It's Monday! What are you reading?

É Segunda! O que estão a ler? Bem, eu depois de ter acabado a excelente trilogia Mistborn do Brandon Sanderson, virei-me para a fantasia urbana (na verdade nem sabia bem o que havia de ler). Ouvi dizer muito bem desta série, mas depois de 40 e tal páginas lidas ainda não estou impressionada... pode ser que melhore. :)


Na semana passada não escrevi opiniões, mas tivemos o Balanço anual e mais algumas aquisições.


Rubrica da autoria de Book Journey.

Aquisições da Semana (41)

Estava a gostar tanto da trilogia "Mistborn" que decidi encomendar mais livros do Sanderson (bem, as sinopses são tão prometedoras...). E assim "nasce" mais um Aquisições da Semana (se bem que o Steelheart já não é desta semana... os outros livros é que são. Mas se há um tema, então há um tema. E o tema é o Brandon Sanderson). :P

The Risen Empire - Scott Westerfeld
World After - Susan Ee
The Way of Kings (part 1) - Brandon Sanderson
The Alloy of Law - Brandon Sanderson
Warbreaker - Brandon Sanderson
Steelheart - Brandon Sanderson

Baseado na rubrica In my Mailbox.

Balanço de 2013

Chegou a altura de fazer o meu balanço das leituras de 2013... o ano está quase a terminar e como o livro que estou a ler agora é gigante e cenas...

Primeiro tenho de referir o meu fracasso total em seguir o Monthly Keyword Challenge. Comecei muito bem, com dois livros em janeiro, mas a partir de fevereiro foi a desgraça total. Confirmei que realmente não tenho jeito para planear leituras, sou mais do género de olhar para a prateleira e tirar um livro com uma capa gira ou andar a pensar de repente num livro e decidir que tenho mesmo de lê-lo a seguir. Por outro lado, consegui ler um livro para o Adult Dystopia Challenge.

Este ano li sensivelmente os mesmos livros do que no ano passado, mas alguns foram bem grandinhos. O que me surpreendeu foi o facto de ter lido tantos livros interessantes, dos quais gostei realmente e que são, no fundo, memoráveis para quem lê mais de 100 livros por ano.

Sem mais demoras, os livros que me surpreenderam pela positiva (sem qualquer ordem particular):

Infelizmente, onde há bom também há mau e, apesar de este ano ter sido particularmente bom alguns livros destacaram-se... pela negativa. Aqui estão, na ordem de "são todos parvos":
  • All Night with a Rogue de Alexandra Hawkins (já não bastava a perseguição a raparigas na literatura juvenil por vampiros, anjos e lobisomens, agora passou também para o romance histórico - por nobres idiotas?)
  • Storm Born de Richelle Mead (Blah, blah vamos todos violar a gaja para ver se ela tem um filho profetizado. O que aconteceu a "vamos convidá-la para sair e tentar agradá-la"?)
  • Morte em Pemberley de PJ James (também conhecido por: Os Body Snatchers invadiram o Orgulho e Preconceito porque aqueles não são o Darcy nem a Elizabeth. E onde está o mistério neste livro de mistério??)
E... é tudo. :) Slayra out!

Feliz Natal!

... Para todos os leitores do blogue e, claro, muitos livros no sapatinho! :)


It's Monday! What are you Reading?

Mais uma nova rubrica para avivar o blogue... vou tentar postar todas as Segundas-feiras (sempre quero ver como me saio com isso). Esta rubrica é da autoria da autora do blogue Book Journey e o objetivo é, claro, dizer o que estamos a ler no momento e penso que, fazer um ponto da situação da semana anterior.

Por isso... eis o que estou a ler de momento (o terceiro livro da trilogia Mistborn):

The Hero of Ages - Brandon Sanderson

Ahem... na semana passada não escrevi grande coisa porque, enfim, os livros do Brandon Sanderson são grandes e passei a semana a ler o segundo... mas ainda publiquei uma opinião, a do primeiro livro da trilogia. E as minhas aquisições de Natal:

Rubrica da autoria de Book Journey.

Aquisições da Semana (40)

E este... é o presente da Wells, meu para mim... xD Ah ah.
Pois é, cá temos mais um Aquisições da Semana... desta vez, com as compras de Natal que fiz para me oferecer a mim própria. Apesar de não gostar particularmente desta moda da Saída de Emergência de dividir os livros em dois, achei que valia a pena ter o "Tigana" em português. Quanto ao outro livro... bem, romance histórico e tal. :)


Provocadora - Madeline Hunter
Tigana - Guy Gavriel Kay

Baseado na rubrica In My Mailbox.

Opinião: Mistborn (Brandon Sanderson)

Mistborn: The Final Empire by Brandon Sanderson
Editora: Tor Books (2007)
Formato: Capa mole | 647 páginas
Género: Fantasia, Distopia
Descrição (GR): "Once, a hero arose to save the world. A young man with a mysterious heritage courageously challenged the darkness that strangled the land.
He failed.
For a thousand years since, the world has been a wasteland of ash and mist ruled by the immortal emperor known as the Lord Ruler. Every revolt has failed miserably.
Yet somehow, hope survives. Hope that dares to dream of ending the empire and even the Lord Ruler himself. A new kind of uprising is being planned, one built around the ultimate caper, one that depends on the cunning of a brilliant criminal mastermind and the determination of an unlikely heroine, a street urchin who must learn to master Allomancy, the power of a Mistborn."
AVISO: Alguns SPOILERS!
Não sei se isto vos acontece, mas para mim sempre foi mais fácil dizer mal de um livro do que dizer bem. Ou talvez, pondo as coisas em termos mais "agradáveis", sempre me foi mais fácil criticar do que elogiar. Não sei se isto é um problema geral da humanidade ou se eu simplesmente sou mazinha e chata, mas é verdade. Na verdade, penso que se prenderá com o facto de que, quando lemos um livro de que não gostamos, temos (ou eu tenho) tendência a ficar um pouco "presos" nos aspetos que não nos agradaram enquanto que quando lemos um livro de que gostamos... nos limitamos a gostar.

Toda esta conversa para dizer que a minha opinião geral de Mistborn é... OMG, que fixe! Basicamente. E que me é bastante difícil escrever algo concreto e minimamente (não nos esqueçamos que se trata de uma opinião) objetivo. Por isso, fiquem com isto para começar: gostam de fantasia? Leiam este livro.

Creio que, se tenho de apontar alguma falha (subjetivamente, pois suponho que deva ter falhas a nível 'técnico'... todos os livros têm, penso eu), diria que o começo algo lento será o maior problema deste primeiro livro da trilogia "Mistborn". De facto as primeiras, oh, 150 páginas arrastam-se e são algo aborrecidas. No entanto, o ritmo não tarda a acelerar (quando os protagonistas se encontram) e o livro torna-se muito mais interessante.

Devo dizer também que o final do livro foi um bocado anticlimático. O autor passou o livro todo a acumular tensão e depois o desfecho... soube a pouco. Ligeiramente.

De resto, "Mistborn" é certamente um dos meus livros preferidos de 2013. Tem ação, intriga, um mundo bem desenvolvido e imaginativo, personagens carismáticas e interessantes e até algum romance. A narrativa é empolgante e desenvolve-se a bom ritmo. As personagens crescem diante dos olhos do leitor.

