Opinião: O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)

O Oceano no Fim do Caminho de Neil Gaiman
Editora: Editorial Presença (2014)
Formato: Capa mole | 184 páginas
Géneros: Fantasia, Fantasia Urbana
Descrição: "Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afeta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral, regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna."
Não sei bem o que dizer deste livro. Nem sei muito bem se "percebi" realmente a essência da história (o que, deixem-me dizer-vos, me deixa super envergonhada). Mas isto só elogia o autor, que conseguiu em O Oceano no Fim do Caminho obscurecer tão bem as linhas entre o que é real e imaginário que nunca sabemos bem se esta história tem realmente elementos fantásticos ou se tudo é fruto da imaginação de um rapaz de 7 anos.

O narrador (sem nome), regressa à sua cidade natal para ir a um funeral e acaba por deambular e lembrar-se de uma determinada altura na sua vida, quando era um rapaz de 7 anos e conheceu as Hempstocks, uma família constituída por avó, mãe e filha.

Nesses dias o rapaz vê muitas coisas maravilhosas mas assustadoras: vermes que se transformam em pessoas, um lago que parece conter um oceano, janelas que mostram diferentes fases da lua e uma mulher que consegue recortar pedaços do tempo.

A perspetiva neste livro é dupla. Primeiro, temos o rapaz, sempre pronto a acreditar na magia e em coisas mágicas e depois temos a perspetiva adulta. Um exemplo é quando a Velha Mrs. Hempstocks "recorta" pedaços do tempo para alterar a memória dos pais do rapaz. Mas será que foi mesmo isso que aconteceu, ou o próprio rapaz fantasiou o que se passou e os pais deixaram-no realmente ir passar a noite na quinta das Hempstocks.

Este tipo de dualidade está presente ao longo do livro, mas como o ponto de vista predominante é o do rapaz, acabamos por ter uma narrativa muito apoiada no fantástico, na magia e na ilusão. A perspetiva de uma criança imaginativa e que lê muito tem mais peso do que os verdadeiros acontecimentos (mas será que são mesmo? Ou será que houve realmente magia envolvida?) do que se passou durante esse tempo.

Uma história de encantar (na verdadeira aceção da palavra) que nos mostra o quão diferentes podem ser os pontos de vista das diversas pessoas envolvidas numa situação. Que nos mostra também como evolve a memória num ser humano com a distância e com o crescimento.
Creio que muito do que se passa no livro é uma metáfora (quando o pai tenta afogar o rapaz por exemplo) misturada com a imaginação própria de uma criança, mas o que é genial acerca deste livro... é que não tenho a certeza. 

No geral uma leitura incrível, algo bizarra que gostaria que tivesse sido maior. Estou pronta para ler mais deste autor.

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