Duas Irmãs, um Rei by Phillipa Gregory
Editora: Civilização Editora (2008)
Formato: Capa mole | 640 páginas
Géneros: Ficção Histórica, Romance
slayra: Também achei o mesmo. Demasiado mimado e juvenil. Acho que a autora não lhe dá crédito suficiente enquanto monarca. Aliás um dos meus problemas com o livro foi exactamente a forma como a autora retrata as personagens. São todas horrorosas em termos de personalidade. A Ana Bolena é especialmente má: manipuladora, uma histérica e aparentemente muito mimada. A inteligência do rei não é tida em grande conta uma vez que a Ana parece ser bastante desequilibrada mas mesmo assim consegue manipulá-lo.
Para um livro tão longo há pouca evolução de personagens, mas vai daí nem a meio da leitura cheguei. Também fiquei com a sensação de que havia muita coisa a acontecer, mas depois fechava o livro e parece que a história pouco ou nada tinha avançado. Não sei se me faço perceber. Li quase 300 páginas e nessas 300 páginas a corte passeou de um lado para o outro, a Maria meteu-se na cama do rei, teve dois filhos e foi trocada pela irmã, tudo isto sob o olhar da Catarina enquanto rezava. E foi isto! Supostamente houve batalhas, negociações com o rei francês e o imperador espanhol, mas disto nada vemos e é isto, que na minha opinião, faz um bom romance histórico. Tentar colocar a protagonista no centro de tudo o que se passa e fazer dela alguém activa, ou que pelo menos tem interesse no que se passa à sua volta. Neste livro isso não acontece, a personagem é a coisa mais passiva que pode haver. Dá ideia que a autora a escolheu apenas porque de toda a família é a única que mantém a cabeça presa ao pescoço e por isso poderia vir a relatar os seus familiares a perderem a sua.
Enquanto personagem, a Maria não tem grande profundidade. Nada de mais lhe acontece: primeiro é um joguete nas mãos da família, mas depois sai de cena e temos a história da Ana. Todos os outros personagens têm os seus problemas: Ana tem as pressões de ser observada e odiada pela corte e pelo rei, o irmão tem de fugir aos seus desejos, mas a Maria... a Maria não tem problemas de maior. O problema deste livro é que não é, de facto, a história de Maria Bolena, mas sim a de Ana Bolena contada de forma ligeiramente diferente.
Até podia ser a história de Ana Bolena pelos olhos da Maria, mas mais interessante. Que mostrasse exactamente o tipo de pressões que Ana sofria. Que a Maria fosse confidente, ou até rival como a sinopse apregoa, da Ana mas se debruçasse mais sobre conflitos internos, a influência que o exterior exercia nela. A Maria acaba por passar um pouco por aquilo que a Ana passa, mas é tão passiva que não questiona, não se queixa (faz birra aqui e ali mas nada mais), obedece e pronto. Tens os livros da Agatha ou do Conan Doyle, eu sei que é um género completamente diferente, mas tem uma personagem, a contar a história que vivem com outra personagem e apesar das capacidades dedutivas menores, não deixam de participar ativamente na história, de se imiscuírem nos problemas que surgem e tal.
O período dos Tudors foi tão rico em mudanças políticas e sociais mas ninguém adivinharia tal coisa, ao ler este livro. Devo dizer no entanto, que o mesmo despertou o meu interesse e decidi ver a série "Os Tudors" (que é tão pouco histórica como o livro e parece mesmo retirar inspiração para algumas cenas do mesmo).
Editora: Civilização Editora (2008)
Formato: Capa mole | 640 páginas
Géneros: Ficção Histórica, Romance
Sinopse (GR): "Duas Irmãs, Um Rei apresenta uma mulher com uma determinação e um desejo extraordinários que viveu no coração da corte mais excitante e gloriosa da Europa e que sobreviveu ao seguir o seu próprio coração.
Quando Maria Bolena, uma rapariga inocente de catorze anos, vai para a corte, chama a atenção de Henrique VIII. Deslumbrada com o rei, Maria Bolena apaixona-se por ele e pelo seu papel crescente como rainha não oficial. Contudo, rapidamente se apercebe de que não passa de um peão nas jogadas ambiciosas da sua própria família. À medida que o interesse do rei começa a desvanecer-se, ela vê-se forçada a afastar-se e a dar lugar à sua melhor amiga e rival: a sua irmã, Ana. Então Maria sabe que tem de desafiar a sua família e o seu rei, e abraçar o seu destino. Uma história rica e cativante de amor, sexo, ambição e intriga."