O livro tem lugar num mundo fantástico onde um tirano imortal escraviza todo um povo. O mundo de Mistborn é um mundo quase estéril, onde plantar algo requer muito esforço e onde apenas alguns colhem os benefícios. Os "Skaa" (o equivalente aos camponeses/trabalhadores na Europa Feudal) trabalham quase vinte e quatro horas por dia, não são pagos (apenas em géneros... e mesmo assim mal) e ainda levam tareias se abrandarem o ritmo de trabalho. Do outro lado do espetro temos a nobreza, os exploradores de toda a terra e comércio. São os ricos, a classe privilegiada e quem fica com os frutos do trabalho dos Skaa.

Apesar desta disposição não ser propriamente original num livro de fantasia, gostei da forma como Sanderson a desenvolveu. O autor pega em diversas ideias e fundamentos com raiz histórica para explicar o seu sistema social. Os Skaa são vistos como inferiores (aos nobres) e quase como animais (tanto que matar um Skaa não é crime), o que me lembrou do racismo científico, uma doutrina que surgiu no século XVIII e que visava explicar porque é que os Europeus (brancos) eram superiores a outras raças. O mundo de Sanderson parece ter uma ideologia semelhante, que explica muitas das atrocidades cometidas contra grande parte da população.

Existe também a ideia de que se deve manter a "pureza do sangue", prevalecente durante tanto tempo entre as casas reais Europeias. No caso da "Dominância Central" e do "Último Império" (a designação do império comandado pelo Lord Ruler), isto prende-se com os poderes da Alomância (Allomancy em inglês... se o autor inventa, eu também invento) - um poder mágico que advém da "queima interior" (e figurada) de metais - que é, aparentemente hereditário.

E é aqui que entra uma das personagens principais, Vin a ladra. Vin é uma "Mistborn", uma 'maga' que pode utilizar todos os metais da Alomância para conseguir poderes. O seu pai é um nobre, mas não tem conhecimento dela porque os nobres têm de matar todas as mulheres Skaa com quem têm relações, para impedir que nasçam Skaa com poderes mágicos. É o envolvimento de Vin com a rebelião Skaa e com o enigmático Kelsier que é o centro deste primeiro livro. Mas já lá iremos.

Não posso deixar passar também toda a mitologia referente ao Lord Ruler, o imperador imortal. Na superfície ele é apenas um vilão que oprime o povo e os controla a todos mediante os Inquisidores, umas criaturas com estacas de metal enfiadas nos olhos (I kid you not). Mas, à medida que vamos lendo, vamos descobrindo que o Lord Ruler tem efetivamente um papel importante no mundo criado por Sanderson.

Está então construída a fundação de "Mistborn". A mitologia e desenvolvimento do mundo foram o que mais gostei neste livro. Claro que o enredo é interessante (ler sobre pessoas que enfrentam inimigos muito mais poderosos é sempre), mas gostei do facto de este livro ser... mais do que isso. Mais do que essa luta. É como o Shrek ou as cebolas... tem camadas.

Gostei da maioria das personagens. A Vin é uma personagem intrigante, com as suas inseguranças, que a tornam tão humana. Kelsier foi uma personagem que me irritou e me fez gostar dele à vez; não gostei particularmente da forma como manipulava as pessoas à sua volta, mas não posso negar que é uma personagem carismática. A única personagem que não achei nada de especial foi o Elend Venture.

No geral, um livro que recomendo vivamente a todos os amantes de fantasia. Correndo o risco de me repetir (mas vou mesmo, eh eh), "Mistborn" tem um pouco de tudo: ação, intriga, um mundo bem desenvolvido e imaginativo, personagens carismáticas e interessantes e até algum romance. É uma obra que se lê num ápice; assim que "entramos" na narrativa é quase impossível parar.

Conta para o:

Opinião: Pretty Guardian Sailor Moon, vols. 4-7 (Naoko Takeuchi)

Editora: Kodansha Comics (2012)
Formato: Capa mole | ? páginas
Género: Fantasia, Romance,  Lit. Juvenil/YA
Descrição (vol. 4): "A new group calling themselves Black Moon is after Usagi and the rest of the Sailor Guardians, wielding a new power known only as the Malefic Black Crystal. Chibi-Usa may be the key to it all, but to find the answers and rescue her kidnapped friends, Usagi will have to journey through time to the 30th century and discover what fate has in store. 
This new edition of Sailor Moon features: 
- An entirely new, incredibly accurate translation 
- Japanese-style, right-to-left reading 
- New cover art never before seen in the U.S. 
- The original Japanese character names 
- Detailed translation notes"
AVISO: SPOILERS para o anime e manga (pequenos)

No 4º volume de Pretty Guardian Sailor Moon continuamos a seguir a luta das Navegantes contra os misteriosos inimigos da Lua Negra. 

Tal como no anime, as Navegantes têm de enfrentar as quatro irmãs "da Caça" e o Ruby. Têm de proteger a Chibi-Usa do inimigo e tentar perceber qual o objetivo do mesmo.

Devo dizer que não gostei tanto do 4º volume como dos anteriores. Apesar de a história avançar consideravelmente (tudo se passa muito mais depressa do que no anime), penso que a falta de quase todas as Navegantes durante a maior parte do livro fez com que o apreciasse menos. A Usagi (Bunny) é um pouco irritante neste volume também. 

No 5º volume, as Navegantes (ou melhor, a Navegante da Lua) derrotam finalmente a Lua Negra e o seu vilão-mor, o Wiseman. O que achei interessante nesta história, foi a sensação de ter conseguido pormenores novos sobre a história. O porquê da Lua Negra (ou Nemesis) atacar o Cristal Tóquio é bastante mais lógico no manga; mais bem explicado. As origens do poder da Lua Negra são também mais evidentes. Gostei sobretudo de como as personagens (boas) não são completamente, 100% boazinhas... a Usagi tem ciúmes parvos e a Chibi-usa sente-se posta de parte e inútil e é por isso que se torna a Black Lady. No entanto, acho que a autora explorou a vertente emocional do enredo apenas de forma muito superficial; talvez seja porque acontece tudo "à velocidade da luz", mas teria gostado de saber mais sobre as motivações das personagens. Enfim. 

Outro aspecto de que gostei foi a "continuidade", relativamente à história anterior. As histórias no manga não são "estanques", as Navegantes recebem poderes e vão crescendo com o acumular de experiências. E claro, adorei o papel da Navegante de Plutão.

Os volumes 6 e 7, detalham a história da minha temporada favorita da Sailor Moon (no anime)... a temporada dos Death Busters. Mais uma vez, achei que os painéis estavam muito cheios e algo confusos, como se a autora tivesse espaço limitado para contar a história (e se calhar é verdade).

As Navegantes derrotaram a Lua Negra, mas um novo perigo aproxima-se. Luna e Artemis descobrem uma estranha fonte de energia em Tóquio, concentrada na Academia Mugen e estranhos monstros atacam os cidadãos da cidade. Ao mesmo tempo, novas guardiãs aparecem, mas estas misteriosas guerreiras não parecem querer nada com as Navegantes.

Apesar da temporada dos Death Busters ser muito diferente no anime e no manga, gosto igualmente das duas. O anime dura mais, claro, mas mesmo assim tive a sensação de que apreendi nuances da história, do "background" que não estão explicadas no anime. Por exemplo, no anime os Death Busters são apenas uns vilões que querem dominar a Terra e são cientistas. No manga, é-nos explicado porque é que eles querem dominar a Terra (para além do facto de serem maus e vilões e tudo o mais) e porque é que são cientistas (qual é o objetivo das experiências).

