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Discussão: The Mysterious Death of Miss Austen (Lindsay Ashford)

A White Lady do Este meu cantinho e eu arriscámo-nos a mais uma leitura conjunta. Desta vez, o livro escolhido foi "The Mysterious Death of Miss Austen" (A morte misteriosa de Miss Austen), um livro que esperávamos que fosse um mistério histórico. Eis as nossas impressões.

The Mysterious Death of Miss Austen de Lindsay Ashford
Editora: Honno Press (2011)
Formato: e-book | 320 páginas
Géneros: Ficção histórica, Mistério/Thriller
Descrição (GR): "When Jane Austen dies at the age of just 41, Anne, governess to her brother, Edward Austen, is devastated and begins to suspect that someone might have wanted her out of the way. Now, 20 years on, she hopes that medical science might have progressed sufficiently to assess the one piece of evidence she has - a tainted lock of Jane's hair. Natural causes or murder? Even 20 years down the line, Anne is determined to get to the bottom of the mysterious death of the acclaimed Miss Austen."
ATENÇÃO: Alguns Spoilers

WhiteLady: Woohoo! Nova leitura conjunta! A ver se não me acontece o mesmo que nas duas anteriores, em que não acabei os livros, mas devo dizer que não está famoso! xD Ainda só li 10% e já revirei um pouco os olhinhos. Fiquei com curiosidade quando no GR colocaste o status “As subtle as a train, so far. :P” e realmente quando comecei a ler verifiquei que subtileza não há. Parece haver, no entanto, é muito wishful thinking, daquele que fangirls fazem na medida em que se imaginam a ser importantes ou musas de escritores e actores *sonha acordada com o Tom Hiddleston* mas a autora parece mais do género “eu ajudei a Jane Austen a escrever uma peça de teatro… perdão, queria dizer a minha personagem… a minha personagem ajudou e pode ter desenvolvido outro tipo de relação…” Também há tell em demasia, nada de show, “eu fiz isto, a Jane fez aquilo, a Fanny escreveu isto”.
Jane Austen (1775-1817)
Fonte

Mas isto é as minhas impressões ao fim de, como disse, 10% do e-book.

slayra: Tive as mesmas impressões, deixa lá (nope, não é nada subtil a autora pois não?). Não sei bem a percentagem do livro que li porque a minha versão tem mais páginas do que as listadas no GR, mas até agora não me parece nada de especial. O motivo que se avizinha para o “assassinato”... erm… é pobrezito. O_O Mas bem, a escrita é muito viciante. :/ De qualquer modo não estou a ver bem como a direção da narrativa está a ajudar a solucionar o “mistério”. A autora passa mais tempo a analisar os sentimentos da protagonista pela Jane Austen do que a desenvolver o tal motivo que levará à “misteriosa morte da Miss Austen”. Mas pode ser que melhore. 

O mistério está a parecer-te interessante? Para o discutir, tenho de escrever alguns SPOILERS: Li agora cerca de metade e tudo o que a protagonista tem são suspeitas… ela suspeita que o Henry seja um mulherengo e que tenha uma prole de filhos ilegítimos com as mulheres dos irmãos… sinceramente não sei se valeria a pena matar por isto? Mas também, convém ter em conta a época, suponho. Seria um escândalo doido.

O que me está a agradar mais neste livro é a escrita. Acho que é… envolvente. 
Godmershan Park (Kent), casa de Edward Austen Knight,
irmão de Jane Austen (Fonte).

White_Lady: Realmente, apesar de não gostar assim tanto da escrita, ela é verdadeiramente viciante, ainda que não tenha sido capaz de vencer o meu sono, mas vai daí, poucos autores conseguem vencer o meu sono. O meu problema com a escrita é o tell em vez do show, mas acredito que seja difícil mostrar mais quando a narradora é a protagonista. E uma protagonista self-absorbed que passa mais tempo a suspirar pela Jane e a conjecturar coisas do que propriamente a tomar decisões. Mas yay que lá tomou uma e estou a ler as consequências disso! \o/ Basicamente vou a meio do livro. :P