Recentemente, eu e a Whitelady do blogue "Este meu Cantinho" fizemos uma espécie de leitura conjunta do romance histórico "Duas Irmãs, um Rei" (The Other Boleyn Girl) da autoria de Phillipa Gregory.
O romance retrata a vida na corte do rei inglês Henrique VIII durante a primeira metade do século XVI, através dos olhos de Maria Bolena, a irmã mais nova (algumas fontes pensam que seria a mais velha) da segunda esposa do rei, Ana Bolena.
Com pouca substância histórica e personagens bi-dimensionais, este romance soube a pouco. Trocámos algumas impressões acerca desta obra e apontamos as causas do nosso desencanto com um livro que foi um sucesso a nível internacional e deu mesmo origem a um filme.
slayra: Então, Whitelady, o que te fez pegar neste livro em particular?
Whitelady: Peguei nele porque foi-me emprestado por uma colega de trabalho, e os livros emprestados têm preferência, e porque esperava riscar mais um quadrado no Book Bingo. Tal não aconteceu porque não cheguei a acabá-lo.
Pedi emprestado porque andava de olho neste livro desde que saiu o filme, por isso há anos, não só porque se trata de ficção histórica, que tem sempre um lugarzinho especial nas minhas preferências, mas também porque parecia debruçar-se sobre uma época e personagens que sempre achei serem das mais fascinantes da História. Mas eu devia ter sabido no que me estava a meter quando uma das colegas por quem o livro passou (parece que estamos prestes a formar um grupo de leitura no trabalho, já que há livros que vão passando por um monte de mãos :D ) parecia demorar-se na leitura. Ele até fascina, mas pela insipidez da narrativa.
slayra: Tenho de concordar contigo em relação à insipidez da narrativa. A protagonista, Maria Bolena, parece ter muito poucos miolos, por assim dizer. Ao início pensei que fosse devido à idade (empurrada para os braços do rei aos 13 anos), mas a sua irmã, Ana Bolena pareceu-me bastante mais calculista e cabeça-fria, apesar de ser apenas um ano mais velha.
E quando a protagonista é aquilo que chamo, por falta de melhor termo, uma sonsa, uma pessoa fica realmente com pouca vontade de saber mais. E o facto da história se centrar nas maquinações da família Bolena não torna o enredo mais interessante; nunca se fala assim muito de política apenas de jogos amorosos e dos esforços para atirar ambas as irmãs ao rei.
Por falar em rei, o que achaste do Henrique [VIII]?
Whitelady: Achei-o mimado, cheio de caprichos e aqui deixa-me ressalvar que o retrato da corte até me parece estar bem conseguido. Gostei sobretudo de ver a preocupação em manter o rei entretido e satisfeito, chegando ao cúmulo de toda a gente perder jogos para alimentar o seu ego ou rirem-se apenas quando ele se ria.
Maria Bolena. (Fonte) |
Sim, a Maria deve ser, de toda aquela família, a personagem mais aborrecida que a autora podia ter escolhido para seguir. Começa como uma jovem de 14 anos, casada com alguém que não conhecia aos 12, para que a família pudesse ganhar algo com isso. Ao longo da história (mas vai daí nem metade eu li) acabei por não perceber bem o que ganharam com este casamento. Apoio? Um homem que não se importaria de ser corno manso? O_o E como é estúpida, meu Deus! A vontade que tive de atirar o livro à parede quando o irmão é forçado a explicar-lhe as consequências de o imperador espanhol aprisionar o Papa. *massive eye roll*
A Ana acaba por ser mais inteligente. Acho que se destaca por ter uma ambição desmedida num mundo onde praticamente não há espaço para a mulher, que para pouco mais serve que alegrar a vista e ser usada como peão nas jogadas de corte, contraindo matrimónios ou enfiando-se na cama do rei, por modo a conseguir favores e títulos para toda a família, quase como uma espécie de máfia.
