Editora: Balzer + Bray (2012)
Formato: Capa dura | 407 páginas
For Darkness Shows the Stars é um “retelling” ou adaptação (mais ou
menos) de Persuasão, uma das obras de Jane Austen.
Apesar do esqueleto de For Darkness Shows the Stars ser
semelhante ao de Persuasão (ou seja, dois apaixonados que planeiam fugir, mas
cuja fuga acaba por não se concretizar porque a rapariga decide não ir à última
da hora. E toda a desarmonia que daí advém quando os dois protagonistas se
encontram anos mais tarde), a autora, Diana Peterfreund acrescenta toda uma
nova dimensão, decorrente do seu mundo pós-apocalíptico e das diversas
ideologias que o moldam.
Elliott North faz parte de uma classe de nobres, os “Luditas”
(Luddites, no original), que desde que o mundo foi destruído devido a avanços
científicos na área da genética, reinam sobre uma hoste de “Reduzidos” (no
original Reduced), homens e mulheres portadores de deficiência mental, devido a
mudanças no ADN dos seus antepassados.
Os Luditas defendem um estilo de vida simples, sem
tecnologia (que tanto mal causou), de volta às origens. Por isso instituíram um
sistema de classes, em que eles são os nobres, os superiores, uma vez que os
seus antepassados se opunham à modificação genética (segundo nos é dado a
perceber, eram de facto uma seita religiosa) e assim não foram modificados e
escaparam ao flagelo da “redução” (ou seja não tiveram filhos Reduzidos). Como
classe superior, os Luditas acreditam que a sua missão é cuidar do planeta e
dos Reduzidos (o que fazem, obrigando estes últimos a trabalhar nas suas terras)
e proibir o uso de tecnologia (exceto a que lhes dê vantagens, como tratores e
outras máquinas parecidas).
Mas depois de gerações de Reduzidos gerarem mais Reduzidos,
começa a notar-se uma mudança: algumas das crianças já não exibem sinais de
redução, são em tudo… normais. Kai é uma dessas crianças. Ele e Elliott vão
desenvolver uma relação primeiro de amizade e depois de amor. Mas quando Kai
quer abandonar a propriedade dos North juntamente com Elliott ela resiste;
porque apenas ela se importa com as pessoas que vivem na sua propriedade.
Como quem já leu “Persuasão” provavelmente já adivinhou, Kai
volta alguns anos mais tarde, capitão de um navio exploratório cujo objetivo é
explorar o mundo (agora novamente desconhecido). Ele e o conjunto de “Posts”
(pós-redução) que compõem o seu grupo são ricos e heróis para todos os Posts
que continuam presos às terras dos Luditas. Eles alugam um estaleiro na terra
dos North, que estão a precisar de dinheiro.
Kai está muito zangado com Elliott por o ter abandonado
quatro anos antes. Mas, ao contrário de que acontece em Persuasão, a recusa de
Elliott não se dá apenas devido a uma indecisão mas sim porque, sendo Ludita,
Elliott acredita nos valores religiosos dos mesmos (apesar de ter uma mente
mais aberta) e sabe que tem de cuidar dos que vivem nas terras dos North.
For Darkness Shows the Stars apresenta-nos a história romântica
de Persuasão, mas adiciona-lhe uma batalha interior da parte de Elliott
relativamente àquilo em que acredita e se os valores em que baseou a sua vida
estarão realmente corretos. Não quero com isto dizer que este livro é melhor do
que o “Persuasão”. Apenas que, no fundo, apesar dos aspetos comuns, é um livro
que se consegue distinguir da sua obra de inspiração.
Achei Elliott uma personagem fantástica. Não é perfeita e
sabe-o. É algo intolerante mas bondosa (como a maioria dos seres humanos no
planeta, suponho) e luta para ser o melhor possível. Está aberta a novas ideias
(pelo menos mais para o final do livro), o que é ótimo. Cresce enquanto
personagem.
Kai é… bem, foi a personagem que me desapontou mais. É
irritante e chega a ser mau. Para além disso não é nem de perto nem de longe
tão intenso como o Capitão Wentworth da obra original.
No geral, um livro bastante bem escrito e interessante.
Adorei o mundo criado pela autora, a doutrina religiosa que rege este mundo e
sobretudo a forma como introduziu o velho e contínuo debate sobre até onde
devemos ir com o nosso progresso científico e se as razões que damos para o
mesmo (melhorar a vida das pessoas, por exemplo) justificam tudo. As
personagens também me cativaram, especialmente a Elliott. O Kai teve algumas
atitudes parvas mas não desgostei dele, no geral. Também achei muito
interessante a forma como a autora desenvolve a relação entre a Elliott e o Kai
através das cartas que escrevem um ao outro ao longo dos anos.
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