E não, o mistério não é de todo interessante porque parece tão óbvio! Aquilo quase que não são suspeitas, são factos. Parece que só estão à espera que realmente o Henry ou a Elizabeth gritem aos berros “SIM, ANDAMOS A FAZER FILHINHOS NAS COSTAS DE TODA A GENTE!” O_o Se dá em escândalo, sem dúvida, mas sem ADN e testes de paternidade, seria assim tão difícil ludibriar os outros e dizer que Jane e Anne Sharp estariam erradas? Afinal de contas o Henry é irmão do Edward… Assumo que os dois sejam bastante parecidos, aliás a autora alude várias vezes a como Henry e Jane são parecidos. Mesmo que Edward e Henry não sejam a cara chapada um do outro haverá parecenças, a não ser que um deles também seja apenas meio irmão do outro, terá Mrs Austen andado a brincar aos médicos com outro para além do Mr Austen? :/ Não estamos propriamente a falar dos Lannisters loiros e dos Baratheon morenos… E se isto é válido para matar, epá acho que não, porque lá está parece-me fácil desmentir as duas se Henry e Elizabeth não forem apanhados em flagrante, mas espero que haja uma reviravolta qualquer.

Mas continuando a falar em escândalo, na altura as mulheres tomavam banho de mar despidas?! O_o Entendo os homens, tinham mais liberdade e tal, mas as mulheres? Nem sequer uma camisa quando até em casa era tudo tapado? Acho um pouco demais e algo vanguardista para a Jane Austen tomar banho despida… E a protagonista a pensar se a Jane está solteira pelo mesmo motivo que ela?! Props para a autora por fazer a sua protagonista, aparentemente, ter mais que uma girl crush pela Austen, ainda que com a subtileza de um elefante numa loja de cristais! Acho que talvez seja até mais por isto que estou a ler, não que ache que a Jane corresponda aos sentimentos, mas por explorar (ainda que muito superficialmente) como seria a vida de uma moça atraída por outras moças.

Okay, até agora pensava que era só com a Elizabeth, afinal ele anda com duas cunhadas... *massive eye roll*

slayra: Não faço ideia relativamente a tomarem banho despidas. Mas como era num espaço completamente fechado, talvez? Sempre pensei que, pelo contrário, tomassem banho vestidas. 
Página da primeira edição de
Orgulho e Preconceito (Fonte)
Sim, a exploração desse lado da vida no século XIX até pode ser interessante e como as pessoas viam a sexualidade, como entrava a religião nisto tudo e tudo o mais (mas a autora nem sequer vai por aí), mas tendo em conta que isto é um mistério, esperava que se focasse noutra coisa (como por exemplo, no mistério). :P Acho que há muita angústia por parte da protagonista, toda “Oh woe, a Jane não gosta de mim, choro, ranho, ai ela tocou-me no braço que felicidade, já posso morrer feliz.” E lá mais para o fim torna-se verdadeiramente “creepy” com a protagonista a falar com o fantasma da Jane. Ugh. Obsessive, much? E o mistério, hein? Esse que se lixe. Este livro devia chamar-se “A minha história pessoal com Jane Austen, em que ela eventualmente morre numa idade perfeitamente normal para a época mas que eu acho estranho”. :P

Esse Henry é um safado. Anda com as gajas todas. Mas como disseste, não estou a ver que seja motivo para homicídios. Mas pronto, é ler até ao fim, porque é só no fim (nas últimas 90 páginas, talvez), que o livro se começa a focar no tal mistério que nos prometeram. E o meu e-book tem 403 páginas. 403!

White_Lady: 403? O meu tem 298… O_o E LOL para o título. xD Mas realmente isto é wish fulfillment na sua máxima expressão, parece uma fanfic em que o OTP é Eu/Autora. É interessante ver o que a Jane Austen, figura e livros, cria à sua volta: filmes, retellings (com ou sem zombies e criaturas marinhas), fanfics com o seu nome ou personagens… O dinheiro que ela poderia ter feito em royalties em vez de andar a contar tostões e mudar de casas em Bath! :P

