticas mais adultas como a dor da perda, a solidão e o abuso.

Ritsuka é um jovem de 12 anos, com um passado trágico. Para além de ter desenvolvido uma persistente amnésia durante os últimos dois anos da sua vida, o seu irmão mais velho, Seimei (com 17 anos), foi recentemente assassinado de forma brutal e a sua família está a desmoronar-se: a mãe está à beira da loucura e exige que "o velho Ritsuka" volte, e o pai prefere sair de casa e refugiar-se no trabalho a ajudar o filho e a protegê-lo dos abusos físicos e psicológicos de uma mãe perturbada.

A história começa quando Ritsuka entra numa nova escola, depois de um incidente na sua escola antiga. Aí vai conhecer uma jovem alegre e determinada, a Yuiko, que insiste em ser sua amiga.

Mas é também aí que conhece Soubi, um estudante universitário que diz ser amigo de Seimei e que professa "amar" Ritsuka.

Esta declaração não é tão alarmante como parece (tendo em conta a disparidade de idades entre Ritsuka e Soubi). Soubi mostra a Ritsuka o mundo oculto em que Seimei se movia. Um mundo em que se travam batalhas ferozes e onde as palavras têm poder. Um mundo onde duplas de guerreiro e sacrifício são um só; e Soubi era o "guerreiro" de Seimei, cujo nome de código era "Beloved" (amado). E as ordens de Seimei foram que, no evento da sua morte, Soubi procurasse Ritsuka e o protegesse (e amasse).

A temática da importância do amor (não apenas romântico, claro) assume um papel fulcral em "Loveless", sendo que os dois irmãos Seimei e Ritsuka, têm denominações opostas. Enquanto Seimei era "Beloved" e a sua relação com Soubi e com todas as outras pessoas pressupunha que era amado, Ritsuka é "Loveless" (sem amor) o que torna a sua relação com Soubi, com a gentil professora da escola e com Yukio estranha e algo novo com que Ritsuka tem dificuldade em lidar. A declaração de Soubi (que tem de "amar", porque é parte do duo "Beloved" e porque Seimei lhe ordenou que amasse Ritsuka), abre novas portas a Ritsuka, que começa a abrir-se para a possibilidade de ser amado e de que as pessoas possam gostar dele.

Ao mesmo tempo, temos elegantes batalhas de palavras que, admito, são bastante menos glamorosas do que magia e efeitos especiais, mas que me agradaram imenso. Neste mundo as palavras magoam. Literalmente.

Nestes dois primeiros volumes, a autora atira-nos um pouco ao acaso para o mundo da "Septimal Moon", uma organização envolta em sombras que parece treinar pessoas para estas batalhas de palavras e magia derivada das mesmas (feitiços). Não nos são dados muitos pormenores e ficamos tão confusos como Ritsuka, que é atirado para o meio das batalhas sem pré-aviso ou explicação. Esta é a parte mais fraca do manga, até agora.

Outra coisa estranha: neste mundo, todas as pessoas nascem com orelhas e caudas, que caem quando se tornam "adultos". Apesar de nunca nos ser dito com exatidão o que significa ser "adulto", é subentendido que isso acontece quando se perde a virgindade. Não consegui, até agora, perceber a relevância desta parte da história, mas provavelmente a autora gosta de desenhar pessoas com orelhas. Eh.

No geral, "Loveless" é um manga complexo e bastante lírico, à sua maneira. Penso que o componente da magia e da fantasia está bem conseguido (se bem que mal explicado) e que se adequa às próprias carências do protagonista, que sofre bastante com as palavras cortantes e cruéis da mãe e com as indiferentes do pai. O tema de "Loveless" é bastante claro: o abuso e o estrago que os seres humanos conseguem trazer uns aos outros com palavras e ações. As personagens representam não só indivíduos como ideias; como o amor, a perda ou a falta de amor. A relação entre os protagonistas é algo estranha, talvez, mas creio não ultrapassar as fronteiras do que é aceitável, em termos culturais (e legais!). Ainda assim diria que este manga não é para todos.

Opinião: Furies of Calderon (Jim Butcher)

Furies of Calderon de Jim Butcher
Editora: Ace (2005)
Formato: Capa mole/bolso | 504 páginas
Géneros: Fantasia
Sinopse.

Sou uma grande fã dos The Dresden Files de Jim Butcher, uma série de fantasia urbana sobre um feiticeiro chamado Harry Dresden que se mete nas maiores complicações possíveis. A série já vai em 15 livros e continua forte, algo que é bastante raro, na minha humilde opinião.

Por isso, porque não experimentar a série de fantasia épica deste autor? E ainda bem que experimentei! Jim Butcher não me desiludiu! Não leio muita fantasia épica, mas desde a trilogia Mistborn que não gostava tanto de um livro do género!

Alera é uma terra fantástica onde os habitantes se unem às fúrias, criaturas elementais que controlam a água, o fogo, o ar, a terra, a madeira e o metal. Qualquer pessoa pode unir-se a uma fúria, mas nem todos treinam para serem Cavaleiros e servirem no exército do First Lord (o imperador de Alera) ou dos High Lords (efetivamente, a nobreza).