Também nesta temporada entramos na mente das personagens principais. As Navegantes sentem-se ameaçadas e fazem algumas coisas pouco recomendadas, as Navegantes da parte "Exterior" do sistema solar mostram como se sentiam com a sua missão (e aqui mostram alguma irritação com o seu papel e a sua missão; não são 100% dóceis e devotadas) antes de "renascerem" como humanas. E confesso que foi giro ver o Mascarado com ciúmes...

A temporada ou "arc" dos Death Busters só acaba no próximo volume, mas creio que tem tudo para se tornar, novamente, na minha favorita.

No geral, creio que o anime e o manga se complementam. O anime dá-nos ação e o manga dá-nos uma visão das lutas interiores das personagens e algumas informações que estão em falta no anime (como as motivações dos vilões). Recomendado para quem gosta de shojo e a não perder para fãs das Navegantes da Lua.

Outras opiniões: Pretty Guardian Sailor Moon, vol. 3
Fonte das imagens: The Oracle

Opinião: A Estação dos Ossos (Samantha Shannon)

A Estação dos Ossos by Samantha Shannon
Editora: Casa das Letras (2013)
Formato: Capa mole | 496 páginas
Género: Distopia, Romance paranormal, Lit. Juvenil/YA
Sinopse.

AVISO: Alguns SPOILERS!
(Li esta obra no inglês original, mas apresentam-se os dados da portuguesa).

Muitas das opiniões do Goodreads, descrevem este livro como um dos mais antecipados do ano, possivelmente devido à gigante campanha de publicidade que se construiu em volta de "A Estação dos Ossos".

Sinceramente, nunca tinha ouvido falar deste livro antes de ver para aí na net algures que o iam publicar aqui em Portugal. Só depois é que percebi que era uma espécie de "fenómeno" e foi por isso decidi ver porque é que toda a gente andava a falar do livro.

A capa da edição portuguesa contém uma citação da autoria da Forbes/N.Y. Times que diz o seguinte "Será Samantha Shannon a próxima J.K. Rowling?".

A minha resposta a esta pergunta é um peremptório Não. Porquê? Porque a J.K. Rowling é uma mestra do world building (construção do mundo). Desde o primeiro livro que ela nos dá informações necessárias para compreendermos o que se passa com o Harry e com o mundo dos feiticeiros. Recebemos esta informação em "doses", de livro para livro, ao mesmo tempo que o Harry até que no final temos uma "imagem" completa e intrincada de todo o panorama: do sistema de magia, das criaturas mágicas, da relação entre os feiticeiros e os "muggles" e muito mais.

Em "A Estação dos Ossos", isso não acontece. A autora "atira-nos" para um mundo estranho, apesar de ser num futuro próximo. Temos a heroína que trabalha num "bar de oxigénio" (apenas como fachada), mas nunca nos é explicado o que é um "bar de oxigénio". É-nos dito que o Scion, o corpo político tirânico que governa muitas cidades da Europa se começou a afirmar no século XIX, devido à "descoberta" de uma nova "classe" de humanos, os "clarividentes", que têm o poder de entrar e/ou manipular o "aether". Aparentemente os clarividentes são considerados um perigo e caçados e encarcerados.

A origem dos clarividentes é-nos explicada de forma sumária e confusa: aparentemente o rei inglês Eduardo VII foi não só o primeiro clarividente mas também Jack o Estripador (porque matou uma data de gente para conseguir o poder ou algo do género). Sinceramente, não percebi esta história e fiquei com imensas dúvidas... isto significa que no mundo da autora a clarividência não existia como conceito cultural e religioso nas sociedades humanas antes do século XIX? Todas as artes relacionadas como o tarot e as runas, etc, não existiam? Ou existiam mas ninguém lhes prestava atenção? Não sabemos.

Ao mesmo tempo, as implicações religiosas deste fenómeno não são referidas de todo. Ao princípio é-nos dito que as pessoas têm "anjos da guarda" e fiquei a pensar que a autora ia fornecer uma explicação... mas não. Afinal os "anjos" são espíritos e nunca nos é dito como é que a existência do "aether", a substância onde, segundo a realidade expressa no livro os espíritos vão para "morrer" mudou a visão da sociedade sobre Deus e a religião. Continua a existir religião? É por pôr em causa a religião que as pessoas ditas "normais" têm tanto receio dos clarividentes? Não sabemos.

A nossa heroína, Paige Mahoney é uma clarividente que trabalha para o "sindicato", uma organização criminosa cujos objetivos, funções e razão de existência estão, mais uma vez, bastante mal explicados. Não consegui perceber muito bem se o sindicato existe para roubar as pessoas "normais", ou se existe para proteger os clarividentes.

Claro que Paige é uma clarividente rara e fora do vulgar que pode invadir os sonhos das outras pessoas. O que ela faz para o seu "mestre", o Jaxon Hall é algo obscuro... Aparentemente ela entra nos "sonhos" das pessoas para ver o que elas estão a pensar... No fundo para ver se existe algum perigo? Penso eu...

Os clarividentes têm de ter muito cuidado com a polícia de Scion (ou SciLo - Londres), que os prenderá na Torre (de Londres?) se os apanhar.

Um dia, Paige é apanhada e levada para Oxford, que por razões obscuras (e mal explicadas), está interdita devido a radiação (mas porquê, ninguém sabe). Acontece que Oxford é na verdade o lar de umas criaturas estranhas, os Refaim que são seres que vieram do aether. Aparentemente (segundo a confusa explicação) houve uma "overload" no aether no século XIX, causando uma fissura. Por isso os Refaim vieram daí e decidiram que iam ficar na Terra e raptar todos os clarividentes para os treinar para matarem os Efrim (sp?) umas criaturas que também vieram do aether e que comem humanos.

Isto causou-me logo estranheza porque: 1) se os Efrim vieram do aether no século XIX para a Terra, pela primeira vez porque é que comeriam humanos e 2) se os Refaim são assim tão mais poderosos do que os humanos (como estão sempre a dizer) porque é que não combatem eles os Efrim?

Não fazemos ideia. Tudo o que sabemos é que os Refaim são belos, poderosos e não gostam nada de humanos. Os clarividentes são basicamente escravos.

Em suma, A Estação dos Ossos é um livro com um conceito bastante ambicioso, certamente. Mas tem um problema que, para mim, é fatal: uma construção do mundo incipiente e imprecisa (mesmo com o glossário e os esquemas). Há muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo; há muitas personagens a ocuparem tempo de antena (Jaxon Hall, Nick, o primo de Paige, o pai de Paige, o Guardião, uma mão cheia de Refraim, uma data de clarividentes, entre outros). No fundo, o grande problema deste livro é a sua exposição confusa e incompleta. Dá ideia que a autora não sabe bem em que direção levar a história.

Se tirarmos o conceito, o livro é uma distopia paranormal bastante genérica. O Scion é um governo totalitário genérico e obviamente à mercê de forças externas. Os Refaim são uma raça de extraterrestres misteriosos e poderosos que exercem ao mesmo tempo fascínio e repulsa na nossa heroína. Os seres humanos são, previsivelmente, os sofredores.

Não existe também grande descrição da evolução tecnológica dos humanos. Estamos em 2059 e tudo o que parece diferente são os "bares de oxigénio" (o que quer que isso seja).

Relativamente às personagens, não mostraram grande complexidade neste primeiro livro. Não são propriamente estereótipos, mas também não primam pela originalidade. O romance foi bastante cliché e não foi propriamente realista.

