Opinião: Os Altos e Baixos do meu Coração (Becky Albertalli)

Editora: Porto Editora (2018) 
Formato: Capa mole | 288 páginas 
Géneros: Ficção contemporânea, Literatura YA

Ora bem... Os Altos e Baixos do meu Coração. O que dizer sobre este livro? Na verdade, não há assim muito que dizer, exceto que se trata de uma leitura romântica direcionada ao público mais jovem (o atualmente intitulado "Young Adult")

A história centra-se em Molly uma jovem que tem uma boa vida familiar e uma irmã gémea com quem partilha tudo. A família dela não seria, decerto, considerada a mais tradicional (infelizmente), pois tem duas mães que a tiveram, à irmã e ao irmão mais novo através de fertilização in-vitro, mas, no geral, Molly diria que é feliz.

A única coisa que a atrapalha são as suas frequentes paixonetas. Cassie, a irmã gémea, tem andado a contar e foram, durante os 16 anos da vida de Molly... 26.

No entanto, Molly nunca teve um namorado, uma curte, nada. Nunca age quando tem uma paixoneta por ter medo de se magoar. 

Quando Cassie arranja uma namorada, Molly conhece os dois amigos da mesma por arrasto. Será que Molly irá finalmente arranjar um namorado? E será um dos dois rapazes giríssimos que conheceu ou tudo ficará estragado pelos estranhos sentimentos que tem por Reid, o funcionário da loja onde ela também trabalha.

Como disse acima... não há muito a dizer sobre este livro exceto que é romântico, divertido e muito docinho. O suficiente para causar diabetes, quase.

Gostei mais deste livro do que do primeiro livro da autora, O Coração de Simon contra o Mundo. Identifiquei-me tanto, mas tanto com a Molly, com as suas inseguranças e com o seu medo de rejeição. 
Já da Cassie não gostei tanto, achei que foi insensível nalguns momentos para com a irmã e Molly, que supostamente quer ser uma pessoa forte, não reage muito, é muito passiva. 

O meu problema com este livro (e que já tinha tido com o primeiro) é que, apesar de termos muita diversidade (diferentes sexualidades, diferentes tipos de corpo, diferentes etnias, religiões, etc), tudo é tratado com "óculos cor de rosa". Ok, também não tem de ser um drama pesado, mas tendo em conta a sociedade de hoje... Becky Albertalli escreve como se toda a gente fosse super, mega tolerante e como se a diferença não causasse desprezo, desconforto, atitudes ridículas e erradas e tudo o mais. Ok, a rejeição de certas coisas está lá (a tia homofóbica, por exemplo), mas de forma tão camuflada e simplista que não há oportunidade de explorar esta vertente. 

E sendo uma obra para jovens, ainda em "formação", acho que é importante que se retrate a realidade como ela é, que se escreva de forma a que também estes jovens considerem como a sociedade ainda tem muito que evoluir em muitos aspetos. Talvez seja demasiado para esperar de um livro YA e talvez não seja realmente algo que qualquer escritor tenha realmente de fazer (não é nenhuma obrigação); mas seria interessante que o fizessem.  

No geral uma leitura rápida e agradável. Apesar da diversidade apresentada, é um livro com pouca profundidade pois não nos leva a pensar e retrata uma realidade que, a meu ver, não existe. Também me entristeceu que as personagens não crescessem, não se desenvolvessem, não passassem por momentos de angústia; um exemplo: Molly tem problemas com o corpo por ter peso a mais e isto é uma constante ao longo do livro; no entanto, no final ela já se aceitou como é e tudo por causa se um simples acontecimento. Lamento, não é assim que funciona. Enfim, uma leitura fofinha e pouco mais.

Detalhes da versão original:
Título: The Upside of Unrequited
Ano: 2017

Opinião: Um de Nós Mente (Karen M. McManus)

Editora: Gailivro (2018) 
Formato: Capa mole | 334 páginas 
Géneros: Ficção contemporânea, Literatura YA

Um de Nós Mente é a estreia de Karen M. McManus e é um livro de ficção contemporâneo dirigido ao público jovem adulto. Hesito em chamar-lhe um "thriller" porque, de facto, a resolução é bastante simples e acho que a exploração do clima social que se vive durante a adolescência é bastante mais interessante e chamativo do que o mistério em si.

O livro começa com cinco jovens, todos muito diferentes, que apanharam detenção por terem telemóveis ligados durante as aulas. Temos a rapariga estudiosa, o desportista popular, a rainha de beleza com o namorado jogador, o delinquente e o geek curioso que pesca um bocado de computadores e que se entretém a escrever mexericos e a denunciar segredos da escola numa app.