Tavi, um jovem de 15 anos, parece ser a única pessoa no mundo sem talento para se unir a uma fúria e controlar um dos elementos. Quando os selvagens chamados Marat, que comem humanos e se unem a totens (animais) para ganharem força invadem o Vale de Calderon, onde as fúrias mais fortes e destruidoras de Alera residem e onde as pessoas têm as vidas mais duras, Tavi terá de se fazer valer da sua inteligência para tentar defender a sua casa e mesmo, possivelmente, o reino.

Ao mesmo tempo Amara, uma jovem Cursor unida a uma fúria do ar, tem de tentar deslindar uma possível conspiração contra o First Lord em que o seu mentor está envolvido.

Existem várias coisas (interligadas) a acontecer em Furies of Calderon. Temos uma conspiração para destronar o First Lord, uma invasão eminente (e secreta) dos Marat às terras de Alera e ainda as tensões cada vez mais altas entre os fazendeiros do Vale de Calderon.

No entanto, Jim Butcher consegue tecer uma história envolvente e coerente com estes "materiais" e dá-nos ainda uma visão geral do mundo de Alera e do seu sistema político, que tem algumas (escassas) parecenças com a antiga Roma imperial (nem que seja só nos nomes e nalguns títulos). Tudo isto sem criar confusão, sem ter tempos mortos e sem abrandar o ritmo.

Furies of Calderon foi uma leitura compulsiva. O mundo criado pelo autor intrigou-me, especialmente as fúrias e todas as outras raças (entre elas os Marat) que existem para além dos humanos. Os protagonistas Tavi, Amara, Bernard e Kitai são interessantes e diversificados.

No geral, uma leitura interessante. Seguirei esta série com gosto.

Opinião: A Princesa Guerreira (Barbara Erskine)

A Princesa Guerreira de Barbara Erskine
Editora: Planeta (2011)
Formato: Capa mole | 670 páginas
Géneros: Mistério, romance contemporâneo, fantasia, ficção histórica
Descrição: "No limiar entre o sonho e a vigília, a loucura e a clarividência, duas mulheres separadas por dois mil anos de História partilham o mesmo segredo, nas encruzilhadas e labirintos de uma perseguição milenar.
Jess, professora em Londres, é vítima de um ataque de que não consegue recordar-se. Tudo indica que o agressor é um homem que a conhece bem. Assombrada pelo medo e pela suspeita, Jess refugia-se na casa isolada da irmã, na fronteira do País de Gales. O silêncio que procura é, porém, interrompido pelo choro de uma misteriosa criança.
A casa, a floresta que a cerca e o vale mais abaixo transportam ecos de uma grande batalha, travada dois mil anos antes. Ali caiu Caratacus, liderando a resistência das tribos da Britânia aos invasores romanos. O rei foi capturado e levado para Roma como prisioneiro, juntamente com a mulher e com a filha, a princesa Eigon.
Sentindo-se impelida a investigar a história de Eigon, Jess segue os seus passos até à Roma de Cláudio e de Nero, onde a princesa assistiu ao grande incêndio, presenciou a perseguição movida aos cristãos e privou com o apóstolo Pedro. Aqui, talvez o mistério da extraordinária vida de Eigon se desvende, ou Jess se abandone progressivamente à sua obsessão, arriscando uma proximidade crescente com o seu agressor."
Ora bem, por onde começar. Talvez pelas expectativas que tinha para este livro. Pela sinopse pareceu-me um livro bem ao estilo da Susanna Kearsley uma autora da qual li dois livros no ano passado e dos quais gostei. Estava à espera de uma narrativa que interligasse passado e presente de forma fluída, com personagens interessantes e uma descrição da época romana que me parecesse viva.

Em vez disso levei com uma história mal amanhada com personagens apenas superficialmente desenvolvidas, um século I d.C. apenas esboçado (e cheio de imprecisões históricas), um enredo confuso e uma dor de cabeça por revirar imenso os olhos (na verdade não, mas suspirei bastante.

Quando era criança, ensinaram-me uma anedota que não tem assim muita piada e que provavelmente não será a mais apropriada tendo em conta as circunstâncias do país (ou talvez seja ideal, quiçá), mas que me permite efetuar uma comparação semi-inteligente. Era mais ou menos assim: era uma vez uma família pobre; o pai era pobre, a mãe era pobre, os filhos eram pobres, o mordomo era pobre, a criada era pobre, o jardineiro era pobre... eram todos pobres.

E este livro é assim mesmo. Substituam "pobre" por confuso e terão este livro bem descrito. Era uma vez um livro... o enredo era confuso, as personagens eram confusas, a construção do mundo era confusa... era tudo uma confusão. Que se prolongava por umas dolorosas 670 páginas.

Então é assim. A nossa protagonista Jess (qualquer coisa) atrai as atenções de um estupor de um homem e infelizmente é violada depois de uma festa. Em vez de ir à polícia decide não contar nada a ninguém e despedir-se do emprego e fugir para a casa da irmã, nas remotas montanhas do País de Gales. Quando lá chega, percebe que o local está assombrado pelas filhas de um rei do século I d.C., chamadas Glads e Eigon. Sem sabermos bem como ela fica determinada a descobrir o percurso de Eigon, que foi levada como prisioneira para Roma, depois do seu pai, Caratacus ter sido derrotado. Esta empatia vem do facto de também Eigon ter sofrido às mãos de um legionário chamado Titus. O livro conta alternadamente a vida de Jess e de Eigon, que têm de fugir dos homens que lhes fizeram mal, em I d.C. e no presente.

