Opinião: Deixa-me Entrar (John Ajvide Lindqvist)


Editora: Contraponto (2010)
Formato: Capa mole | 448 páginas
Géneros: Fantasia urbana, Terror

O blogue tem andado parado por diversas razões: pessoais e também porque, possivelmente por causa da primeira razão, não me tem apetecido escrever opiniões. 

No entanto, Deixa-me Entrar do autor sueco John Ajvide Lindqvist foi uma surpresa tão grande não só em termos daquilo que esperava do livro e daquilo que obtive, mas também do teor da história, que achei que merecia uma opinião, por mais desconjuntada que pudesse ser.

Deixa-me Entrar passa-se num bairro social de Estocolmo, nos anos 80 e tem diversos protagonistas, embora os mais notórios sejam Eli e Oskar. Eli muda-se para o prédio de Oskar, um rapaz de 12 anos que é vítima de bullying na escola e os dois jovens tornam-se amigos improváveis. Isto porque Eli é uma rapariga estranha, que apenas sai à noite e que por vezes parece estranha e demasiado adulta para a idade.

Como disse, este livro foi uma surpresa. Primeiro porque esperava que o foco da história fosse o facto de Eli ser uma vampira e como tudo isso é sobrenatural. Mas estranhamente, este livro está tão cheio de horrores de várias espécies, que o facto de Eli ser uma criança imortal que necessita de sangue para sobreviver não é, de todo, o mais assustador neste livro.

John Ajvide Lindqvist aborda temas pouco agradáveis e incomodativos como a pedofilia, a violência contra as crianças e o bullying. Eli é forçada a manipular um pedófilo para que ele mate por ela e lhe traga o sangue de que necessita. Oskar leva tareias e é humilhado na escola. E temos também o passado de Eli, surpreendente e horrivelmente violento. O vampirismo parece ser algo secundário.

A relação entre Eli e Oskar é uma mistura de manipulação, inocência e apoio mútuo. É, em muitos aspetos, uma relação pouco saudável e estranha, mas no final, tanto Eli como Oskar retiram dela benefícios inesperados. Oskar consegue dela coragem e Eli aprende humildade e a gostar de um ser humano, algo que não fazia há muito.

A maioria das outras personagens são todas seres humanos asquerosos, de uma maneira ou de outra, mas também tão humanos que nos dão nojo e ao mesmo tempo nos fazem ter vergonha de sermos da mesma espécie.

Deixa-me Entrar é um livro "sujo", realista e desconfortável que mostra algumas das facetas mais escuras e desprezíveis da humanidade. É também um livro que não transmite assim muita esperança. Mas tenho de admitir que é isso que faz dele um livro tão impressionante.

No geral, uma leitura que me deixou incomodada e um livro cujo foco me surpreendeu. Não diria que adorei ou que o vou ler de novo, mas foi um livro que me tocou, algo que se torna cada vez mais difícil, se for sincera. Nunca será um favorito, na verdade nem tenho a certeza se gostei... mas talvez seja isso que torna um livro grande. 

Comentários

Carla disse…
Olá,
Parece ser um livro interessante, gostei da tua opinião. Tenho de ver pois julgo que o tenho cá por casa.
Boas leituras.