No geral, "A Estação dos Ossos" é um livro certamente ambicioso que tem o potencial para se tornar numa série interessante e complexa. Infelizmente, apesar da escrita envolvente, a autora não foi capaz de esboçar de forma eficaz o mundo em que as personagens se movem. Gostaria de ter sabido mais sobre as origens da sociedade de Scion e de ter lido mais sobre como os clarividentes são diferenciados e discriminados. E claro, sobre os próprios Refaim. Sim, eu sei que isto é uma série, mas relativamente ao que aconteceu neste primeiro livro, penso que a autora omitiu partes fundamentais do world building.

Detalhes da obra original:
Título: The Bone Season
Série: The Bone Season
Ano: 2013

Opinião: Luz e Sombra (Leigh Bardugo)

Luz e Sombra by Leigh Bardugo
Editora: Asa (2013)
Formato: Capa mole | 312 páginas
Género: Fantasia, Romance, Lit. Juvenil/YA
Descrição (GR): "Só ela consegue vencer as trevas... Rodeada por inimigos, a outrora grande nação de Ravka foi dividida em duas pelo Sulco de Sombra, uma faixa de escuridão quase impenetrável cheia de monstros que se alimentam de carne humana. Agora, o seu destino pode depender de uma só refugiada. Alina Starkov nunca foi boa em nada. Órfã de guerra, tem uma única certeza: o apoio do seu melhor amigo, Maly, e a sua inconveniente paixão por ele. Cartógrafa do regimento militar, numa das expedições que tem de fazer ao Sulco de Sombra, Alina vê Maly ser atacado pelos monstros volcra e ficar brutalmente ferido. O seu instinto leva-a a protegê-lo , e ela revela um poder adormecido que lhe salva a vida, um poder que poderia ser a chave para libertar o seu país devastado pela guerra. Arrancada de tudo aquilo que conhece, Alina é levada para a corte real para ser treinada como um membro dos Grishas, a elite mágica liderada pelo misterioso Darkling. Com o extraordinário poder de Alina no seu arsenal, ele acredita que poderá finalmente destruir o Sulco de Sombra. No entanto, nada naquele mundo pródigo é o que parece. Com a escuridão a aproximar-se e todo um reino dependente da sua energia indomável, Alina terá de enfrentar os segredos dos Grisha... e os segredos do seu coração."
(Li esta obra no inglês original, mas apresentam-se os dados da portuguesa).

"Luz e Sombra", publicado recentemente pela ASA e incluído na colecção de fantasia 1001 mundos, é o primeiro livro da trilogia "The Grisha".

Acompanha as aventuras de Alina Starkov, uma jovem órfã acolhida por um poderoso Duque de Ravka, um reino dilacerado pela guerra.

Alina, uma criança doente e frágil, cresce na companhia de Mal, outro órfão e é também na sua companhia que se alista no Primeiro exército.

Nos primeiros capítulos do livro, Alina prepara-se para a sua primeira travessia pelo Sulco de Sombra, um espaço de escuridão que divide o país onde nada cresce e povoado por volcra, criaturas que vivem no sulco e se alimentam de humanos.


Durante a perigosa viagem, a barca de Alina é atacada por volcra e, para salvar o seu amigo, Alina demonstra de repente um poder há muito escondido que a marca como fazendo parte dos Grisha - um exército de magos e cientistas que lutam para defender o reino através das suas artes. Alina é levada para o palácio dos Grisha e trava conhecimento com o Darkling, o senhor desta facção.

Já tinha este livro há algum tempo, mas foi só quando saiu em Portugal e começaram a aparecer as primeiras opiniões (positivas) da obra que me decidi a ler finalmente este "Luz e Sombra".

Não é propriamente um mau livro. O problema é que é demasiado genérico, com a sua mitologia, geografia e sistema de magia mal explicados. Ao início estava a achar a leitura bastante agradável porque parecia que a autora se iria focar na luta do povo (e exército) de Ravka. Mas logo que se percebe que a Alina é uma Grisha toda Xpto (sim... ela é um espécime raro), o livro descarrila.

De repente estamos na Escola Secundária, com raparigas populares e mazinhas, raparigas a fofocar nas costas dos outros e toda a gente quase a desmaiar por causa do Darkling, que é muito poderoso e muita bom e aparentemente velho como as montanhas (mas parece um modelo da GQ). A Alina, sempre descrita como uma rapariga não muito bonita transforma-se de repente numa beldade.

A partir daqui, e durante muitas páginas, o livro é pouco mais do que uma obra juvenil normal, com adolescentes, hormonas e toda a gente de olhos esbugalhados porque a nossa heroína é super especial.

Redime-se um pouco mais para o final, quando o enredo dá uma reviravolta mais ou menos pouco previsível e passa a ser novamente mais focado na aventura e na magia em vez de em bailes e invejas.

No geral, uma leitura interessante, mas nada de especial. A ideia é boa, um mundo fantástico baseado na civilização Russa, mas a execução deixa um bocado a desejar. Devo dizer no entanto, que a mitologia me pareceu interessante (se bem que incipiente) e que, com alguma construção do mundo poderia ser bastante intrigante. Gostaria também de saber porque é que os poderes de Alina têm alguma relevância, uma vez que me pareceu que não podia fazer muito... por isso, mais um aspecto que seria interessante desenvolver. Gostei mas não tenho grande pressa em ler o resto.

Review: Midnight Secretary, Vol. 1 (Tomu Ohmi)

Midnight Secretary, Vol. 1 by Tomu Ohmi
Publisher: VIZ Media (2013)
Format: Paperback | 192 pages
Genre(s): Romance, Josei, Manga
Description: "Mad Men meets Vampire Diaries. Kaya Satozuka prides herself on being an excellent secretary and a consummate professional, so she doesn’t even bat an eye when she’s reassigned to the office of her company’s difficult director, Kyohei Touma. He’s as prickly—and hot—as rumors paint him, but Kaya is unfazed…until she discovers that he’s a vampire!!
Kaya quickly accustoms herself to scheduling his “dinner dates” and working odd hours, but can she handle it when Kyohei’s smoldering gaze starts turning her way?!
Reads R to L (Japanese Style) for mature audiences."
First impressions: I actually liked this one better this time around. Ok, so the story is pretty typical, but Kaya is cute and she isn't a wimp either. And this Manga is sexy.

Kaya Satozuka is the perfect secretary, right down to her appearance. She works at a major Japanese corporation.

One day she is promoted to executive secretary of the playboy of Touma Corp, director Kyohei Touma! He's handsome, he's cool and he's got a string of girlfriends! But what Kaya discovers about her new boss is even more surprising... he is a vampire! Kaya will have to prove herself a great secretary if she wants to keep her position... even if it means scheduling her boss's meals.

"Midnight Secretary" is a piece of fluffy Josei that you just know how it's going to end as soon as you open volume 1. Kaya is a plain-ish woman who prides herself on being professional... so professional she tries to do her best even after discovering her boss is a vampire.

Kyohei is your typical handsome playboy, who has as many assignations scheduled as other executives have meetings. Of course, as Kaya soon discovers, many of these "dates" are actually feedings.

It's pretty predictable really. There's nothing special about the story and the characters don't evolve (at least in volume 1) to more than mere clichés. I did like the fact that Kaya stands up for herself a bit, but otherwise, everything was pretty predictable.