Ana Bolena (Fonte) |
Realmente de política vê-se pouco, quando é uma das épocas mais ricas da História, não só inglesa como europeia (já para não falar mundial com os portugueses a darem novos mundos ao mundo). E diria que mesmo das relações amorosas vê-se muito pouco. É suposto a Ana estar apaixonada pelo Percy (?) e a Maria pelo Henrique, mas acaba por ser mais tell do que show. Nunca nos é mostrado nenhuma ação que nos prove realmente o sentimento. Quanto à Ana, tudo bem ela não dava ponto sem nó e o facto de dizer que estava apaixonada pode não ser bem assim, mas toda a escrita acaba por ter falta de emoção, mesmo no que a ligações familiares diz respeito. A Maria chega mesmo a dizer "Era melhor que ninguém soubesse que eu teria sepultado os Howard, cada um deles excepto Jorge, no grande túmulo da família e nunca o encararia como uma perda." Até me custa acreditar que estavam a trabalhar para a família, parece que só viam o seu próprio umbigo e a sua progressão à custa de um elemento da família mais fraco e com nenhuma iniciativa, ou seja à custa de Maria, que só ganha alguma espinha depois de ter os filhos.
Ela é tão fraca como personagem e acaba por ser fraca como mulher! E não é por falta de bons exemplos. Quer dizer, a irmã tem inteligência, procurava cultivar-se, e a Maria manda-lhe livros à espera que Ana lhe faça resumos em vez de pôr os seus miolos a funcionar. *revira os olhos* Admira Catarina por ser o "embodiment" (esqueço-me da palavra em PT) do que uma rainha deve ser e comportar-se, mas ela enrijece como aquela? Não, deixa toda a gente pisá-la! Bah!
Ana Bolena (Natalie Dormer) na série Os Tudors |
A Maria é realmente aborrecida. É sempre um cordeirinho (ahah), faz tudo o que lhe mandam e nunca se defende. As mulheres eram realmente consideradas seres inferiores, mas algumas faziam pela vida. Parece-me que a Ana Bolena era uma dessas mulheres, e olha o que lhe valeu a inteligência? O ideal da mulher submissa e pouco inteligente (Maria) é considerado, neste livro, escrito no século XXI, como a perfeição. A ambição por parte das mulheres leva apenas ao afastamento. É a mensagem que retiro do livro.
Claro que na época era provavelmente assim. Mas é bastante evidente que a própria autora não gosta da figura da Ana Bolena pelo que a escreveu de forma a que não tivesse qualquer qualidade positiva.
Whitelady: Acho que a autora não dá qualquer qualidade positiva a ninguém e caracteriza de forma bastante extremada para diferenciar as poucas personagens que povoam com mais frequência a narrativa. Não há quase nenhuma personagem com voz própria e só as diferenciamos porque uma é bitchy em comportamentos e como fala, a outra é a mais dócil das criaturas, etc, mas pouco mais sabemos sobre elas. Entre o pai e o tio, por exemplo, nem sequer fazia diferença quem é que estava a falar, porque ambos soavam ao mesmo, mais valia existir apenas um deles.
Ana (Natalie Portman) e Maria (Scarlett Johansson) Bolena (Duas Irmãs, um Rei) |
slayra: É interessante que refiras o porquê da autora ter escolhido esta personagem. A meu ver, penso que se deve muito àquilo que disseste: a Maria é praticamente a única que não morre e que está também intimamente ligada ao rei (há os rumores do rei com a mãe delas, mas... nem quero pensar nisso). E não é uma personagem central pelo que não tem de ter emoções particularmente fortes em relação aos acontecimentos (uma narrativa, na primeira pessoa pela Ana Bolena, seria muito mais complicada de escrever, por exemplo).
Natalie Portman no papel de Ana Bolena (Duas Irmãs, um Rei) |
E ainda acho que se centra demasiado nos jogos sensuais da corte. O período foi tão rico, o Henrique e a Ana Bolena deram início a uma reestruturação da Igreja, mas estes são aqui tratados como factores secundários.
No fundo, a falta de profundidade das personagens e o foco da história não me puxaram. Acho que o livro pende mais para o bodice ripper do que para a ficção histórica.
Whitelady: E mesmo de bodice ripper tem muito pouco.