slayra: Bastava ter vivido noutra época e estaria milionária! Seria o equivalente da JK Rowling ou da EL James.  xD Sim, realmente. O que me incomoda acerca do livro é que estas pessoas existiram mesmo. E são personalidades relativamente recentes. A autora do livro está a imputar-lhes falhas muito graves, acusando-os de adultério e assassínio. Sei que é apenas ficção, mas faz-me um bocado de espécie. E o tom “Woe be me” da protagonista também não ajuda. No fundo muito pouco acontece em todo o livro. Temos a protagonista, a Jane Austen, a família da Jane Austen e dias passados a ensinar crianças, a tomar conta de pessoas idosas e em Bath. E só quase no fim é que se fala realmente do mistério. Enfim, não digo que não tenha gostado do livro qb, mas não é nenhuma maravilha… :P

White_Lady: Peço imensa desculpa estar a demorar tanto a ler, mas cansaço! Realmente, só agora (cerca de 75% do livro) é que a coisa parece estar a ganhar ímpeto. E posso dizer o quanto o tempo, os anos que passam, me está a fazer confusão? É que de um momento para o outro parece que passaram 10 anos! O_o

Sim, as falhas de carácter também me estão a fazer comichão e diga-se que nem a Jane Austen se escapa. Eu sei que a autora está a tentar fazer passar a veia crítica da autora em relação à sociedade devido às suas obras e para fazer a personalidade da Jane sobressair como independente e mais moderna que as restantes, mas ontem enquanto lia pareceu-me mesquinha. :/ Só tem coisas boas a dizer da nossa protagonista *revira olhinhos* e, eventualmente, da sua irmã Cassandra.

slayra: No problem. Pois é, o tempo no livro é irregular… e sim, a Jane é um bocado mazinha algumas vezes.

Também me pareceu que o livro se centra em coisas muito triviais e não no mistério… é uma sinopse enganadora.

Então e agora que acabaste o que achaste? No geral? Eu confesso que me senti bastante aliviada, a angústia emocional do livro estava a deixar-me cansada. Teria gostado de um maior ênfase no mistério, talvez porque era disso que estava à espera. :/

Anne Hathaway e James MacAvoy em
Becoming Jane.
White_Lady: Este foi um livro com altos e baixos, e mesmo os altos nunca chegam a ser tão altos assim. Sim, é um livro que cansa, não sei se pela angústia da protagonista ou por ela não ser minimamente interessante. É sempre alguém que observa de longe, faz assumpções com base no que vê e “acha que pode ser” sem realmente ir à procura de factos, esperando que os outros acenem com a cabeça para lhe darem ou não razão. E isso foi chato. Felizmente, quando se torna ativa, isto é quando confronta as pessoas, vê-se uma personagem mais assertiva, que teria sido muito mais interessante de acompanhar.

Também esperava que o mistério tivesse maior destaque mas acaba por ser uma consequência da verdadeira história do livro e por isso com muito pouco mistério à volta. E meu deus, serial killer não?! O_o A certa altura pensei “vão cair todos que nem tordos, não fica Austen para contar a história”. xD

No geral, não me convenceu. A história é minimamente interessante mas a caracterização das personagens deixa muito a desejar.

slayra: Também achei que a protagonista tem os seus momentos, mas são poucos. Ela é, no geral, muito passiva perante os acontecimentos. E o culpado não é assim tão difícil de determinar, por isso suponho que se ela se dedicasse sempre ao mistério, o livro não chegaria às 300 páginas.

De qualquer modo foi o primeiro livro que conseguimos terminar as duas e achar minimamente interessante… será que as leituras conjuntas vão por um novo caminho? xD Gostei mais ou menos.

White_Lady: LOL xD Vai melhorando a cada livro que lemos juntas. :D

Discussão: Nunca me Esqueças (Lesley Pearse)

Apesar da primeira leitura conjunta não ter sido um sucesso (não gostámos muito do livro), eu e a Whitelady (Este meu Cantinho) insistimos com uma segunda edição; desta vez escolhemos o livro Nunca me Esqueças de Lesley Pearse. Cliquem aqui para verem as nossas conclusões sobre o livro. 