Pareceu-me uma história bastante interessante. Não sei muito sobre a conquista romana da Bretanha (?) e na sinopse dizia que Eigon tinha assistido ao incêndio de Roma no tempo de Nero e privado com S. Pedro! Claro que achei altamente!

Mas... enfim, não foi tão impressionante como eu pensei que ia ser. Não consegui sentir empatia por nenhuma das personagens, apesar das suas terríveis experiências. A maioria do livro é preenchido por acontecimentos corriqueiros, especialmente nas partes de Eigon. Jess vai ficando cada vez mais enredada na vida de Eigon acabando (bem cedo no livro) por abandonar a sua racionalidade e pondo inclusive a sua vida em perigo (o homem que a magoou continua atrás dela) só para descobrir o que se passou com Eigon.

As partes de Jess são ligeiramente mais interessantes, mas também há muito recurso a cartas de tarot e a guias espirituais que sinceramente não me pareceram muito vertentes muito bem exploradas (e quando exploradas, foram-no de forma um bocado para o... piroso).

Isto para já não falar da construção do mundo. Jess viaja do País de Gales para Roma mas nunca temos descrições que nos permitam imaginar os cenários. O mesmo se passa na época de Eigon; Roma e Bretanha são descritas de forma incipiente e muitas vezes com pouca precisão. Hades, o deus grego do Submundo é adicionado ao panteão romano, por exemplo e Jesus Cristo está já divinizado para os cristãos, quando nesta época ele era geralmente considerado um profeta e não tanto "o filho de Deus". Até a região celta e o druidismo são explorados apenas de forma superficial.

Nem me façam começar a falar das personagens. Já referi que Eigon e Jess são desinteressantes; o mesmo se passa com o resto do cast das personagens; os amigos e família de Jess são quase indistinguíveis uns dos outros, o interesse amoroso é irritante (e nem sequer quase se percebe como é que as personagens se apaixonam... só estão juntas para aí umas três vezes!) e os vilões são vilões só porque sim. Não há qualquer profundidade nas personagens.

No geral, um livro fraquito. A narrativa não flui bem entre os momentos de presente e passado, as personagens são pouco interessantes, a descrição do mundo deixa a desejar e a leitura torna-se por vezes aborrecida. Por tudo isto, A Princessa Guerreira (que nunca pega numa arma durante todo o livro, creio) não resultou para mim. Recomendo Susanna Kearsley e Diana Gabaldon para quem quer ler livros do género.

Opinião: O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)

O Oceano no Fim do Caminho de Neil Gaiman
Editora: Editorial Presença (2014)
Formato: Capa mole | 184 páginas
Géneros: Fantasia, Fantasia Urbana
Descrição: "Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afeta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral, regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna."
Não sei bem o que dizer deste livro. Nem sei muito bem se "percebi" realmente a essência da história (o que, deixem-me dizer-vos, me deixa super envergonhada). Mas isto só elogia o autor, que conseguiu em O Oceano no Fim do Caminho obscurecer tão bem as linhas entre o que é real e imaginário que nunca sabemos bem se esta história tem realmente elementos fantásticos ou se tudo é fruto da imaginação de um rapaz de 7 anos.

O narrador (sem nome), regressa à sua cidade natal para ir a um funeral e acaba por deambular e lembrar-se de uma determinada altura na sua vida, quando era um rapaz de 7 anos e conheceu as Hempstocks, uma família constituída por avó, mãe e filha.

Nesses dias o rapaz vê muitas coisas maravilhosas mas assustadoras: vermes que se transformam em pessoas, um lago que parece conter um oceano, janelas que mostram diferentes fases da lua e uma mulher que consegue recortar pedaços do tempo.

A perspetiva neste livro é dupla. Primeiro, temos o rapaz, sempre pronto a acreditar na magia e em coisas mágicas e depois temos a perspetiva adulta. Um exemplo é quando a Velha Mrs. Hempstocks "recorta" pedaços do tempo para alterar a memória dos pais do rapaz. Mas será que foi mesmo isso que aconteceu, ou o próprio rapaz fantasiou o que se passou e os pais deixaram-no realmente ir passar a noite na quinta das Hempstocks.

Este tipo de dualidade está presente ao longo do livro, mas como o ponto de vista predominante é o do rapaz, acabamos por ter uma narrativa muito apoiada no fantástico, na magia e na ilusão. A perspetiva de uma criança imaginativa e que lê muito tem mais peso do que os verdadeiros acontecimentos (mas será que são mesmo? Ou será que houve realmente magia envolvida?) do que se passou durante esse tempo.

Uma história de encantar (na verdadeira aceção da palavra) que nos mostra o quão diferentes podem ser os pontos de vista das diversas pessoas envolvidas numa situação. Que nos mostra também como evolve a memória num ser humano com a distância e com o crescimento.
Creio que muito do que se passa no livro é uma metáfora (quando o pai tenta afogar o rapaz por exemplo) misturada com a imaginação própria de uma criança, mas o que é genial acerca deste livro... é que não tenho a certeza. 

