Opinião: Carmilla (Joseph Sheridan Le Fanu)

Editora: Quadra (2010)
Formato: Capa mole | 152 páginas
Géneros: Fantasia Urbana, Conto

(A edição original está em inglês, mas apresentam-se os dados da portuguesa).
Numa altura em que estava a pender para as histórias de vampiros, decidi ler este pequeno conto clássico que, diz-se, inspirou a obra de Bram Stoker, "Drácula".

"Carmilla" (publicado pela primeira vez em 1871) surpreendeu-me pela positiva. É um conto de leitura rápida, mas não deixa de impressionar, não tanto pela história em si, que é bastante irregular e cujo desfecho é bastante desapontante (a heroína não tem um papel assim muito ativo, a não ser como narradora; é uma personagem de fora que traz todos os elementos necessários à resolução do mistério), mas pela mitologia e pela atmosfera gótica e atmosférica que Le Fanu consegue criar em poucas páginas. E Carmilla impressiona também, pela sua... diferença.

Laura, a protagonista, vive num castelo isolado apenas com o pai e com os criados. Por isso, não é surpreendente que se sinta contente quando uma misteriosa jovem, de nome Carmilla, tem de ficar no seu castelo após um acidente de carruagem. Carmilla é amável, bela e parece querer ser genuinamente amiga de Laura. Mas se Laura gosta, no geral, desta jovem, algumas das suas atitudes causam-lhe surpresa e mesmo alguma repulsa. E Laura não sabe bem porquê. Mas um velho amigo de família sabe-o e Laura e o pai percebem que Carmilla é muito mais do que pensavam.

Tive bastante pena que Carmilla fosse apenas um conto. É que mesmo como conto é tão incrivelmente atmosférico (à boa maneira vitoriana), tão subtilmente assustador que nos provoca mais arrepios do que as cenas explícitas de carnificina que por vezes nos são apresentadas em livros mais recentes. Gostei da forma como o vampiro é aqui descrito e apresentado, da forma como, mais do que um ser corpóreo, por vezes, parece quase um espírito, que pode atravessar paredes e aparecer e desaparecer quando quer. De como é uma manifestação daqueles medos que vemos, quase sempre, pelo canto do olho.

A natureza obsessiva de Carmilla foi outro toque de génio, que mostra eficazmente como ela já não é humana.

No geral, achei que Carmilla é um pequeno conto muito bem conseguido. Certamente que os protagonistas não têm um papel particularmente ativo, não contribuem grandemente para a resolução dos problemas, mas o foco da narrativa não é bem esse, penso eu. É, sim, a construção de uma história sobre um ser ao mesmo tempo arrepiante e psicopático, mas ainda com alguma beleza. Gostei (mas dei-lhe três estrelas porque queria mesmo que fosse maior).

Este livro pode ser descarregado gratuitamente na página do Projeto Gutenberg (e-book em inglês).

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