Detalhes da edição lida:
Título Original: "Remember Me"
Autor: Lesley Pearse
Série: N/A
Editora: Asa
Data de Publicação: Novembro 2008
Encadernação: Capa Mole
N.º de Páginas: 432
Idioma: Português
Géneros: Ficção Histórica, Romance

Discussão: Duas Irmãs, um Rei (Phillipa Gregory)

Duas Irmãs, um Rei by Phillipa Gregory
Editora: Civilização Editora (2008)
Formato: Capa mole | 640 páginas
Géneros: Ficção Histórica, Romance
Sinopse (GR): "Duas Irmãs, Um Rei apresenta uma mulher com uma determinação e um desejo extraordinários que viveu no coração da corte mais excitante e gloriosa da Europa e que sobreviveu ao seguir o seu próprio coração.
Quando Maria Bolena, uma rapariga inocente de catorze anos, vai para a corte, chama a atenção de Henrique VIII. Deslumbrada com o rei, Maria Bolena apaixona-se por ele e pelo seu papel crescente como rainha não oficial. Contudo, rapidamente se apercebe de que não passa de um peão nas jogadas ambiciosas da sua própria família. À medida que o interesse do rei começa a desvanecer-se, ela vê-se forçada a afastar-se e a dar lugar à sua melhor amiga e rival: a sua irmã, Ana. Então Maria sabe que tem de desafiar a sua família e o seu rei, e abraçar o seu destino. Uma história rica e cativante de amor, sexo, ambição e intriga."
Recentemente, eu e a Whitelady do blogue "Este meu Cantinho" fizemos uma espécie de leitura conjunta do romance histórico "Duas Irmãs, um Rei" (The Other Boleyn Girl) da autoria de Phillipa Gregory.

O romance retrata a vida na corte do rei inglês Henrique VIII durante a primeira metade do século XVI, através dos olhos de Maria Bolena, a irmã mais nova (algumas fontes pensam que seria a mais velha) da segunda esposa do rei, Ana Bolena.

Com pouca substância histórica e personagens bi-dimensionais, este romance soube a pouco. Trocámos algumas impressões acerca desta obra e apontamos as causas do nosso desencanto com um livro que foi um sucesso a nível internacional e deu mesmo origem a um filme.


slayra: Então, Whitelady, o que te fez pegar neste livro em particular?

Whitelady: Peguei nele porque foi-me emprestado por uma colega de trabalho, e os livros emprestados têm preferência, e porque esperava riscar mais um quadrado no Book Bingo. Tal não aconteceu porque não cheguei a acabá-lo.

Pedi emprestado porque andava de olho neste livro desde que saiu o filme, por isso há anos, não só porque se trata de ficção histórica, que tem sempre um lugarzinho especial nas minhas preferências, mas também porque parecia debruçar-se sobre uma época e personagens que sempre achei serem das mais fascinantes da História. Mas eu devia ter sabido no que me estava a meter quando uma das colegas por quem o livro passou (parece que estamos prestes a formar um grupo de leitura no trabalho, já que há livros que vão passando por um monte de mãos :D ) parecia demorar-se na leitura. Ele até fascina, mas pela insipidez da narrativa.

slayra: Tenho de concordar contigo em relação à insipidez da narrativa. A protagonista, Maria Bolena, parece ter muito poucos miolos, por assim dizer. Ao início pensei que fosse devido à idade (empurrada para os braços do rei aos 13 anos), mas a sua irmã, Ana Bolena pareceu-me bastante mais calculista e cabeça-fria, apesar de ser apenas um ano mais velha.

E quando a protagonista é aquilo que chamo, por falta de melhor termo, uma sonsa, uma pessoa fica realmente com pouca vontade de saber mais.  E o facto da história se centrar nas maquinações da família Bolena não torna o enredo mais interessante; nunca se fala assim muito de política apenas de jogos amorosos e dos esforços para atirar ambas as irmãs ao rei.

Por falar em rei, o que achaste do Henrique [VIII]?

Whitelady: Achei-o mimado, cheio de caprichos e aqui deixa-me ressalvar que o retrato da corte até me parece estar bem conseguido. Gostei sobretudo de ver a preocupação em manter o rei entretido e satisfeito, chegando ao cúmulo de toda a gente perder jogos para alimentar o seu ego ou rirem-se apenas quando ele se ria.