Por acaso o irmão, o Jorge, foi das personagens que mais curiosidade tive de seguir, sobretudo devido à sua sexualidade algo dúbia (até à parte que li): beija as irmãs como um amante, sente-se repugnado pelos avanços e as ideias/fantasias da mulher, e encontra-se ligado a 2 ou 3 elementos do mesmo sexo. Além disso de toda a família era capaz de ser o que realmente se importava com... bem, com a família. Juntamente com a Catarina, foram as personagens que mais curiosidade tinha em seguir mas acabam por aparecer muito pouco aqui e ali, não tendo sido o suficiente para me forçar a continuar a leitura.
Maria Bolena (Perdita Weeks) em Os Tudors |
Mas pronto, foi uma escolha da autora e parece que acabou por ser uma boa escolha porque há imensa gente que gostou e quem considere mesmo dos melhores livros do género. Eu preciso de algo mais que novela na ficção histórica, leio sobretudo para escape mas não me importo de aprender e era isso que procurava e não tive. Acho que histórias como esta há para aí ao pontapé, ainda que com protagonistas diferentes, mas já que foi com estas queria ver a tal reestruturação da Igreja, como as ideias protestantes foram aproveitadas, como acabou por seccionar a igreja inglesa, com católicos num lado e anglicanos no outro (Thomas More era um dos pensadores mais ilustres e dos que Henrique mais gostava e acabou sem a sua cabeça, meu Deus, e nem nunca me lembro de o ter visto mencionado!), como apesar dos problemas internos Inglaterra estava a cimentar uma importância que viria a ter com Isabel.
Coisa parva mas, a meio da minha meia leitura parecia tanto uma novela daquelas muito más, em que afinal se descobre que o protagonista tem um irmão gémeo malvado ou em que alguém morre e volta à vida para se vingar, depois de ter feito uma plástica ou até tendo mudado o sexo, que cada vez que Ana ia exilada para Hever estava à espera de algo do género! xD E sinceramente isso era capaz de trazer alguma emoção à história. Ou então ela chegar ao trono e mandar cortar a cabeça a toda a sua família, mas não é isso que acontece na História e apesar se este livro se tratar de ficção, não me parece que a autora fosse tão longe. Pena.
Assim sendo, e conhecendo o destino de cada uma das personagens, não me apeteceu ler mais 400 páginas para ver alguém perder a cabeça, por muito que goste de tal coisa. Ainda assim não vou desistir da autora. Sou capaz, caso tropece no livro, de ler o volume dedicado à Catarina. Parece-me que a autora também tem uma série sobre a Guerra das Rosas, que é uma época que conheço menos e o querer conhecer mais pode ser que ajude à leitura.
slayra: Ou seja, no fim, não ficámos encantadas nem com o tema, nem com o foco da narrativa, nem com as personagens.
Parece-me que a falta de acuidade histórica, o facto de a autora se focar numa personagem mais obscura no reinado de Henrique VIII mas não lhe dar uma personalidade de destaque e também o facto de se centrar mais nas intrigas da corte (e nem sequer da forma mais interessante) tiram o brilho a este livro.
Os Tudors |
Sinceramente "Duas Irmãs, um Rei" não me convenceu. Tive com o livro o mesmo problema que tive com "Nefertiti" de Michelle Moran: as personagens são demasiado infantis e maldosas sem qualquer traço positivo que as possa redimir. Por outro lado as personagens não se desenvolvem minimamente ao longo do livro e penso que uma vez que a Maria é a única que acaba feliz, que o livro promove uma imagem errónea das qualidades que se devem prezar numa mulher.
Whitelady - Não Acabei
slayra - 1.5 estrelas
Comentários
Eu acho que passei 300 páginas (vocês falam em 300 páginas aqui algures) chocada com o facto de a família a ter empurrado para a cama do rei e foi exactamente isso que me cativou tanto na história: como é que a ambição ultrapassa o respeito por Maria e algum tipo de sentimento que esta pudesse ter. Pronto e fiquei feliz da vida por ela ter sido a única a ter um final feliz.
Eu acho que naquela época ninguém se importava muito com aquilo que as mulheres queriam... era norma. :/
Eu gostei mais da "Aia da Rainha" da Gregory. :) Este não me cativou tanto porque não gostei muito da Maria. Mas é como digo sempre, se gostássemos todos do mesmo o mundo era um lugar muito aborrecido. xD
Agora ando a ler A Noiva Bórgia e a Sancha é tão o que eu esperava que a Maria fosse...