Still, I enjoyed it anyway. I'm not any kind of specialist on artwork, but it seemed clean enough. I guess it's a good read if you're not expecting much. It's fluffy, romantic (sort of, since the hero is kind of - predictably - childish) and even cute.

Opinião: Cursed (S.J. Harper)

Cursed by S.J. Harper
Editora: Roc (2013)
Formato: e-book | 304 páginas
Género: Fantasia urbana
Descrição (GR): "Meet FBI Agents Emma Monroe and Zack Armstrong.
She's cursed. He's damned. Together, they make one hell of a team.
Emma Monroe is a Siren, cursed by the gods and bound to earth to atone for an ancient failure. She’s had many names and many lives, but only one mission: redemption. Now that she works missing persons cases for the FBI, it could be just a rescue away. Unless her new partner leads her astray.
Special Agent Zack Armstrong just transferred into the San Diego Field Office. He’s a werewolf, doing his best to beat back the demons from his dark and dangerous past. As a former Black Ops sniper, he’s taken enough lives. Now he’s doing penance by saving them. 
Emma and Zack’s very first case draws them deep into the realm of the paranormal, and forces them to use their own supernatural abilities. But that leaves each of them vulnerable, and there are lines partners should not cross. As secrets are revealed and more women go missing, one thing becomes clear: as they race to save the victims, Emma and Zack risk losing themselves."
"Cursed" é o primeiro livro de uma nova série de fantasia urbana que se centra na personagem de Emma Monroe, uma "siren". Emma é na verdade uma ninfa grega (Ligea), uma das acompanhantes da deusa Perséfone, que foi expulsa do Olimpo quando a deusa foi raptada por Hades. Por isso, para além de ser imortal, Emma tem alguns poderes de persuasão e consegue fazer com que os afectados pelo seu poder lhe digam a verdade.

Amaldiçoada por Deméter, a mãe de Perséfone a caminhar pela Terra a salvar mulheres em perigo para se redimir do facto de não ter conseguido salvar a Perséfone, Emma vive uma vida solitária, uma vez que Deméter lhe proibiu o amor.

A história começa quando Emma reencontra Zack, um lobisomem com quem teve um caso amoroso. Emma descobre que ele vai ser o seu novo parceiro no FBI. Enquanto Emma e Zack trabalham juntos num caso de pessoas desaparecidas, ela tem de tentar travar as suas emoções porque sempre que se apaixona... as coisas correm mal.

Pela descrição que fiz acima (e pela ideia que tinha antes de ler o livro, admito), este livro parece mais romance paranormal do que fantasia urbana. No entanto, como uma das minhas criaturas míticas favoritas são as sereias, decidi arriscar. E, felizmente, estava enganada relativamente à parte do "romance paranormal". Quero dizer, há certamente romance neste livro, mas não tem um destaque tal que obscurece tudo o resto.

Gostei deste livro. É um bom começo para uma série de fantasia urbana, é efectivamente fantasia urbana e não romance paranormal.

A narrativa tem um bom ritmo, o enredo é cativante, as personagens são interessantes e carismáticas, e a escrita é apelativa.

A autora (ou autoras, uma vez que se trata de uma dupla) conseguiu equilibrar de forma bastante competente o romance e o resto da história. Deste modo, o enredo secundário romântico não tomou conta de todo o livro, impedindo o desenvolvimento da história principal, que se prende com a investigação de um caso de pessoas desaparecidas.

No geral, uma leitura agradável, que nunca se tornou aborrecida. As personagens não são meros clichés, a história foi interessante e o romance não foi exagerado ou dramático. Recomendado para quem gosta deste tipo de livros.

Opinião: Dark Triumph (Robin LaFevers)

Dark Triumph by Robin LaFevers
Editora: Andersen (2013)
Formato: Capa mole | 467 páginas
Género: Ficção YA, Fantasia, Ficção histórica
Descrição (GR): "When Sybella arrived at the doorstep of St Mortain half mad with grief and despair the convent were only too happy to offer her refuge—but at a price. The sisters of this convent serve Death, and with Sybella naturally skilled in both the arts of death and seduction, she could become one of their most dangerous weapons.
But her assassin's skills are little comfort when the convent returns her to the life that nearly drove her mad. Her father's rage and brutality are terrifying, and her brother's love is equally monstrous. But when Sybella discovers an unexpected ally she discovers that a daughter of Death may find something other than vengeance to live for . . ."
"Dark Triumph", sucede a "Grave Mercy" e conta a história de outra das jovens criadas no convento de São Mortain, Sybella.

Sybella aparece pela primeira vez no início de "Grave Mercy" e foi-nos descrita como uma rapariga rebelde, cujas experiências a deixaram à beira da loucura. O desejo de vingança é o impulso que a faz aceitar o treino do convento. Sybella aparece uma ou outra vez durante a narrativa de "Grave Mercy"; Ismae conta-nos que Sybella parece estar numa missão secreta.

Este segundo livro, detalha então a missão de Sybella e como a mesma se relaciona com a política no ducado da Britânia. A história de Sybella tem, como a própria autora nos explica no final, um tom mais pessoal. Creio que foi por isso mesmo que resultou melhor do que a aventura de Ismae; sem o peso de centrar parte da narrativa em toda a intriga política, a autora conseguiu um melhor desenvolvimento das personagens o que me fez, enquanto leitora, ligar-me mais às mesmas a nível emocional.

Suponho que seja justo enumerar novamente os critérios de que me servi para escrever a opinião do primeiro livro, de forma a tentar demonstrar porque é que achei que o segundo livro mostra uma melhoria relativamente ao primeiro:

1. A narrativa/escrita: continua a ser na primeira pessoa, presente e continua a não ser a minha forma de narração preferida, mas resultou melhor neste livro. Possivelmente porque este segundo livro se centra mais na própria Sybella e na sua relação com a sua família (os vilões, digamos).

2. Exploração confusa do enredo: que é muito mais focada neste livro. Sybella tem uma missão semelhante em muitos aspectos à de Ismae, mas não existem tantos protagonistas por quem dividir a atenção.

3. Falta de protagonismo: mais uma vez, a "falta de protagonismo" não é um problema neste livro. A Sybella tem um papel bastante central e o protagonista masculino está igualmente bem desenvolvido.

4. Exploração incipiente das "capacidades" de Sybella e de toda a mitologia em volta dos antigos deuses e do São Mortain: continua a ser um problema neste livro, de certa forma, pelo menos ao nível da mitologia em volta dos antigos deuses. Relativamente às capacidades da Sybella e das outras filhas de Mortain, existe algum progresso e neste livro, a Sybella usou realmente as suas capacidades. O facto de ser uma personagem mais inquisitiva do que a Ismae, ajudou.

No geral, um livro mais envolvente do que o primeiro. As personagens estão mais bem desenvolvidas e são mais carismáticas e a autora parece ter-se dado melhor uma vez que não foi necessária tanta exposição relativamente à política do reino. Gostei mais deste segundo livro e continuo a recomendar esta série a quem gosta de ficção histórica com alguma fantasia. Resta dizer no entanto, que dada a complexidade do enredo, estes livros poderiam ter sido melhores, na minha opinião, se fossem dirigidos a um público adulto e não juvenil.

