19 maio 2012

Opinião: Matadouro Cinco (Kurt Vonnegut)

Editora: Bertrand Editora (2011)
Encadernação: Capa Mole | 200 páginas
Géneros: Ficção
Descrição (GR): "O romance da vida de Billy Pilgrim (duplo quase autobiográfico de Kurt Vonnegut), nascido em Ilium en 1922, filho único do barbeiro da aldeia. Neste livro Kurt Vonnegut utiliza os métodos da ficção científica para permitir flash-back contínuos do personagem, mas também para abrir uma quebra narrativa na trama principal intitulada A Cruzada das Crianças, e que é antes de tudo uma extraordinária denúncia dos extermínios organizados pela humanidade. Uma obra prima da literatura."
Este livro foi-me recomendado por uma colega da faculdade e em boa hora o li. Confesso que nunca teria tido a iniciativa de o comprar, por causa do tema. Na verdade, o período histórico que abarca as duas grandes guerras (no fundo o século XX em geral) é o que menos gosto. Por isso evito livros com esta temática.

Mas Matadouro Cinco é mais do que um relato sobre a Segunda Guerra Mundial. É a história de um soldado, Billy Pilgrim, que é tudo aquilo que um soldado americano nunca é nos livros e nos filmes (principalmente nos filmes): medroso, ignorante, um pouco indiferente e em geral boa pessoa, sim, mas dificilmente um herói. No fundo, um homem perfeitamente normal e vulgar. Um homem que é mandado incrivelmente mal preparado (se é que há preparação possível) para uma guerra sangrenta e horrível. E que tem a infelicidade de estar presente durante o bombardeamento de Dresden.

Vonnegut descreve com uma mestria ímpar os acontecimentos traumáticos que tiveram lugar na Segunda Guerra, onde também esteve em combate. Apesar de nos apresentar um relato por vezes chocante das realidades da guerra, a forma como a narrativa está organizada permite ao leitor ler tudo de enfiada.

Assim começa Matadouro Cinco: "Escutem: Billy Pilgrim tornou-se volúvel no tempo". Esta frase é o início da odisseia de Billy, o nosso "herói", um optometrista que se vê de repente com a capacidade de viajar no tempo. É através desta capacidade que Billy escapa às suas circunstâncias terrificantes durante a guerra e é também assim que conhece os Tralfamadorianos; extraterrestres do planeta Tralfamadore que lhe ensinam uma ou duas coisas sobre a inevitabilidade dos acontecimentos e da vida em geral.  

Na minha humilde opinião, esta foi uma forma brilhante (se bem que algo perturbante e distorcida) de escrever sobre esta temática. O livro de Kurt Vonnegut é ao mesmo tempo ficção, memória e testemunho das consequências da guerra na psique humana. Um relato verdadeiro de um homem autêntico, de alguém que esteve lá e que não tenta amenizar a verdade. E estranhamente, é uma leitura bem mais leve do que se poderia pensar.

O que dizer mais sobre este livro? Atirem "O Resgate do Soldado Ryan" pela janela e leiam isto, acho eu. Acho que não tenho mais palavras.
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3 comentários:

p7 disse...

Há tanto tempo que ando para ler qualquer coisa deste escritor... pela tua opinião, este parece um óptimo livro para começar. ;)

slayra disse...

Eu gostei. Realmente tenho um problema qualquer com a 2ª Guerra Mundial, mas deste livro gostei... :)

WhiteLady3 disse...

Este é daqueles livros que tenho debaixo de olho à imenso tempo apesar de pouco ou nada ler sobre ele, porque há tanta gente a falar bem que tenho medo de criar muitas expetativas. Mas aquilo de "mandar o Resgate do Soldado Ryan pela janela" stroke a chord, é que odeio o filme. O_o Sinto-me inclinada a pegar no livro só por causa disso.