No geral uma leitura incrível, algo bizarra que gostaria que tivesse sido maior. Estou pronta para ler mais deste autor.

Curtas: A Murder of Crows e Chimes at Midnight

Volto com mais uma edição das "Curtas", para falar de mais dois livros de fantasia urbana que li este mês. Fazem ambos parte de uma série e foram ambos leituras agradáveis, que me "salvaram" numa altura em que a maioria dos livros em que peguei ficaram por ler.

Murder of Crows by Anne Bishop
Editora: Roc (2014)
Formato: e-book | 369 páginas
Géneros: Fantasia, fantasia urbana

Opinião: Voltamos ao mundo de Thaisia neste segundo volume de "The Others". Meg Corbyn, a cassandra sangue que conhecemos no volume anterior está a viver com os Outros no seu enclave fechado em Lakeside. Com as suas profecias, Meg ajuda os Outros a defenderem-se contra a revolta crescente dos humanos.

Gostei bastante desta leitura que retoma, em parte, a história que já vinha do livro anterior. Meg, a nossa protagonista, uma vidente que vê o futuro de cada vez que corta a pele, vai ajudar os Outros (seres sobrenaturais) a resolverem um mistério sobre duas drogas que andam a fazer com que humanos e outros se descontrolem e lutem. A escalada no nível de violência pode acabar em guerra.

Com uma escrita fluída, "A Murder of Crows" presenteia-nos com uma ação constante e um desenvolvimento regular do mundo e das personagens. Esta combinação faz com que o livro seja de leitura compulsiva, com um imaginário fascinante e um enredo que nos prende. Recomendado.


Editora: Daw (2013)
Formato: Capa mole/bolso | 346 páginas
Géneros: Fantasia urbana

Opinião: Este sétimo volume da série October Daye mergulha novamente nas aventuras de uma meia-fada que tem poderes estranhos mesmo entre os da sua espécie. Desta vez, Toby e o seu "bando" vão ter de destronar a falsa Rainha das Brumas.

Foi mais uma leitura agradável que me permitiu revisitar um mundo do qual gosto muito. No entanto, o enredo deste volume, embora nos forneça mais pistas relativamente aos progenitores da Toby, pareceu-me um pouco aleatório e soube a pouco. Recomendado para os fãs do género e da série, mas o sétimo livro deixou definitivamente, algo a desejar.

Opinião: Os Dilemas do Assassino e O Sangue do Assassino (Robin Hobb)

Golden Fool by Robin Hobb
Editora: Spectra (2003)
Formato: e-book | 576 páginas
Géneros: Fantasia
Descrição: "Prince Dutiful has been rescued from his Piebald kidnappers and the court has resumed its normal rhythms. There FitzChivalry Farseer, gutted by the loss of his wolf bondmate, must take up residence at Buckkeep as a journeyman assassin.
Posing as a bodyguard, Fitz becomes the eyes and ears behind the walls, guiding a kingdom straying closer to civil strife each day. Amid a multitude of problems, Fitz must ensure that no one betrays the Prince’s secret—one that could topple the throne: that he, like Fitz, possesses the dread “beast magic.” Only Fitz’s friendship with the Fool brings him solace. But even that is shattered when devastating revelations from the Fool’s past are exposed. Bereft of support and adrift in intrigue, Fitz finds that his biggest challenge may be simply to survive."
"The Golden Fool", que corresponde, em português ao 2º e ao 3º livros da saga "Regresso do Assassino" (Os Dilemas do Assassino e O Sangue do Assassino), continua a seguir um leque de personagens que conhecemos na trilogia anterior (Fitz, Breu, Kettriken, Moli) e outras que nos foram apresentadas no volume anterior desta segunda (Respeitoso).

Fitz está agora completamente enredado nos problemas dos Visionários que se prendem não apenas com a fação violenta dos Sangue Antigo, de quem salvaram o príncipe Respeitoso, e que ameaça destronar a dinastia reinante mas também com o noivando iminente do príncipe com uma nobre das Ilhas Externas. Por outro lado, Calcede e Vilamonte, duas cidades-estado vizinhas, estão em guerra e isso dificulta o comércio e cria um sentimento de insegurança para os Seis Ducados.

Para além de tudo isto, Fitz tem de lidar com o seu filho adotivo Zar, que parece ter-se perdido de amores por uma mulher que não é apropriada para si e tentar manter a sua identidade secreta enquanto descobre formas de ajudar os Visionário e treina o príncipe no Talento... e o Bobo tem problemas próprios que são um entrave à amizade dos dois.

Este livro mostra a verdadeira mestria de Hobb. O mundo é desenvolvido de forma soberba, com descrições dos diferentes costumes e culturas dos territórios que interagem com os Seis Ducados. Temos também algumas revelações (apenas o suficiente para aguçar a curiosidade) sobre magia antiga, criaturas fascinantes e o que se terá passado num passado longínquo que terá feito desaparecer os Antigos. Infelizmente, este olhar mais aprofundado sobre outros territórios traz novas perguntas e mais desejo da parte do leitor de saber mais.