Opinião: Grave Mercy (Robin LaFevers)

Grave Mercy by R.L. LaFevers
Editora: Houghton Mifflin Harcourt (2012)
Formato: Capa dura | 549 páginas
Género: Ficção YA, Fantasia, Ficção histórica
Descrição (GR): "Why be the sheep, when you can be the wolf?
Seventeen-year-old Ismae escapes from the brutality of an arranged marriage into the sanctuary of the convent of St. Mortain, where the sisters still serve the gods of old. Here she learns that the god of Death Himself has blessed her with dangerous gifts—and a violent destiny. If she chooses to stay at the convent, she will be trained as an assassin and serve as a handmaiden to Death. To claim her new life, she must destroy the lives of others.
Ismae’s most important assignment takes her straight into the high court of Brittany—where she finds herself woefully under prepared—not only for the deadly games of intrigue and treason, but for the impossible choices she must make. For how can she deliver Death’s vengeance upon a target who, against her will, has stolen her heart?"
Ler opiniões no Goodreads é sempre interessante; podemos encontrar bons livros desta forma, mas a verdade é que também formamos expectativas e ideias que podem estar muito, muito longe daquilo que a obra é na realidade. Afinal, uma opinião é, acima de tudo, um texto subjectivo sobre um texto subjectivo (especialmente se estivermos a falar de ficção) que é por sua vez interpretado por uma pessoa de forma subjectiva.

Tudo isto para dizer que "Grave Mercy" não foi bem aquilo que eu estava à espera. Estava à espera de um livro interessante (freiras assassinas? Yes, please!), mas juvenil, com uma história romântica lamechas e algo repentina (romance instantâneo, por exemplo). Neste aspecto, o livro surpreendeu-me pela positiva; "Grave Mercy" não só é mais "adulto" do que estava à espera, tendo em conta que a heroína é uma rapariga de 17 anos, como não houve uma atracção fulminante entre os protagonistas, nem, graças aos deuses literários, um triângulo amoroso.

No entanto, devo dizer que não adorei a forma como esta história foi contada. Louvo a autora pela sua pesquisa histórica (fiquei a saber bastante sobre o ducado de Brittany - do qual sabia quase nada) e pela tentativa de criar uma história intrincada, centrada na intriga política da época. E ainda, por tentar introduzir um elemento "sobrenatural" de forma subtil.

Como acontece com tantos livros a ideia era óptima... mas a execução deixou algo a desejar. Para organizar as ideias, vou tentar fazer uma lista do que acho que "correu mal" (como sempre, na minha opinião):

1. A narrativa/escrita: a narrativa é na primeira pessoa do presente. Nunca gostei particularmente desta forma de narrar, porque se penso que uma narrativa na primeira já é difícil de concretizar, então a narrativa na primeira pessoa do presente... é quase impossível, sem que a mesma pareça demasiado descritivo ou impessoal. E a autora, tenho a dizer, não conseguiu tornar este estilo de narrativa empolgante. De todo. À narrativa, certamente como produto do estilo utilizado, falta-lhe emoção e ritmo.

2. Exploração confusa do enredo: a autora teve uma ideia bastante interessante, ao enviar a nossa heroína, Ismae, para a corte de Brittany. E até conseguiu introduzir parte da intriga de forma eficaz, mas houve partes do livro que me pareceram confusas e mal explicadas, como as "provas" que "provavam" que o vilão era... o vilão. As explicações de Ismae e Duval não fizeram grande sentido para mim no que diz respeito ao verdadeiro espião, pode ter-me escapado alguma coisa, mas penso que não provavam grande coisa.

Também houve muito que ficou por explicar, nomeadamente o envolvimento do convento de São Mortain, a intransigência da abadessa e os desígnios do próprio Mortain, no meio daquela salganhada toda. O mesmo se pode dizer das intenções da mãe de Duval e da falta de resolução para a família deste. Basicamente, ficaram muitas pontas por atar.

3. Falta de protagonismo: das personagens. O "cast" deste livro é bastante grande, desde as amigas da Ismae e das freiras até ao Duval, aos seus amigos e à sua família. Nenhuma das personagens é desenvolvida de modo a causar interesse ao leitor devido, mais uma vez, ao estilo da narrativa que é muito virada para Ismae. Acho que não tenho qualquer imagem mental de Duval ou de Anne, dois dos protagonistas.

E falta de protagonismo da própria Ismae, que supostamente é uma assassina e especialista nas artes "ninjas", mas que acaba por ser relegada muitas vezes para segundo plano. Como quando o Duval lhe diz "Ah e tal, tenho de ir à corte ver cenas e tu tens de ficar em casa". What??

4. Exploração incipiente das "capacidades" de Ismae e de toda a mitologia em volta dos antigos deuses e do São Mortain: o período de aprendizagem da Ismae foi retirado do livro. Numa página ela chega ao convento, duas páginas depois já se passaram dois anos e ela foi treinada em montes de coisas... eu compreendo que o livro já seja grande o suficiente, mas a autora incluiu muitas descrições e cenas supérfluas mais tarde, que, na minha humilde opinião, poderiam ter sido retiradas para dar lugar a mais informações sobre o sistema de crenças das freiras. Afinal, a personagem principal é influenciada pelos ensinamentos do convento. Toda a sua vida e personalidade advém do seu treino.

E, mais uma vez, a Ismae é uma assassina que todos respeitam, mas não utiliza assim muito as suas capacidades (excepto para ouvir às portas).

E é isto. Foram estes os aspectos que me incomodaram neste livro. Por outro lado, fiquei agradavelmente surpreendida pela complexidade da ideia da autora para o enredo. Este mistura história, acção, romance e intriga de forma mais ou menos balançada. Só é pena é que o estilo de narrativa não faça muito para criar uma ligação entre o leitor e as personagens.

No geral, "Grave Mercy" é um livro com todos os ingredientes para se tornar numa leitura agradável. O enredo, a mitologia e o local e época são intrigantes e, se tivessem sido explorados de outra forma, penso que esta teria sido uma das minhas leituras favoritas este ano. Ainda assim é um livro interessante e recomendado para quem gosta de romances históricos com alguma intriga política. E foi um livro de que gostei, apesar da irritação que me causaram alguns aspectos.

Opinião: Antigoddess (Kendare Blake)

Antigoddess by Kendare Blake
Editora: Orchard Books (2013)
Formato: Capa mole | 384 páginas
Género: Ficção YA, Fantasia Urbana
Descrição: "The acclaimed author of ANNA DRESSED IN BLOOD returns with an incredible story about ancient gods, modern love and an epic fight for survival
He was Apollo, the sun, and he'd burn down anything that tried to hurt her... Cassandra and Aidan are just your average high-school couple. Or so Cassandra believes. Blissfully unaware that she was once a powerful prophetess, Cassandra doesn't even know thats god exist... Until now.
Because the gods are dying - and Cassandra could hold the answer to their survival. But Aidan has a secret of his own. He is really Apollo, god of the sun, and he will do anything to protect the girl he loves from the danger that's coming for her. Even if it means war against his immortal family...
Sexy, irresistible characters; romantic and mythological intrigue; relentless action and suspense - ANTIGODDESS is the YA novel you've been waiting for."
Sempre gostei dos livros de Kendare Blake (mais especificamente, seus dois livros da série Anna [Dressed in Blood]), que misturam fantasia urbana e protagonistas interessantes com algumas cenas muito "creepy"; por isso tinha grandes expectativas relativamente a Antigoddess. Um livro sobre mitologia escrito por esta autora? Sim, por favor! Pensei que fosse garantido que os protagonistas seriam "kick-ass". E foram ... mais ou menos.

