Opinião: Outlander - Nas Asas do Tempo (Diana Gabaldon)

Outlander by Diana Gabaldon
Editora: Casa das Letras (2010)
Formato: Capa mole | 774 páginas
Género: Romance Histórico, Fantasia
Sinopse: "Claire leva uma vida dupla. Tem um marido num século e um amante noutro…
Em 1945, Claire Randall, ex-enfermeira do Exército, regressa da guerra e está com o marido numa segunda lua-de-mel quando inocentemente toca num rochedo de um antigo círculo de pedras. De súbito, é transportada para o ano de 1743, para o centro de uma escaramuça entre ingleses e escoceses. Confundida com uma prostituta pelo capitão inglês Black Jack Randall, um antepassado e sósia do seu marido, é a seguir sequestrada pelo poderoso clã MacKenzie. Estes julgam-na espia ou feiticeira, mas com a sua experiência em enfermagem, Claire passa por curandeira e ganha o respeito dos guerreiros. No entanto, como corre perigo de vida a solução é tornar-se membro do clã, casando com o guerreiro Jamie Fraser, que lhe demonstra uma paixão tão avassaladora e um amor tão absoluto que Claire se sente dividida entre a fidelidade e o desejo… e entre dois homens completamente diferentes em duas vidas irreconciliáveis.
Vive-se um período excepcionalmente conturbado nas Terras Altas da Escócia, que culminará com a quase extinção dos clãs na batalha de Culloden, entre ingleses e escoceses. Catapultada para um mundo de intrigas e espiões que pode pôr em risco a sua vida, uma pergunta insistente martela os pensamentos de Claire: o que fazer quando se conhece o futuro?
Um misto de ficção romântica e histórica, Outlander – Nas Asas do Tempo já foi publicado em 24 países."
(Nota: A edição lida encontra-se em inglês mas apresentam-se os dados da portuguesa).

"Outlander - Nas Asas do Tempo" é mais um livro com o qual já tenho alguma "história". Tudo começou há anos, quando a Whitelady leu o livro e mo recomendou. Penso que devia estar numa fase "rebelde" porque apesar de ter conseguido uma cópia gratuita através do Bookmooch, não o li imediatamente. Não, haviam de se passar anos até que pegasse finalmente neste romance histórico massivo, que nos conta a história de uma mulher que viaja até ao século XVIII.

Foi apenas com a notícia da do filme série de TV (que, penso eu, começou recentemente a ser filmada) e com as recomendações de outras bookahólicas que me decidi a ler este livro.

Como acontece tantas vezes (especialmente com as recomendações da Whitelady. Vide O dardo de Kushiel), tenho pena de o não ter lido antes. "Outlander - Nas Asas do Tempo" é uma mistura de tudo o que eu gosto num livro: é um romance histórico (com todas a sensualidade inerente e, claro, com uma história de amor) e é também ficção histórica (a autora traça um retrato bastante detalhado da época).

Claire Randall é uma enfermeira de combate, que recomeçou a sua vida e o seu casamento após sobreviver aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, Claire e Frank decidem visitar a Escócia para poderem reatar relações depois da guerra os ter mantido separados. Um dia, enquanto Claire passeia pelas paisagens bucólicas da Escócia, depara-se com um círculo de menires. A partir daí é transportada para o ano de 1743, para uma Escócia devastada pela guerra. E é aqui que conhece James Fraser, um jovem guerreiro escocês por quem vai começar a sentir mais do que devia.

Quando li, há algum tempo atrás, "O Segredo de Sophia" de Susanna Kearsley, era isto que procurava. Este livro. O Outlander. Um livro que mergulhasse intensamente na história conturbada dos Jacobitas e da sua luta contra os ingleses; um livro que relatasse a vida, os ideais sociais e as mentalidades da época, sem ter medo de nos mostrar partes que hoje em dia nos horrorizariam. E, claro, um livro com uma forte componente romântica, com uma história de amor quase intemporal, forte e faiscante. Foi isto que encontrei em "Outlander - Nas Asas do Tempo" e é por isso que esta obra entra directamente no meu top 10 das leituras de 2013.

E como é bem sabido que é mais difícil dizer bem do que dizer mal, não me alongarei muito mais. Basta dizer que Diana Gabaldon retratou (ou pelo menos assim parece) minuciosa e fielmente o estilo de vida e as mentalidades de meados do século XVIII. E apesar do conflito entre os Jacobitas e os ingleses ser apenas secundário neste primeiro livro, a escrita genial da autora faz com que o leitor se aperceba da tensão existente na Escócia nesta época.

Quanto às personagens... bem, deixem-me dizer-vos que apesar de ambos os protagonistas terem, essencialmente, papéis "tradicionais" (o homem guerreiro e a mulher curandeira), deu-me ideia de que esta escolha foi, pelo menos parcialmente, propositada. Afinal, Jamie é um habitante do século XVIII pelo que o facto de ser guerreiro não é grande surpresa. Mas Claire não é apenas uma curandeira... ela viveu uma das guerras mais sangrentas da história e é, por isso, que as suas capacidades são invulgares.

As personagens evolvem de forma bastante previsível e concordante à componente romântica, mas contrariamente ao que acontece com outros romances históricos, os protagonistas têm as suas "falhas", que advêm da sua situação (Claire) ou educação (Jamie). E a autora não nos poupa aos resultadas de uma educação em que as mulheres eram consideradas "inferiores".

Não nos poupa também à violência inerente do período. Algumas cenas são perturbadoras, mas nenhuma é gratuita. O vilão é, talvez, algo estereotipado, mas as suas acções não fogem aos parâmetros estabelecidos pela História e pela autora.

No geral, adorei. Não é um livro perfeito, mas é muito bom. Tem romance, acção, aventura, personagens carismáticas e complexas e o ritmo é pausado e gradual, mas sempre interessante. Recomendado para todos os amantes de ficção histórica (se não se importarem com a forte componente romântica).

Comentários

Telma T. disse…
Fico contente que tenhas gostado tanto, considerando a quantidade de romances históricos que lês (tendo assim tantos termos de comparação).
É uma série de TV, que vai ter 16 episódios.
slayra disse…
Ah. OK. Ainda bem, assim dá para desenvolver mais a história. :)
WhiteLady3 disse…
\o/ Adoro quando seguem as minhas recomendações e gostam tanto ou mais do que eu! O conflito entre jacobitas e ingleses é mais visível no segundo livro, onde também há um retrato interessante da sociedade francesa há época. De resto é mesmo pelo retrato que a autora faz da época que tenho lido as milhentas páginas que compõem a série, é bastante credível.

Agora o meu problema neste livro foi mesmo o vilão. Não o ele ser estereotipado, porque a cena com o Jamie é algo que não encontrei em mais lado nenhum, de tão sádico que acaba por ser, mas por ele ser EXACTAMENTE como o marido e tornar assim bem mais fácil o facto de ela se entregar nos braços do Jamie.

Btw, continua a ler, acho que és capaz de vir a gostar do Roger. :D