Deveria ser apenas uma detenção; mas não foi. Porque o geek, Simon, morre em frente dos outros quatro são considerados suspeitos e depois de muitos interrogatórios e de ações de alguma intimidação da parte da polícia, decidem tentar perceber o que se passou. No decurso dessa investigação, os segredos de cada um vão sendo revelados; segredos que Simon parecia saber, mas que nenhum deles queria ver tornados públicos. Então... qual deles matou Simon?

Um de Nós Mente foi uma leitura divertida. Como disse, a solução do mistério é quase imediatamente aparente e por isso não foi essa a parte que me puxou. No entanto, a exploração da vida e dos segredos dos protagonistas foi interessante, assim como da vida escolar e de como tudo é tão público, tangível e imediato nos dias de hoje, com as redes sociais e a internet.

Gostei do facto das personagens terem crescido (apesar de de forma superficial) e aceitado que os seus "segredos" eram como uma pedra que os prendia ao fundo do rio e que, depois de conhecidos, os libertaram para serem eles mesmos. 

Gostei muito da viagem de Addy, a rapariga que achava que tinha tudo e que se apercebeu de que estava numa relação emocionalmente abusiva (algo difícil de detetar, por vezes).

Não há muito mais que possa dizer sem revelar partes da história, por isso termino por aqui. Uma leitura interessante em termos de exploração do ambiente social na escola secundária, mas um bocado previsível em termos do mistério.

Detalhes da versão original:
Título: One of Us is Lying
Ano: 2017

Opinião: Verão em Edenbrook (Julianne Donaldson)

Editora: TopSeller (2018) 
Formato: Capa mole | 288 páginas 
Géneros: Romance histórico, ficção histórica 

OMG, uma publicação no blogue! Finalmente conquistei a minha preguicite (mas durante quanto tempo, I wonder)!

"Verão em Edenbrooke" foi uma leitura estranha para mim. Como consumidora ávida de romances históricos mais picantes, esta tentativa de Julianne Donaldson de criar algo mais "clássico", ao estilo de Jane Austen, falhou em imensos aspetos, que irei enumerar a seguir a uma breve descrição da ação.

Marianne Daventry é uma jovem de 17 anos proveniente da baixa nobreza (pelo menos é o que parece). Vive com a avó em Bath após a morte da mãe e de o pai ter "fugido" para Paris para suportar o desgosto. Foi, estranhamente, separada da irmã gémea, Cecily, que foi mandada para Londres.

Marianne aborrece-se em Bath, com a avó sempre a querer que ela se comporte "como uma senhora" e com o pretendente, cujo nome não fixei, mas que é mais velho do que ela e cujo único problema parece ser o de acumular demasiada saliva nos cantos da boca (de resto parece ser um cavalheiro simpático).

Por isso, quando a convidam para passar algum tempo em Edenbrooke, casa de uns amigos de família, Marianne sente-se feliz. Mas o problema é que vai ter muitos tête-a-tête com o anfitrião, o jovem (e belo) Sir Phillip.

Ora bem... o que dizer deste livro? Numa palavra: simplista. A escrita é fácil de ler q.b., mas Verão em Edenbrook tem muito pouco de original. Não só lhe faltam as cenas picantes, como as personagens principais são quase tiradas a papel químico dos famosos heróis de Jane Austen, Elizabeth Bennet e Mr Darcy.

Se não, vejamos: Marianne é um espírito livre (porque gosta de rodopiar e do campo), mas ao mesmo tempo uma senhora recatada e seguidora dos costumes que fica chocada com o facto da irmã trocar uns chochos com um ou outro pretendente. Esta parte moralista desagradou-me um bocado, mas pronto. Já Sir Phillip é um cavalheiro do mais alto gabarito com quem a heroína se dá mal logo de início e com o qual tem muitos debates acesos.

Mas se as características são semelhantes, faltam a Marianne e a Phillip o fogo dos seus modelos. São personagens muito superficiais e pouco desenvolvidas.

O enredo é bastante típico e parece que Donaldson decidiu meter tudo o que é cliché em romance histórico no livro: desentendimentos, mal-entendidos, salteadores, raptos, declarações fervorosas de amor... tudo acontece e mesmo assim, a prosa da escritora não consegue nunca dar-nos um sentimento de urgência, de calor; as emoções não saem do papel, não se concretizam.

No geral, uma leitura "meh". Acabei o livro ontem à noite e os pormenores já se desvanecem da minha mente. Houve algumas falhas de caracterização da época, alguma moralidade incomodativa e de nariz empinado e personagens que não ficam na memória. Poderia tecer muitos e muitos mais comentários à falta de desenvolvimento das personagens e do enredo, à superficialidade de todo o livro, às múltiplas situações que demonstram falta de conhecimento da época da Regência britânica e de como as pessoas se comportavam. Mas não vale a pena; basta dizer que as palavras que melhor caracterizam este livro são "superficial" e "simplista". Uma leitura rápida e, no final, agradável q.b., suponho.

Detalhes da versão original:
Título: Edenbrook
Ano: 2012