Achei que todos os pontos da intriga foram bem explorados neste segundo volume. Temos diversos focos, como a guerra entre os territórios vizinhos dos Seis Ducados, uma possível aliança com as Ilhas Externas e uma promessa de mais poder e segredos antigos. Sabemos mais sobre as origens do Bobo e sobre uma adversária temível, que parece estar a conspirar contra ele e a tentar destruir o futuro que o Bobo vê como "sustentável". E o melhor? Estes dois oponentes têm as mesmas características e poderes e o leitor não sabe, até agora, qual deles está "correto".

O sistema de magia, já intrincado, fica cada vez mais complexo, ganha novas nuances, torna-se ainda mais fascinante.

Para quem gosta de intrigas palacianas e políticas com muita magia à mistura, não pode, de todo, deixar de ler estes livros de Robin Hobb. Estou agora impacientemente à espera do último volume, que encomendei em inglês, para ver como a autora vai "atar" todas as pontas desta história.

No geral, um livro que nos prende do princípio ao fim com a sua escrita envolvente, o seu ritmo ao mesmo tempo propício ao detalhe, mas nunca aborrecido, as suas personagens intrigantes e o seu mundo complexo e misterioso que nos faz querer saber cada vez mais.

Opinião: O Regresso do Assassino (Robin Hobb)

O Regresso do Assassino by Robin Hobb
Editora: Saída de Emergência (2011)
Formato: Capa mole | 565 páginas
Géneros: Fantasia
Descrição: "Ele é um bastardo com sangue real.
Ele é um assassino com poderes malditos.
Ele é a única esperança para um reino caído em desgraça.
Atreva-se a entrar num mundo de perfídia e traição que George R. R. Martin apelidou de "genial". Atreva-se a acompanhar um herói que a crítica considerou "único". O Regresso do Assassino é o regresso da grande fantasia épica. Se está à espera de mais do mesmo, este livro não é para si. Caso contrário... bem-vindo a uma aventura que nunca irá esquecer!"
Foi com alguma trepidação que iniciei a leitura desta continuação da Saga do Assassino. A primeira trilogia (divida em 5 volumes em Portugal) foi tão... épica, deixou-me com tanta sede de saber mais sobre o mundo que temi ficar desapontada com esta nova oferenda sobre Fitz. E fiquei, de certo modo... porque mesmo após mais de 500 páginas, continuo com imensas perguntas. E com uma vontade igualmente feroz de saber mais.

FitzCavalaria, o bastardo Manhoso vive em relativa paz há 15 anos. Adotou um jovem órfão chamado (A)Zar e ambos vivem da caça e do pouco que a terra lhes pode oferecer. Fitz usa agora o nome Tomé Texugo e é, para todos os efeitos um cidadão comum dos Seis Ducados. No entanto, sendo Fitz quem é, atrai novos pedidos de ajuda de Breu e do Bobo. Os Visionário, a linhagem reinante dos Seis Ducados, está ameaçada por forças externas, por uma mulher que se considera a verdadeira Profeta Branca. Por isso Fitz vai ver-se de novo envolvido nas intrigas da corte, com o seu amigo Bobo e com Olhos-de-Noite.

Esta leitura foi... intensa. Ao início custou-me a entrar na mesma porque as primeiras 120 páginas foram algo lentas e melancólicas à medida que Fitz revive os últimos 15 anos e tudo o que se passou. Mas, assim que Fitz abandona a sua cabana com o seu fiel lobo e submerge novamente na corte de Torre de Cervo, o livro torna-se de leitura tão compulsiva que tive de me forçar a parar, por vezes. A narrativa em primeira pessoa reforça ainda mais nesta nova trilogia, a ligação do leitor com Fitz.

Neste volume, a magia da Manha é uma parte central do enredo e a ameaça que cai sobre os Seis Ducados. É ao mesmo tempo o problema e a solução e por isso este livro está cheio da magia do Sangue Antigo e da sua beleza selvagem, dos costumes dos que a possuem e das possíveis formas de a perverter. Como tal, temos mais informações sobre os Sangue Antigo e a sua magia, o que me agradou porque era um dos aspetos acerca dos quais tinha alguma curiosidade. E a narrativa sugere que há mais por detrás do que se está a passar, algo que pode ajudar a esclarecer algumas das pontas soltas da última trilogia.

Foi também interessante ler sobre as mudanças em Torre de Cervo e operadas nas personagens que conhecemos em livros anteriores.

No geral, um ótimo começo para uma nova trilogia passada nos Seis Ducados e imprescindível para os fãs da série.

Opinião: Written in Red (Anne Bishop)

Written in Red by Anne Bishop
Editora: NAL Hardcover (2013)
Formato: Capa dura | 433 páginas
Géneros: Fantasia, Fantasia urbana
Descrição: "As a cassandra sangue, or blood prophet, Meg Corbyn can see the future when her skin is cut—a gift that feels more like a curse. Meg’s Controller keeps her enslaved so he can have full access to her visions. But when she escapes, the only safe place Meg can hide is at the Lakeside Courtyard—a business district operated by the Others.
Shape-shifter Simon Wolfgard is reluctant to hire the stranger who inquires about the Human Liaison job. First, he senses she’s keeping a secret, and second, she doesn’t smell like human prey. Yet a stronger instinct propels him to give Meg the job. And when he learns the truth about Meg and that she’s wanted by the government, he’ll have to decide if she’s worth the fight between humans and the Others that will surely follow."
Anne Bishop, a famosa autora da trilogia das Joias Negras, estreia-se na fantasia urbana com esta série intitulada "The Others" (Os Outros).

