17 julho 2014

Opinião: A Princesa Guerreira (Barbara Erskine)

A Princesa Guerreira de Barbara Erskine
Editora: Planeta (2011)
Formato: Capa mole | 670 páginas
Géneros: Mistério, romance contemporâneo, fantasia, ficção histórica
Descrição: "No limiar entre o sonho e a vigília, a loucura e a clarividência, duas mulheres separadas por dois mil anos de História partilham o mesmo segredo, nas encruzilhadas e labirintos de uma perseguição milenar.
Jess, professora em Londres, é vítima de um ataque de que não consegue recordar-se. Tudo indica que o agressor é um homem que a conhece bem. Assombrada pelo medo e pela suspeita, Jess refugia-se na casa isolada da irmã, na fronteira do País de Gales. O silêncio que procura é, porém, interrompido pelo choro de uma misteriosa criança.
A casa, a floresta que a cerca e o vale mais abaixo transportam ecos de uma grande batalha, travada dois mil anos antes. Ali caiu Caratacus, liderando a resistência das tribos da Britânia aos invasores romanos. O rei foi capturado e levado para Roma como prisioneiro, juntamente com a mulher e com a filha, a princesa Eigon.
Sentindo-se impelida a investigar a história de Eigon, Jess segue os seus passos até à Roma de Cláudio e de Nero, onde a princesa assistiu ao grande incêndio, presenciou a perseguição movida aos cristãos e privou com o apóstolo Pedro. Aqui, talvez o mistério da extraordinária vida de Eigon se desvende, ou Jess se abandone progressivamente à sua obsessão, arriscando uma proximidade crescente com o seu agressor."
Ora bem, por onde começar. Talvez pelas expectativas que tinha para este livro. Pela sinopse pareceu-me um livro bem ao estilo da Susanna Kearsley uma autora da qual li dois livros no ano passado e dos quais gostei. Estava à espera de uma narrativa que interligasse passado e presente de forma fluída, com personagens interessantes e uma descrição da época romana que me parecesse viva.

Em vez disso levei com uma história mal amanhada com personagens apenas superficialmente desenvolvidas, um século I d.C. apenas esboçado (e cheio de imprecisões históricas), um enredo confuso e uma dor de cabeça por revirar imenso os olhos (na verdade não, mas suspirei bastante.

Quando era criança, ensinaram-me uma anedota que não tem assim muita piada e que provavelmente não será a mais apropriada tendo em conta as circunstâncias do país (ou talvez seja ideal, quiçá), mas que me permite efetuar uma comparação semi-inteligente. Era mais ou menos assim: era uma vez uma família pobre; o pai era pobre, a mãe era pobre, os filhos eram pobres, o mordomo era pobre, a criada era pobre, o jardineiro era pobre... eram todos pobres.

E este livro é assim mesmo. Substituam "pobre" por confuso e terão este livro bem descrito. Era uma vez um livro... o enredo era confuso, as personagens eram confusas, a construção do mundo era confusa... era tudo uma confusão. Que se prolongava por umas dolorosas 670 páginas.

Então é assim. A nossa protagonista Jess (qualquer coisa) atrai as atenções de um estupor de um homem e infelizmente é violada depois de uma festa. Em vez de ir à polícia decide não contar nada a ninguém e despedir-se do emprego e fugir para a casa da irmã, nas remotas montanhas do País de Gales. Quando lá chega, percebe que o local está assombrado pelas filhas de um rei do século I d.C., chamadas Glads e Eigon. Sem sabermos bem como ela fica determinada a descobrir o percurso de Eigon, que foi levada como prisioneira para Roma, depois do seu pai, Caratacus ter sido derrotado. Esta empatia vem do facto de também Eigon ter sofrido às mãos de um legionário chamado Titus. O livro conta alternadamente a vida de Jess e de Eigon, que têm de fugir dos homens que lhes fizeram mal, em I d.C. e no presente.

Pareceu-me uma história bastante interessante. Não sei muito sobre a conquista romana da Bretanha (?) e na sinopse dizia que Eigon tinha assistido ao incêndio de Roma no tempo de Nero e privado com S. Pedro! Claro que achei altamente!

Mas... enfim, não foi tão impressionante como eu pensei que ia ser. Não consegui sentir empatia por nenhuma das personagens, apesar das suas terríveis experiências. A maioria do livro é preenchido por acontecimentos corriqueiros, especialmente nas partes de Eigon. Jess vai ficando cada vez mais enredada na vida de Eigon acabando (bem cedo no livro) por abandonar a sua racionalidade e pondo inclusive a sua vida em perigo (o homem que a magoou continua atrás dela) só para descobrir o que se passou com Eigon.

As partes de Jess são ligeiramente mais interessantes, mas também há muito recurso a cartas de tarot e a guias espirituais que sinceramente não me pareceram muito vertentes muito bem exploradas (e quando exploradas, foram-no de forma um bocado para o... piroso).

Isto para já não falar da construção do mundo. Jess viaja do País de Gales para Roma mas nunca temos descrições que nos permitam imaginar os cenários. O mesmo se passa na época de Eigon; Roma e Bretanha são descritas de forma incipiente e muitas vezes com pouca precisão. Hades, o deus grego do Submundo é adicionado ao panteão romano, por exemplo e Jesus Cristo está já divinizado para os cristãos, quando nesta época ele era geralmente considerado um profeta e não tanto "o filho de Deus". Até a região celta e o druidismo são explorados apenas de forma superficial.

Nem me façam começar a falar das personagens. Já referi que Eigon e Jess são desinteressantes; o mesmo se passa com o resto do cast das personagens; os amigos e família de Jess são quase indistinguíveis uns dos outros, o interesse amoroso é irritante (e nem sequer quase se percebe como é que as personagens se apaixonam... só estão juntas para aí umas três vezes!) e os vilões são vilões só porque sim. Não há qualquer profundidade nas personagens.

No geral, um livro fraquito. A narrativa não flui bem entre os momentos de presente e passado, as personagens são pouco interessantes, a descrição do mundo deixa a desejar e a leitura torna-se por vezes aborrecida. Por tudo isto, A Princessa Guerreira (que nunca pega numa arma durante todo o livro, creio) não resultou para mim. Recomendo Susanna Kearsley e Diana Gabaldon para quem quer ler livros do género.

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