Maria Bolena. (Fonte)
Sim, a Maria deve ser, de toda aquela família, a personagem mais aborrecida que a autora podia ter escolhido para seguir. Começa como uma jovem de 14 anos, casada com alguém que não conhecia aos 12, para que a família pudesse ganhar algo com isso. Ao longo da história (mas vai daí nem metade eu li) acabei por não perceber bem o que ganharam com este casamento. Apoio? Um homem que não se importaria de ser corno manso? O_o E como é estúpida, meu Deus! A vontade que tive de atirar o livro à parede quando o irmão é forçado a explicar-lhe as consequências de o imperador espanhol aprisionar o Papa. *massive eye roll*

A Ana acaba por ser mais inteligente. Acho que se destaca por ter uma ambição desmedida num mundo onde praticamente não há espaço para a mulher, que para pouco mais serve que alegrar a vista e ser usada como peão nas jogadas de corte, contraindo matrimónios ou enfiando-se na cama do rei, por modo a conseguir favores e títulos para toda a família, quase como uma espécie de máfia.

Ana Bolena (Fonte)
Realmente de política vê-se pouco, quando é uma das épocas mais ricas da História, não só inglesa como europeia (já para não falar mundial com os portugueses a darem novos mundos ao mundo). E diria que mesmo das relações amorosas vê-se muito pouco. É suposto a Ana estar apaixonada pelo Percy (?) e a Maria pelo Henrique, mas acaba por ser mais tell do que show. Nunca nos é mostrado nenhuma ação que nos prove realmente o sentimento. Quanto à Ana, tudo bem ela não dava ponto sem nó e o facto de dizer que estava apaixonada pode não ser bem assim, mas toda a escrita acaba por ter falta de emoção, mesmo no que a ligações familiares diz respeito. A Maria chega mesmo a dizer "Era melhor que ninguém soubesse que eu teria sepultado os Howard, cada um deles excepto Jorge, no grande túmulo da família e nunca o encararia como uma perda." Até me custa acreditar que estavam a trabalhar para a família, parece que só viam o seu próprio umbigo e a sua progressão à custa de um elemento da família mais fraco e com nenhuma iniciativa, ou seja à custa de Maria, que só ganha alguma espinha depois de ter os filhos.

Ela é tão fraca como personagem e acaba por ser fraca como mulher! E não é por falta de bons exemplos. Quer dizer, a irmã tem inteligência, procurava cultivar-se, e a Maria manda-lhe livros à espera que Ana lhe faça resumos em vez de pôr os seus miolos a funcionar. *revira os olhos* Admira Catarina por ser o "embodiment" (esqueço-me da palavra em PT) do que uma rainha deve ser e comportar-se, mas ela enrijece como aquela? Não, deixa toda a gente pisá-la! Bah!

Ana Bolena (Natalie Dormer) na série Os Tudors
slayra: Também achei o mesmo. Demasiado mimado e juvenil. Acho que a autora não lhe dá crédito suficiente enquanto monarca. Aliás um dos meus problemas com o livro foi exactamente a forma como a autora retrata as personagens. São todas horrorosas em termos de personalidade. A Ana Bolena é especialmente má: manipuladora, uma histérica e aparentemente muito mimada. A inteligência do rei não é tida em grande conta uma vez que a Ana parece ser bastante desequilibrada mas mesmo assim consegue manipulá-lo.

A Maria é realmente aborrecida. É sempre um cordeirinho (ahah), faz tudo o que lhe mandam e nunca se defende. As mulheres eram realmente consideradas seres inferiores, mas algumas faziam pela vida. Parece-me que a Ana Bolena era uma dessas mulheres, e olha o que lhe valeu a inteligência? O ideal da mulher submissa e pouco inteligente (Maria) é considerado, neste livro, escrito no século XXI, como a perfeição. A ambição por parte das mulheres leva apenas ao afastamento. É a mensagem que retiro do livro.

Claro que na época era provavelmente assim. Mas é bastante evidente que a própria autora não gosta da figura da Ana Bolena pelo que a escreveu de forma a que não tivesse qualquer qualidade positiva. 