Não é que eu não tenha gostado do livro. Ou da história (ou pelo menos da ideia. Ou dos personagens. É só que este livro me pareceu um prólogo excessivamente longo (vejam esta opinião da Khanh para mais pormenores, ela é mais articulada do que eu sobre isto). Nada acontece durante o livro, excepto que algumas pessoas andam a viajar pelos Estados Unidos. Não há qualquer sugestão da verdadeira história do livro. É, pura e simplesmente, uma apresentação das personagens. Uma apresentação de mais de 300 páginas.

A história começa de forma simples. Cassandra tem 16 anos e é "vidente" (Cassandra, vidente, mitologia, onde é que isto irá parar). Ela namora com o gajo bom "do pedaço", um loiro deslumbrante chamado Aidan. Há deuses gregos a correr de um lado para o outro à procura dela  (e são emo e irritantes na sua generalidade, com excepção da Athena, na maioria das vezes). Todos convergem na cidade natal de Cassandra. Há um showdown. O fim. Não nos são dadas pistas para nada. Não sabemos porque é que os deuses estão a morrer de repente, não sabemos quem está a controlar os "vilões", nem tão pouco porque é que a Cassandra acabou por ter determinadas 'capacidades' ... nada . E isso estragou um livro que poderia ter sido bastante bom. Porque o conceito? É bom.

Quanto ao resto ... bem, suponho que gostei da ideia. E do final. 

No geral... foi bom, mas podia ter sido melhor.

English review 

Opinião: Os Pilares da Terra (Ken Follett)

Os Pilares da Terra - Ken Follett
Editora: Editorial Presença (2007)
Formato: Capa mole | 1094 páginas (2 volumes)
Género: Ficção Histórica, Romance histórico
Descrição (GR): "Do mesmo autor do thriller "A Ameaça", chega-nos o primeiro volume de um arrebatador romance histórico que se revelou ser uma obra-prima aclamada pela comunidade de leitores de vários países que num verdadeiro fenómeno de passa-palavra a catapultaram para a ribalta. Originalmente publicado em 1989, veio para o nosso país em 1995, publicado por outra editora portuguesa, recuperando-o agora a Presença para dar continuidade às obras de Ken Follett. O seu estilo inconfundível de mestre do suspense denota-se no desenrolar desta história épica, tecida por intrigas, aventura e luta política. A trama centra-se no século XII, em Inglaterra, onde um pedreiro persegue o sonho de edificar uma catedral gótica, digna de tocar os céus. Em redor desta ambição soberba, o leitor vai acompanhando um quadro composto por várias personagens, colorido e rico em acção e descrição de um período da Idade Média a que não faltou emotividade, poder, vingança e traição. Conheça o trabalho de um autêntico mestre da palavra naquela que é considerada a sua obra de eleição."
Mais um (de tantos) livros que já andavam lá por casa há algum tempo. Adquiri "Os Pilares da Terra" na Feira do Livro de Lisboa (não me perguntem qual), por recomendação da, quem mais, Whitelady, mas o facto de serem dois volumes desencorajou-me da leitura durante algum tempo.

Como sou uma pessoa que gosta muito de História, este tipo de livros sempre me interessou. Há algum tempo atrás, um dos meus escritores preferidos dentro do género da ficção histórica escreveu uma série de quatro volumes sobre uma confraria de artesãos no Antigo Egipto; essa série é uma das minhas preferidas até hoje. Estranhamente, essa foi uma das razões que me levou a adiar a leitura de "Os Pilares da Terra"; confesso que tinha algum receio de como Ken Follett, que conheço apenas pelo seu thriller "O Terceiro Gémeo" iria abordar o tema da construção em tempos antigos.

Felizmente, o estilo de Ken Follett é bastante diferente do de Christian Jacq, embora também seja bastante envolvente.

A história passa-se no século XII, na Inglaterra e não tem propriamente um protagonista, a não ser que consideremos a catedral de Kingsbridge um protagonista. O livro segue diversas personagens ao longo dos anos, enquanto a catedral é construída e a instabilidade política no país onde grassa uma guerra civil.

O enredo é soberbo. Follett pinta um retrato algo ficcional, mas intrigante da vida na Idade Média, a prosa mantém o leitor interessado e as personagens, apesar de simplistas na sua construção (a maioria representam estereótipos), ajudam a tornar a narrativa quase de leitura compulsiva.

Ao início, o livro arrasta-se um pouco, chegando a tornar-se aborrecido, mas ganha ímpeto assim que os principais "jogadores" (tantos os "bons" como os "maus") estão em posição. A partir da altura em que Tom, o pedreiro, se torna mestre de obras, a narrativa ganha um ritmo viciante e queremos sempre saber mais. O que se passará a seguir com os protagonistas? Será que a catedral acabará algum dia de ser construída?

Em segundo plano, temos a intriga política da época, a guerra civil, os pretendentes ao trono e o estatuto do Rei na Idade Média, o que foi bastante agradável de ler, para quem, como eu, gosta deste tipo de coisas. No entanto, mesmo estas intrigas, estes enredos secundários, servem apenas para dar impulso ao enredo principal: a construção da catedral de Kingsbridge. E, apesar de muitas das páginas deste enorme livro se dedicarem a contar a história da catedral, a obra nunca se torna aborrecida.

Quanto às personagens, devo dizer que esperava mais. São, como mencionei acima, simplistas e estereotipadas e nunca existe uma evolução notável em nenhuma delas (excepto, talvez, em Aliena). Nenhuma delas me puxou ou incitou emoções fortes.

No geral, este livro foi uma leitura bastante interessante. Podia pôr-me para aqui a falar do retrato que Follett faz da Idade Média, o que ele representou ou não correctamente, mas isso daria pano para mangas (e teria de fazer imensa pesquisa), mas penso que no geral, o autor conseguiu captar pelo menos o espírito da época. As personagens são, definitivamente o ponto fraco da narrativa, mas como um todo, "Os Pilares da Terra" é um livro interessante e bem construído. Recomendado para os amantes de ficção histórica.

Falta de inspiração...


Pois... podem estar a perguntar-se (ou não), porque é que o blogue tem andado tão parado. Se querem que vos diga não sei bem. Estas semanas têm sido bastante complicadas, com um ritmo de trabalho frenético e embora tenha lido alguns livros... não tenho vontade de escrever. Por isso se não virem nada nos blogue nos próximos tempos, já sabem... é falta de inspiração.

Review: Surrender to the Devil (Lorraine Heath)

Surrender to the Devil by Lorraine Heath
Publisher: Avon (2009)
Format: Mass market paperback | 384 pages
Genre(s): Historical romance
Description (GR): "A Devilish Duke on a Quest for Pleasure...
Frannie Darling was once a child of London's roughest streets, surrounded by petty thieves, pickpockets, and worse. But though she survived this harsh upbringing to become a woman of incomparable beauty, Frannie wants nothing to do with the men who lust for her, the rogues who frequent the gaming hall where she works. She can take care of herself and feels perfectly safe on her own—safe, that is, until he strides into her world, and once again it becomes a very dangerous place indeed. 
To bed her but not wed her. That's what Sterling Mabry, the eighth Duke of Greystone, wants. But Frannie abhors arrogant aristocrats interested only in their own pleasure. So why then does the thought of an illicit tryst with the devilish duke leave her trembling with desire? Her willing body begs for release...and a wicked, wonderful surrender."
I'm a big fan of Historical romance, especially the light-hearted kind. I love the descriptions of the ton, of the British aristocracy and the pseudo-tortured heroes who can only be saved by the heroine. Some of my favorite books are historical romances, because, I suppose, while I am practical in RL, I am a bit of a romantic at heart.