Meg Corbyn é uma cassandra sangue, ou "profeta de sangue". Viveu toda a sua vida presa num estabelecimento fechado onde ela e outras raparigas como ela são mantidas num ambiente estéril longe de tudo e de todos, apenas usadas pela sua capacidade de fazer profecias quando cortam a sua pele. Mas Meg quer ser mais do que uma ferramenta, uma comodidade por que os ricos pagam para terem acesso a um breve olhar do futuro. Por isso ela foge e refugia-se no único lugar onde estará a salvo dos seus carcereiros: a parte da cidade onde vivem os "Outros", onde a lei humana não se aplica. Mas viver entre os outros não é propriamente conducente a uma vida longa e saudável, pois estes habitantes sobrenaturais desprezam os humanos abertamente.

Sendo uma leitora assídua de fantasia urbana, estava com bastante curiosidade sobre este primeiro livro de Anne Bishop dentro do género. Afinal, gostei imenso da trilogia das Joias Negras e de todo o imaginário criado por Bishop para essa série. Queria saber como lidava a autora com fantasia urbana. E esta aventura não me desiludiu. Passa-se num mundo diferente, certamente (possivelmente para que a autora pudesse explicar com mais facilidade a sua mitologia relativamente aos Outros e aos deuses que compõem o panteão) mas é semelhante em tudo à sociedade que temos hoje em dia em termos políticos, sociais e tecnológicos. A única coisa que difere é que a história deste mundo foi pautada por diversos conflitos entre humanos e os Outros (vampiros, lobisomens, etc.) em que os Outros mostraram repetidamente a sua ferocidade e poder. Por isso, apesar de todas as suas inovações tecnológicas, os humanos vivem com receio destas criaturas sobrenaturais que controlam muitas das forças naturais do planeta. Por sua vez, os Outros, apesar de verem os humanos como 'carne', toleram-nos porque gostam das suas inovações tecnológicas. Assim, estas duas raças vivem uma coexistência tensa.

O mundo não é assim muito original, portanto, mas as personagens compensaram. Os Outros são realmente diferentes, não têm quaisquer escrúpulos em comer ou matar humanos... Ou seja têm uma aura inumana, diferente, não são heróis românticos e torturados mas no fundo humanos e bons. A Meg é um bocado uma Mary Sue ou seja, consegue conquistar todos os Outros com quem se encontra, mas é tão carismática enquanto personagem que isso mal tem importância. Gostei de todas as personagens, Meg, Simon, Vlad, Henry e a Tess (qual será o mistério por detrás desta personagem?) a narrativa é envolvente e mantém o leitor interessado e envolvido emocionalmente.

O enredo foi claramente introdutório, o objetivo era apresentar o mundo e as personagens principais mas a autora prepara o palco para outra história que nos permitirá ir mais fundo neste mundo e saber mais sobre as habilidades de Meg.

No geral, um primeiro livro muito interessante com um mundo que, apesar de semelhante ao nosso, parece ter personagens bem ricas. Irei certamente ler o volume seguinte. Recomendado para fãs da autora e para quem gosta de fantasia urbana.

Opinião: A Demanda do Visionário (Robin Hobb)

A Demanda do Visionário by Robin Hobb
Editora: Saída de Emergência (2010)
Formato: Capa mole | 476 páginas
Géneros: Fantasia
Descrição: "O verdadeiro rei dos Seis Ducados desapareceu numa missão misteriosa em busca dos Antigos para salvar o reino da ameaça dos Navios Vermelhos. O seu irmão usurpador está determinado a impor uma tirania cruel e não abrirá mão do poder, a não ser com a própria morte.
Fitz sabe que a única forma de por fim ao reinado do príncipe usurpador é iniciar uma demanda em direção ao reino das Montanhas onde irá descobrir a verdade sobre as profecias do Bobo. Mas a sua missão enfrenta um novo perigo com a magia do Talento a precipitar a sua alma para a beira do abismo.
Conseguirá resistir à magia e ainda enfrentar os obstáculos que surgem à sua demanda?"
Aviso: SPOILERS
E acabou. A espetacular e épica saga de Fitz, o bastardo de Cavalaria e o assassino do Rei terminou. E terminou em grande (de certa forma), mas também de forma desapontante (nalguns aspetos).

Vamos dividir isto por partes.

O que gostei
1. A Demanda: sendo uma continuação direta do livro anterior, A Vingança do Assassino, este último volume continua a focar-se na longa viagem de Fitz, Panela e seus companheiros para terras há muito não exploradas. Aí, encontram maravilhas da magia e do mito.

Esta parte agradou-me. Ok, as intrigas ficaram nos livros anteriores e este, tal como já tinham ficado no volume anterior, tem mais a estrutura de um livro fantástico tradicional, com uma viagem de um grupo de guerreiros e pessoas corajosas que andam em busca de algo, mas gostei de obter finalmente respostas para tantas das perguntas que se levantaram durante a leitura: Quem são os Antigos? Porque é que os Navios Vermelhos atacaram os Seis Ducados? E qual é a relação disto com a Manha.