Whitelady: Acho que a autora não dá qualquer qualidade positiva a ninguém e caracteriza de forma bastante extremada para diferenciar as poucas personagens que povoam com mais frequência a narrativa. Não há quase nenhuma personagem com voz própria e só as diferenciamos porque uma é bitchy em comportamentos e como fala, a outra é a mais dócil das criaturas, etc, mas pouco mais sabemos sobre elas. Entre o pai e o tio, por exemplo, nem sequer fazia diferença quem é que estava a falar, porque ambos soavam ao mesmo, mais valia existir apenas um deles. 

Ana (Natalie Portman) e Maria (Scarlett Johansson)
Bolena (Duas Irmãs, um Rei)
Para um livro tão longo há pouca evolução de personagens, mas vai daí nem a meio da leitura cheguei. Também fiquei com a sensação de que havia muita coisa a acontecer, mas depois fechava o livro e parece que a história pouco ou nada tinha avançado. Não sei se me faço perceber. Li quase 300 páginas e nessas 300 páginas a corte passeou de um lado para o outro, a Maria meteu-se na cama do rei, teve dois filhos e foi trocada pela irmã, tudo isto sob o olhar da Catarina enquanto rezava. E foi isto! Supostamente houve batalhas, negociações com o rei francês e o imperador espanhol, mas disto nada vemos e é isto, que na minha opinião, faz um bom romance histórico. Tentar colocar a protagonista no centro de tudo o que se passa e fazer dela alguém activa, ou que pelo menos tem interesse no que se passa à sua volta. Neste livro isso não acontece, a personagem é a coisa mais passiva que pode haver. Dá ideia que a autora a escolheu apenas porque de toda a família é a única que mantém a cabeça presa ao pescoço e por isso poderia vir a relatar os seus familiares a perderem a sua.

slayra: É interessante que refiras o porquê da autora ter escolhido esta personagem. A meu ver, penso que se deve muito àquilo que disseste: a Maria é praticamente a única que não morre e que está também intimamente ligada ao rei (há os rumores do rei com a mãe delas, mas... nem quero pensar nisso). E não é uma personagem central pelo que não tem de ter emoções particularmente fortes em relação aos acontecimentos (uma narrativa, na primeira pessoa pela Ana Bolena, seria muito mais complicada de escrever, por exemplo).

Natalie Portman no papel de Ana Bolena
(Duas Irmãs, um Rei)
Enquanto personagem, a Maria não tem grande profundidade. Nada de mais lhe acontece: primeiro é um joguete nas mãos da família, mas depois sai de cena e temos a história da Ana. Todos os outros personagens têm os seus problemas: Ana tem as pressões de ser observada e odiada pela corte e pelo rei, o irmão tem de fugir aos seus desejos, mas a Maria... a Maria não tem problemas de maior. O problema deste livro é que não é, de facto, a história de Maria Bolena, mas sim a de Ana Bolena contada de forma ligeiramente diferente.

E ainda acho que se centra demasiado nos jogos sensuais da corte. O período foi tão rico, o Henrique e a Ana Bolena deram início a uma reestruturação da Igreja, mas estes são aqui tratados como factores secundários. 

No fundo, a falta de profundidade das personagens e o foco da história não me puxaram. Acho que o livro pende mais para o bodice ripper do que para a ficção histórica.

Whitelady: E mesmo de bodice ripper tem muito pouco.

Por acaso o irmão, o Jorge, foi das personagens que mais curiosidade tive de seguir, sobretudo devido à sua sexualidade algo dúbia (até à parte que li): beija as irmãs como um amante, sente-se repugnado pelos avanços e as ideias/fantasias da mulher, e encontra-se ligado a 2 ou 3 elementos do mesmo sexo. Além disso de toda a família era capaz de ser o que realmente se importava com... bem, com a família. Juntamente com a Catarina, foram as personagens que mais curiosidade tinha em seguir mas acabam por aparecer muito pouco aqui e ali, não tendo sido o suficiente para me forçar a continuar a leitura.

