Opinião: Leviatã (Scott Westerfeld)


Editora: Vogais (2011)
Formato: Capa Mole | 335 páginas
Géneros: Fantasia, Steampunk, Ficção Histórica, Ficção Científica, Lit. Juvenil
Descrição (GR): "É o início da I Guerra Mundial, mas num mundo alternativo de que nunca ouviste falar. Os Germânicos lutam com máquinas de ferro a vapor carregadas de armas. Os Britânicos lutam com bestas darwinistas resultantes do cruzamento de vários animais. Alek é um príncipe germânico em fuga. A única máquina de guerra que possui é um Marchador, com uma tripulação que lhe é leal. Deryn é do povo, uma britânica disfarçada de rapaz que se alista para lutar pela sua causa - enquanto tem de proteger o seu segredo a todo o custo. No decorrer da guerra, os caminhos de Alek e Deryn acabam por se cruzar a bordo do Leviatã, uma baleia-dirigível e o animal mais imponente das forças britânicas. São inimigos com tudo a perder, mas na verdade estão destinados a viver juntos uma aventura que vai mudar a vida de ambos para sempre."
(A edição lida está em inglês, mas apresentam-se os dados da portuguesa).

"Leviatã" (Leviathan no original) é o primeiro livro da nova trilogia de Scott Westerfeld, o aclamado autor da série "Uglies".

A história centra-se em dois jovens de 15 anos, residentes em países inimigos durante a Primeira Guerra Mundial.
Deryn, a heroína é uma escocesa que sempre desejou fazer parte da Força Aérea britânica... infelizmente é uma mulher e não pode juntar-se ao exército pelo que tem de se disfarçar de rapaz; Alek é nem mais nem menos do que o filho do arquiduque do Império Austro-Húngaro e vê-se obrigado a fugir com um punhado de servos leais após um golpe de estado. Os caminhos destes adolescentes vão cruzar-se e terão de aprender a confiar um no outro apesar de estarem em campos opostos.

"Leviatã" é uma obra ambiciosa que procura conciliar um período histórico complicado com uma realidade alternativa também... complicada. A juntar a todos os factores económicos e políticos que levaram à Primeira Guerra Mundial temos também a declarada rivalidade entre potências que advém do facto de usarem sistemas tecnológicos diferentes. Os Alemães e os Austríacos usam máquinas a vapor para quase tudo (sendo típicas nações steampunk); já os Britânicos e os Franceses preferem fiar-se naquilo que a natureza lhes pode dar... com uma ajuda. Graças ao trabalho de Darwin são capazes de manipular ADN de forma a criar novas criaturas que servem também como máquinas de guerra.

Neste ambiente carregado, seguimos então as histórias de Alek e Deryn enquanto cada um luta pela sobrevivência em circunstâncias adversas.

Como disse, uma obra ambiciosa, especialmente porque se destina a um público mais jovem que pode facilmente aborrecer-se com o tema. No entanto, Scott Westerfeld conseguiu com um elevado grau de sucesso, criar um mundo onde a história e a fantasia se misturam para formar uma realidade alternativa.

Apesar de não andar com disposição para leituras, este livro conseguiu manter o meu interesse porque achei a ideia dos Darwinistas e das suas "criaturas" (beasties na versão inglesa) tão original que tive de continuar a ler para ver como 'funcionavam'. Infelizmente neste primeiro livro não nos é explicado esse processo é-nos apenas dada uma versão muito geral de como tudo aconteceu; supostamente, Darwin descobriu como manipular ADN... é inverosímil, especialmente se considerarmos que tudo isto se passou no século XIX, mas pronto... isto é um livro juvenil e animais mutantes são uma fórmula de sucesso.
As máquinas a vapor (que pelos desenhos e descrições fazem lembrar mechas - robôs gigantes) dos Austríacos são menos impressionantes.

Ou seja, no que diz respeito ao 'mundo' Westerfeld conseguiu criar algo intrigante que nos mantém colados às páginas apenas pela original premissa de baleias voadoras e morcegos comedores de metal. No entanto, penso que com ideias tão interessantes, o autor podia ter feito muito mais. Como mencionei anteriormente o assunto é abordado de forma sucinta, tendo o autor preferido descrever com mais minúcia as batalhas por que passam os protagonistas e todos os aborrecidos passos que cada um tem de dar e quantas vezes a Deryn tem de andar a saltar de corda em corda. Basicamente sacrificou-se a coerência geral da história pelo tipo de acção e aventura que interessará mais ao público alvo. Honestamente penso que este livro poderia ter sido melhor desenvolvido se tivesse sido escrito para adultos.

Mas mesmo assim é uma ideia interessante. As personagens e a história, por outro lado, sofrem por serem irritantemente formulaicas. Os heróis da trama são um príncipe caído em desgraça e uma rapariga disfarçada de rapaz. Ambos têm 15 anos mas agem como se tivessem 12. As suas atitudes são demasiado infantis. Aliás todo o livro têm uma espécie de "aura" que grita "livro infanto-juvenil": desde as personagens às descrições e à simplicidade do enredo (e mesmo as ilustrações) dão a ideia de que este livro foi concebido para pré-adolescentes. O que, como disse, é uma pena porque o conceito é muito bom.

No geral: um livro interessante, especialmente para os amantes de steampunk e fantasia histórica. A base da história é sólida e o conceito apelará a muitos tipos de leitores diferentes. No entanto, a escrita e as personagens poderão deixar leitores mais adultos de pé atrás sobretudo se estiverem à espera de um enredo complexo apoiado numa sofisticada versão alternativa dos inícios do século XX. O facto é que este é um livro de aventuras; para que essas aventuras tenham lugar foram necessárias circunstâncias especiais, que o autor se apressou a criar. Mas o foco são as personagens (que até ao fim do primeiro livro têm muito pouco que se lhes recomende) e não o fantástico mundo que elas habitam.

NOTA: convém mencionar que algumas versões deste livro (penso que a portuguesa também) contêm ilustrações belíssimas que ajudam a visualizar as criaturas darwinistas e as máquinas a vapor. Achei uma boa adição ao livro, dada a faixa etária a que se destina.



Comentários

Unknown disse…
Eu li o "Uglies" e estou para pegar neste ha algum tempo... :)
Boa critica ;)
WhiteLady3 disse…
Belíssima crítica e responde exatamente às dúvidas que tinha. Infelizmente o que eu queria mesmo ver neste livro era a versão alternativa da história e não tanto um livro de aventuras (saltar de corda em corda? Really?). :/

Mas achas que o mundo pode ser expandido nos restantes ou é mesmo uma série juvenil?
slayra disse…
Sim acho que pode... agora só lendo é que se sabe se o autor faz isso. ^_^; Se nos basearmos apenas no primeiro livro acho que não é bem isso que ele têm em mente, mas não sei...