A autora presenteou-nos com terras de encantar, com postes mágicos, estradas mágicas, tudo mágico e tão estranho que quase atirei o livro à parede de frustração pelo facto de os nossos heróis não ficarem ali, a explorar, a tentar saber mais sobre o declínio daqueles povos que aparentemente viviam de magia.

2. As personagens: sempre as personagens. A amizade entre o Bobo e Fitz foi bastante bem explorada neste volume o que me agradou pois embora ambos sejam os protagonistas, não tinha ainda vislumbrado uma verdadeira ligação entre eles. Panela, cujos segredos são bastante óbvios quase desde o início, foi mesmo assim uma personagem interessante. E claro, Kettricken, uma heroína subtil mas que está lá, um apoio corajoso e um verdadeiro Sacrifício.

Já não gostei tanto foi de Veracidade. Pareceu-me apagado neste livro. E Fitz conseguiu ser um bocado burrito. Olhos-de-Noite continua a merecer menção como a personagem mais sábia e fofa dos livros.

3. O Desfecho: foi satisfatório. Não ficaram pontas por atar relativamente a esta história em particular.

4. A Magia: a Manha foi algo muito bem pensado. Assim como o Talento, porque não se trata apenas de controlo mental é algo mais subtil, mais lato, algo de que se podem construir estradas.

O que poderia ter sido melhor
1. Os Vilões: porque ofereceram pouca luta e mesmo com justificações para as suas ações pareceram-me simplistas.

Os Navios Vermelhos, a cultura de vingança dos Ilhéus e a forma como os Forjados são "feitos" foi uma das maiores desilusões que tive na série. A autora dá uma explicação apressada sobre estes elementos, mas os Ilhéus mereciam mais. A magia do forjamento merecia mais.

2. A Magia: se foi uma das coisas de que gostei, também foi uma das coisas que me frustrou. Tanto por explicar! O que é, na realidade, o Talento? Tem de ser mais do que controlo da mente, porque a autora assim o diz, mas não nos explica como.

Quem criou os dragões? Foram os Antigos? Os Deuses? São os dragões os Antigos ou não?

3. O Desfecho: Algo apressado. Passou-se pouco tempo a explorar a origem ou natureza dos dragões. Os vilões foram destruídos de forma demasiado sumária. E Robin Hobb, desenvolva o seu mundo! Eu tenho de saber mais sobre os aspetos descritos acima: sobre as motivações dos Ilhéus, sobre a magia do Talento e da Manha e como tudo isso está relacionado com os Antigos!

No fundo foi este o aspeto que mais me desiludiu na saga. A autora foca-se tanto no enredo específico, na personagens de Fitz e do Bobo que apenas refere os elementos do seu mundo quando se relacionam com eles. E assim fica tanta coisa por explicar.

No geral, fiquei um pouco desiludida em algumas partes mas mesmo assim achei este livro fantástico! Esta é sem dúvida uma saga de leitura compulsiva, com um mundo interessante e personagens com todos os traços dos típicos heróis épicos mas também com os defeitos e as fragilidades humanas. Sem dúvida que lerei mais desta autora.

Opinião: A Vingança do Assassino (Robin Hobb)

A Vingança do Assassino by Robin Hobb
Editora: Saída de Emergência (2010)
Formato: Capa mole | 441 páginas
Géneros: Fantasia
Descrição (GR): "FitzCavalaria renasce dos mortos graças à magia desprezada da Manha, mas a sua fuga das garras da morte deixou-o mais selvagem do que humano. Os seus velhos amigos têm que ensiná-lo a ser um homem de novo, e depois deixá-lo escolher o seu próprio destino. Incapaz de esquecer a tortura a que foi submetido às mãos do príncipe usurpador, Fitz planeia vingança enquanto recupera a sua alma e sanidade. Até ao momento em que o seu verdadeiro rei o chama para o servir numa missão misteriosa com consequências inimagináveis. Numa terra arruinada pela ganância e crueldade onde Fitz se tornou uma lenda temida, ele fará tudo para restaurar a verdadeira regência nos Seis Ducados. Mas primeiro terá que escapar dos seus inimigos que lhe movem uma perseguição sem quartel…"
AVISO: Spoilers (mínimos).
"A Vingança do Assassino" é o quarto livro da série "A Saga do Assassino" e corresponde (se não estou em erro) à primeira metade do terceiro livro da trilogia original (cujo título é "The Assassin's Quest"). Penso que o principal problema aqui é que o título é um bocado enganador... uma pessoa lê "A Vingança" e pensa logo que o nosso herói, Fitz, vai andar por aí a utilizar as suas habilidades como assassino para se vingar do rei traidor Majestoso e dos seus pérfidos (mwahahah) seguidores.

O que de facto acontece, pouco ou nada tem a ver com isto. Por isso, creio que o título original faz mais sentido ("A Demanda do Assassino" - eu sei, eu sei, esse é o título do último, mas pronto). Este quarto livro é mais introspetivo e apoia-se mais no clássico enredo dos livros de fantasia: a viagem, a demanda em busca de algo. É um livro mais parado, com poucos momentos de ação onde Fitz vai modelando a sua personalidade, descobrindo quem é, lutando contra os seus impulsos (de criança) de simplesmente se atirar contra os seus inimigos estilo Kamikaze e, em vez disso, pensa mais a longo prazo.