Maria Bolena (Perdita Weeks) em Os Tudors
Até podia ser a história de Ana Bolena pelos olhos da Maria, mas mais interessante. Que mostrasse exactamente o tipo de pressões que Ana sofria. Que a Maria fosse confidente, ou até rival como a sinopse apregoa, da Ana mas se debruçasse mais sobre conflitos internos, a influência que o exterior exercia nela. A Maria acaba por passar um pouco por aquilo que a Ana passa, mas é tão passiva que não questiona, não se queixa (faz birra aqui e ali mas nada mais), obedece e pronto. Tens os livros da Agatha ou do Conan Doyle, eu sei que é um género completamente diferente, mas tem uma personagem, a contar a história que vivem com outra personagem e apesar das capacidades dedutivas menores, não deixam de participar ativamente na história, de se imiscuírem nos problemas que surgem e tal.

Mas pronto, foi uma escolha da autora e parece que acabou por ser uma boa escolha porque há imensa gente que gostou e quem considere mesmo dos melhores livros do género. Eu preciso de algo mais que novela na ficção histórica, leio sobretudo para escape mas não me importo de aprender e era isso que procurava e não tive. Acho que histórias como esta há para aí ao pontapé, ainda que com protagonistas diferentes, mas já que foi com estas queria ver a tal reestruturação da Igreja, como as ideias protestantes foram aproveitadas, como acabou  por seccionar a igreja inglesa, com católicos num lado e anglicanos no outro (Thomas More era um dos pensadores mais ilustres e dos que Henrique mais gostava e acabou sem a sua cabeça, meu Deus, e nem nunca me lembro de o ter visto mencionado!), como apesar dos problemas internos Inglaterra estava a cimentar uma importância que viria a ter com Isabel.

Coisa parva mas, a meio da minha meia leitura parecia tanto uma novela daquelas muito más, em que afinal se descobre que o protagonista tem um irmão gémeo malvado ou em que alguém morre e volta à vida para se vingar, depois de ter feito uma plástica ou até tendo mudado o sexo, que cada vez que Ana ia exilada para Hever estava à espera de algo do género! xD E sinceramente isso era capaz de trazer alguma emoção à história. Ou então ela chegar ao trono e mandar cortar a cabeça a toda a sua família, mas não é isso que acontece na História e apesar se este livro se tratar de ficção, não me parece que a autora fosse tão longe. Pena.

Assim sendo, e conhecendo o destino de cada uma das personagens, não me apeteceu ler mais 400 páginas para ver alguém perder a cabeça, por muito que goste de tal coisa. Ainda assim não vou desistir da autora. Sou capaz, caso tropece no livro, de ler o volume dedicado à Catarina. Parece-me que a autora também tem uma série sobre a Guerra das Rosas, que é uma época que conheço menos e o querer conhecer mais pode ser que ajude à leitura.

slayra: Ou seja, no fim, não ficámos encantadas nem com o tema, nem com o foco da narrativa, nem com as personagens.

Parece-me que a falta de acuidade histórica, o facto de a autora se focar numa personagem mais obscura no reinado de Henrique VIII mas não lhe dar uma personalidade de destaque e também o facto de se centrar mais nas intrigas da corte (e nem sequer da forma mais interessante) tiram o brilho a este livro.

Os Tudors
O período dos Tudors foi tão rico em mudanças políticas e sociais mas ninguém adivinharia tal coisa, ao ler este livro. Devo dizer no entanto, que o mesmo despertou o meu interesse e decidi ver a série "Os Tudors" (que é tão pouco histórica como o livro e parece mesmo retirar inspiração para algumas cenas do mesmo).

Sinceramente "Duas Irmãs, um Rei" não me convenceu. Tive com o livro o mesmo problema que tive com "Nefertiti" de Michelle Moran: as personagens são demasiado infantis e maldosas sem qualquer traço positivo que as possa redimir. Por outro lado as personagens não se desenvolvem minimamente ao longo do livro e penso que uma vez que a Maria é a única que acaba feliz, que o livro promove uma imagem errónea das qualidades que se devem prezar numa mulher. 

Whitelady - Não Acabei
slayra - 1.5 estrelas