This is the second book I've read by Lorraine Heath. I confess I don't actually remember the other book I've read by her; I only remember that I liked it well enough.

The same can be said for this book. I liked this, but didn't love it. It was a quick read, but it didn't dazzle me.

Frannie Darling is a former street urchin who, along the rest of her (all-male) gang, has made something of herself. She doesn't really like the aristocracy, even though her job as a bookeeper of a gaming club means she has to deal with her on some level.

Sterling Mabry is a Duke. When he sees Frannie he just knows he has to have her (rolls eyes). And so the pursuit begins.

This story/plot is not exactly unheard of. It's a common plot device in these kinds of books (lust at first sight or something), but it's exactly because it's so common that I expect the characters to be well developed and for the protagonists to have chemistry. That, to me, is what makes this sort of book work.

Unfortunately, it wasn't what happened in "Surrender to the Devil". The characters lacked chemistry and were lacking in personality as well. Like I said, I felt like I'd read this story time and again (which is normal, in these types of books)... but there wasn't actually anything to make me want to read it again. The writing was good, but, again, I didn't feel the "sparks" between hero and heroine.

Overall, it was an entertaining read, but nothing special. Lorraine Heath seems to have incredible ideas for stories, but I can't say she makes me care all that much for her characters or sigh at the romance. Which is exactly what I am looking for in these sort of books. I'll be reading more from this author (I have a few more books in my shelves), because her ideias are good and so is her writing style. I just hope her other protagonists are a lot more charismatic.

Opinião: Outlander - Nas Asas do Tempo (Diana Gabaldon)

Outlander by Diana Gabaldon
Editora: Casa das Letras (2010)
Formato: Capa mole | 774 páginas
Género: Romance Histórico, Fantasia
Sinopse: "Claire leva uma vida dupla. Tem um marido num século e um amante noutro…
Em 1945, Claire Randall, ex-enfermeira do Exército, regressa da guerra e está com o marido numa segunda lua-de-mel quando inocentemente toca num rochedo de um antigo círculo de pedras. De súbito, é transportada para o ano de 1743, para o centro de uma escaramuça entre ingleses e escoceses. Confundida com uma prostituta pelo capitão inglês Black Jack Randall, um antepassado e sósia do seu marido, é a seguir sequestrada pelo poderoso clã MacKenzie. Estes julgam-na espia ou feiticeira, mas com a sua experiência em enfermagem, Claire passa por curandeira e ganha o respeito dos guerreiros. No entanto, como corre perigo de vida a solução é tornar-se membro do clã, casando com o guerreiro Jamie Fraser, que lhe demonstra uma paixão tão avassaladora e um amor tão absoluto que Claire se sente dividida entre a fidelidade e o desejo… e entre dois homens completamente diferentes em duas vidas irreconciliáveis.
Vive-se um período excepcionalmente conturbado nas Terras Altas da Escócia, que culminará com a quase extinção dos clãs na batalha de Culloden, entre ingleses e escoceses. Catapultada para um mundo de intrigas e espiões que pode pôr em risco a sua vida, uma pergunta insistente martela os pensamentos de Claire: o que fazer quando se conhece o futuro?
Um misto de ficção romântica e histórica, Outlander – Nas Asas do Tempo já foi publicado em 24 países."
(Nota: A edição lida encontra-se em inglês mas apresentam-se os dados da portuguesa).

"Outlander - Nas Asas do Tempo" é mais um livro com o qual já tenho alguma "história". Tudo começou há anos, quando a Whitelady leu o livro e mo recomendou. Penso que devia estar numa fase "rebelde" porque apesar de ter conseguido uma cópia gratuita através do Bookmooch, não o li imediatamente. Não, haviam de se passar anos até que pegasse finalmente neste romance histórico massivo, que nos conta a história de uma mulher que viaja até ao século XVIII.

Foi apenas com a notícia da do filme série de TV (que, penso eu, começou recentemente a ser filmada) e com as recomendações de outras bookahólicas que me decidi a ler este livro.

Como acontece tantas vezes (especialmente com as recomendações da Whitelady. Vide O dardo de Kushiel), tenho pena de o não ter lido antes. "Outlander - Nas Asas do Tempo" é uma mistura de tudo o que eu gosto num livro: é um romance histórico (com todas a sensualidade inerente e, claro, com uma história de amor) e é também ficção histórica (a autora traça um retrato bastante detalhado da época).

Claire Randall é uma enfermeira de combate, que recomeçou a sua vida e o seu casamento após sobreviver aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, Claire e Frank decidem visitar a Escócia para poderem reatar relações depois da guerra os ter mantido separados. Um dia, enquanto Claire passeia pelas paisagens bucólicas da Escócia, depara-se com um círculo de menires. A partir daí é transportada para o ano de 1743, para uma Escócia devastada pela guerra. E é aqui que conhece James Fraser, um jovem guerreiro escocês por quem vai começar a sentir mais do que devia.

Quando li, há algum tempo atrás, "O Segredo de Sophia" de Susanna Kearsley, era isto que procurava. Este livro. O Outlander. Um livro que mergulhasse intensamente na história conturbada dos Jacobitas e da sua luta contra os ingleses; um livro que relatasse a vida, os ideais sociais e as mentalidades da época, sem ter medo de nos mostrar partes que hoje em dia nos horrorizariam. E, claro, um livro com uma forte componente romântica, com uma história de amor quase intemporal, forte e faiscante. Foi isto que encontrei em "Outlander - Nas Asas do Tempo" e é por isso que esta obra entra directamente no meu top 10 das leituras de 2013.

E como é bem sabido que é mais difícil dizer bem do que dizer mal, não me alongarei muito mais. Basta dizer que Diana Gabaldon retratou (ou pelo menos assim parece) minuciosa e fielmente o estilo de vida e as mentalidades de meados do século XVIII. E apesar do conflito entre os Jacobitas e os ingleses ser apenas secundário neste primeiro livro, a escrita genial da autora faz com que o leitor se aperceba da tensão existente na Escócia nesta época.

Quanto às personagens... bem, deixem-me dizer-vos que apesar de ambos os protagonistas terem, essencialmente, papéis "tradicionais" (o homem guerreiro e a mulher curandeira), deu-me ideia de que esta escolha foi, pelo menos parcialmente, propositada. Afinal, Jamie é um habitante do século XVIII pelo que o facto de ser guerreiro não é grande surpresa. Mas Claire não é apenas uma curandeira... ela viveu uma das guerras mais sangrentas da história e é, por isso, que as suas capacidades são invulgares.

As personagens evolvem de forma bastante previsível e concordante à componente romântica, mas contrariamente ao que acontece com outros romances históricos, os protagonistas têm as suas "falhas", que advêm da sua situação (Claire) ou educação (Jamie). E a autora não nos poupa aos resultadas de uma educação em que as mulheres eram consideradas "inferiores".

Não nos poupa também à violência inerente do período. Algumas cenas são perturbadoras, mas nenhuma é gratuita. O vilão é, talvez, algo estereotipado, mas as suas acções não fogem aos parâmetros estabelecidos pela História e pela autora.

No geral, adorei. Não é um livro perfeito, mas é muito bom. Tem romance, acção, aventura, personagens carismáticas e complexas e o ritmo é pausado e gradual, mas sempre interessante. Recomendado para todos os amantes de ficção histórica (se não se importarem com a forte componente romântica).