No fundo, este livro foca-se mais no desenvolvimento das personagens principais (menos o Bobo, que está notoriamente ausente... snif), no crescimento do Fitz e de Olhos-de-Noite, no seu amadurecimento e na diversificação das suas experiências.

O vilão, Majestoso, continua a ser bastante simplista e na sua construção, dando a ideia de não passar de um rapazinho mimado (pensem no Joffrey Baratheon, mas adulto e mais sedutor em companhia) e não consigo perceber Vontade e os seus colegas de círculo muito bem, pelo que os considero igualmente simplistas apesar de autora sugerir que há mais por detrás da sua lealdade aparentemente cega a Majestoso. Este é um dos pontos fracos desta série: as motivações dos "vilões" nunca são claramente explicadas; nem sequer nos é dito que são assim porque são pura e simplesmente ambiciosos. Os vilões são vilões porque... são vilões e o seu objetivo é criar conflito para que os heróis da trama possam brilhar. Not cool.

Neste livro, descobrimos também um pouco sobre a Manha e conhecemos outras pessoas que a utilizam. Ficamos a perceber um pouco melhor a relação entre Fitz e Olhos-de-Noite, o laço que os une e como esta capacidade, esta magia, é vista com desconfiança e medo enquanto o Talento (que me parece no fundo, mais invasivo e perigoso) é visto como um poder nobre. A força das perceções é descrita muito claramente neste livro.

No geral, mais uma excelente adição à série. Este livro segue o esquema mais comum do livro de fantasia épica, com a "demanda", a "busca" de Fitz, tanto por um lugar onde pertença como pelo seu rei Veracidade. É um livro de ligação, que estabelece fortemente a personalidade dos protagonistas, Fitz e Olhos-da-Noite e prepara tudo para uma conclusão que se adivinha épica. Não tem tanta ação como os outros livros mas gostei.

Opinião: A Corte dos Traidores (Robin Hobb)

A Corte dos Traidores by Robin Hobb
Editora: Saída de Emergência (2009)
Formato: Capa mole | 348 páginas
Géneros: Fantasia
Descrição (GR): "Os Seis Ducados estão mais vulneráveis do que nunca. Enquanto o príncipe herdeiro combate os Navios Vermelhos com a sua frota e a força do seu Talento, o rei Sagaz enfraquece a cada dia com uma misteriosa doença e bandos de Forjados dirigem-se para Torre do Cervo matando todos pelo caminho.
Mais uma vez, Fitz é chamado para servir como assassino real. Mas o jovem esconde outro segredo: ninguém pode saber que formou um vínculo com um jovem lobo através da magia proibida da Manha e, se for descoberto, arrisca-se a uma sentença de morte.
Quando o príncipe herdeiro embarca numa perigosa missão para pôr fim à ameaça dos Navios Vermelhos, a corte é entregue nas mãos do príncipe Majestoso que tem os seus próprios planos maquiavélicos para o reino. Cabe ao jovem bastardo proteger o verdadeiro rei numa corte prestes a revelar a face dos traidores num clímax memorável."
Neste terceiro volume de A Saga do Assassino, Fitz e o rei expectante Veracidade têm de lutar não apenas contra os misteriosos Navios Vermelhos mas contra as intrigas de Majestoso que de uma forma nada subtil vai tentando aproximar-se cada vez mais do trono.

A segunda metade do segundo volume de The Farsee Trilogy traz-nos de volta a Torre do Cervo. Fitz está agora completamente enredado nas intrigas da corte, que incluem as maquinações de Majestoso. Gostei ainda mais (se possível) deste volume, que se centrou nas já referidas intrigas. Apesar das mesmas serem algo óbvias e de quase todos aqueles que eu esperava se terem revelado "vilões", gostei de ler sobre o jogo de danças e contradanças entre os partidários de Veracidade e de Sagaz e os de Majestoso.

Fitz ganha lentamente protagonismo na sua própria série, afirmando cada vez mais a sua personalidade e lealdade a certos conceitos que lhe foram incutidos por Castro em livros anteriores. Como a narrativa é na primeira pessoa conseguimos ver todos os passos da evolução de Fitz, os seus pensamentos, os seus medos e as suas esperanças.

É também neste terceiro volume que a magia de Fitz (a Manha) se vai desenvolver mais e que ele dá mais alguns passos relativamente ao Talento. Devo dizer que gostei bastante de obter mais informações sobre estes tipos de magia.

Tal como desejava no volume anterior, Kettricken teve um papel mais ativo na narrativa, o que foi bastante bom, uma vez que ela continua a ser uma personagem muito interessante. Quanto ao Bobo, teve um papel mais secundário neste livro e devo dizer que pensei que foi um bocado irritante apesar de continuar com curiosidade acerca das suas capacidades.

O final foi... previsível nalguns aspetos, imprevisível noutros.

No geral, uma obra de leitura compulsiva que apresenta um soberbo desenvolvimento das personagens e um enredo mais intrincado e interessante do que os livros anteriores. Estou com bastante curiosidade relativamente aos Antigos e aos Navios Vermelhos, que ainda não foram explorados pela autora. Fantasia no seu melhor.

Nota sobre a tradução: Devo dizer que as traduções destes livros me agradaram em geral. Por vezes dou com termos completamente estranhos nas traduções, mas estas fluem bastante bem, o que é uma agradável surpresa.