Opinião: O Oito

O Oito de Katherine Neville
Editora: Porto Editora (2010)
Formato: Capa Mole | 632 páginas
Géneros: Mistério/ Thriller
Sinopse (Porto Editora): Conta a lenda que os Mouros ofereceram a Carlos Magno um tabuleiro de xadrez que continha a chave para dominar o mundo.
Sul de França, 1790. No auge da Revolução Francesa, o lendário tabuleiro de xadrez de Carlos Magno, oculto há mais de um milénio nas profundezas da Abadia de Montglane, corre o risco de ser descoberto. As suas peças encerram um intricado enigma e quem o decifrar terá acesso a uma antiga fórmula alquímica que lhe concederá um poder ilimitado. Para mantê-las fora do alcance de mãos erradas, as noviças Mireille e Valentine deverão espalhá-las pelos quatro cantos do mundo.
Dois séculos depois, Catherine Velis, uma jovem perita informática, é enviada para a Argélia com o objectivo de desenvolver um software para a OPEP. Nas vésperas da sua partida de Nova Iorque, um negociante de antiguidades faz-lhe uma proposta misteriosa: reunir as peças de um antigo xadrez. Cat vê-se assim envolvida na busca do lendário jogo de xadrez e torna-se numa das peças desta partida milenar, jogada ao longo dos séculos por reis e artistas, políticos e matemáticos, músicos e filósofos, libertinos e o próprio clero. Quem está de que lado? De quem será o próximo lance?
Passado e presente entrecruzam-se magistralmente neste thriller excepcional de uma autora de culto em todo o mundo, considerada a grande precursora dos romances de Dan Brown.
O Oito de Katherine Neville, é uma obra particularmente difícil de criticar, não apenas por ser considerado um livro 'de culto' (se tal existe) dentro do seu género, mas também porque me deixou a mim (como leitora) algo confusa; depois de o ler, fiquei sem saber se havia ou não gostado do livro, das personagens e da história. Após alguns dias de reflexão, decidi que tinha gostado bastante da ideia, mas não muito do resultado final... pois é, O Oito é mais um daqueles livros que tem por detrás um conceito excepcionalmente bom, mas depois falha na transmissão desse conceito ao leitor. Ou seja, a ideia é boa, mas a execução é fraca.

O livro começa de forma extremamente apelativa: em 1790, nos inícios da Revolução Francesa, as freiras do Convento de Montglane vêem-se obrigadas a desenterrar um segredo que guardaram por mais de um milénio. O segredo está contido nas peças de um antigo jogo de xadrez, que pertencera a Carlos Magno e que lhe fora oferecido pelos mouros. A abadessa de Montglane divide as peças pelas freiras e incita-as a fugir e a escondê-las pois se alguém juntar todas as peças ficará na posse de um poder capaz de destronar Reis. Seguimos duas noviças de Montglane, Mireille e Valentine que fogem para Paris com duas das peças... e aí acaba o capítulo.

No capítulo seguinte estamos em 1972 e conhecemos Catherine Velis, progamadora informática. Devido a um erro (leia-se: o facto de Catherine ter integridade), é mandada para a Argélia. Enquanto se prepara para a viagem, Catherine é arrastada para um misterioso Jogo, onde jogadores poderosos se movem para descobrir as peças de um antigo jogo de xadrez, o "Xadrez de Montglane" que se diz possuirem uma fórmula capaz de mudar o balanço de poder no mundo.

Basicamente todo o livro é um gigantesco "Jogo de Xadrez"... ou pelo menos é essa a ideia que a autora quer fazer passar mas fá-lo de forma atabalhoada; a narrativa não é complexa o suficiente para nela se entreverem os movimentos de um jogo de xadrez. Isto porque a autora decidiu contar duas histórias em paralelo: a de Mireille em 1790 e a de Catherine nos anos 70, não desenvolvendo assim a fundo o enredo que envolve a protagonista, Catherine. A história desta pareceu-me escrita de forma apressada, não havendo um desenvolvimento apropriado da trama. Catherine é envolvida no "Jogo" de forma muito idiota e irrealista. Gostei muito mais das aventuras de Mireille no século XVIII.
Penso que teria sido melhor que a autora centrasse todo o enredo no presente (ou melhor, no presente da narrativa, os anos 70 do século XX), fazendo referências à personagem de Mireille apenas; deste modo poderia ter desenvolvido muito melhor as personagens e criado melhor o efeito que pretendia atingir: a de que uma qualquer personagem obscura movia os protagonistas e outras personagens secundárias como Peões num jogo de xadrez.

Até mesmo o final foi decepcionante.

No geral "O Oito" é, como já referi, uma obra com bastante mérito devido à sua ideia original, mas escrita de forma algo fracturada; a interposição das narrativas tornam a leitura algo morosa por vezes, uma vez que quando estamos a entrar na história quer de Mireille quer de Catherine, o capítulo acaba e o próximo fala de uma personagem diferente. Isto para mim tirou ao livro muito do seu encanto.

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