Opinião: Firefight (Brandon Sanderson)

Editora: Delacorte Press (2015)
Formato: e-book | 304 páginas
Géneros: Fantasia urbana, Ficção científica, Lit. Juvenil

Aviso: Alguns SPOILERS para o primeiro livro

Firefight, o segundo livro da série Reckoners retoma a ação alguns meses depois da derrota de Steelheart, o tirano que controlava Newcago. 

Sem Steelheart presente, os humanos começam lentamente a tomar o controlo da cidade e estabelece-se um governo. Ao mesmo tempo, os Reckoners, dos quais David faz agora parte, protegem a cidade contra os Épicos que aparecem, decididos a tomar o lugar de Steelheart. 

Contudo, depressa se torna evidente que uma outra Épica de grandes poderes, Regalia, a governante da antiga cidade de Manhattan, está a atrair os Reckoners para a sua cidade. O que quererá Regalia?

Babylon Restored, o novo nome de Manhattan é uma cidade estranha, onde a água tomou conta da maioria do terreno, onde cresce fruta luminescente e onde os graffitis espalhados pelos telhados dos edifícios mais altos (os únicos que não se encontram debaixo de água) dão luz a uma cidade sem eletricidade.

Os Reckoners de Newcago encontram-se com a célula de Babylon Restored e investigam a situação na cidade, uma vez que Regalia parece ter-se fartado do seu reino relativamente benevolente e quer destruir a cidade.

Este segundo livro foi tão agitado e repleto de ação quanto o primeiro. Os nossos heróis não descansam por um momento, enquanto investigam o que se passa na cidade. Segredos, desconfiança e traições minam os Reckoners e, especialmente, a relação entre o Prof e David.

Megan aparece também neste livro, sempre em conflito consigo mesma mas, cada vez mais, interessada em ajudar David.

Foi mais uma leitura rápida, viciante e intrigante. Sanderson desenvolve muito mais as personagens neste segundo livro, especialmente Megan e o Prof. A trama está bem escrita e leva o leitor a tentar perceber o que se passa com as pistas que lhe são deixadas, mas não me parece que sejam claras o suficiente e o desfecho do enredo acaba por ser um bocado aleatório (ou seja, não parecia ser o caminho que a história estava a levar).

Neste volume, sabemos também mais acerca das origens dos poderes dos Épicos, acerca da sua relação com Calamity e acerca das fraquezas de cada Épico e a razão pela qual são, por vezes, tão estranhas.

No geral, continuo a achar que as "lições" e as "mensagens" destes livros são pouco subtis e complexos, mas mesmo assim diverti-me imenso com mais esta leitura. 


Da mesma série:
  1. Steelheart

Outras obras do autor no blogue:

It's Monday! What are you reading?

Volta, após várias semanas de ausência, o "It's Monday! What are you reading?". Esta semana, volto aos livros de Ken Follett.

Uma Fortuna Perigosa - Ken Follett


Rubrica da autoria de The Book Journey.

Opinião: Steelheart (Brandon Sanderson)

Editora: Orion Books (2013)
Formato: Capa mole | 386 páginas
Géneros: Fantasia urbana, Ficção científica, Lit. Juvenil

Steelheart é mais um dos muitos livros de Brandon Sanderson que cá vieram parar a casa depois de eu ter lido a trilogia Mistborn ("Nascida das Brumas", em Portugal).

Ao contrário da maioria dos livros do autor, Steelheart não é fantasia clássica e/ou épica; é fantasia urbana misturada com um pouco de ficção científica.

Num futuro próximo, um evento denominado "Calamidade", teve consequências... desastrosas. Várias pessoas sofreram mutações e começaram a ganhar poderes que pura e simplesmente desafiam todas as leis naturais. Mas estes indivíduos, os chamados "Épicos", não são o que se poderia chamar heróis; de facto, todos eles mostram uma propensão para a maldade e a megalomania.

Dez anos depois da Calamidade, os Estados Unidos estão em ruínas. A maioria dos seres humanos vive em condições miseráveis e é dominada pelos Épicos.

O nosso protagonista, David, vive na cidade dominada de Chicago (agora, "Newcago"), onde um Épico com poderes impressionantes, que se chama a si próprio "Steelheart" (Coração de aço), reina com um punho de ferro (eh!).

Criado nas ruas subterrâneas e de aço da cidade, David tem apenas uma coisa em mente: vingança contra o aparentemente invencível Steelheart, o Épico que matou o seu pai. E o grupo que o pode ajudar a conseguir essa vingança, os Reckoners, está em Newcago. 

Como não podia deixar de ser, uma vez que se trata de um livro de Sanderson, gostei desta leitura. Foi uma leitura compulsiva, porque o autor mantém sempre um ritmo acelerado, com muitas cenas de ação que nos deixam colados ao livro.

Não achei que o autor tenha explorado a sua mitologia tão a fundo neste livro como o faz nos seus livros de fantasia épica (o que, como devem calcular, foi um pouco frustrante), mas creio que talvez isto se deva ao facto de se tratar de uma série planeada para ser mais longa... ou talvez não, não sei. Mas aprendemos muito pouco sobre a Calamidade e sobre os Épicos neste livro, que é muito focado na ação imediata de eliminar Steelheart.

O que mais me chamou a atenção neste livro foi o número de coisas que parecem ilógicas... se há coisa que este autor preza é uma mitologia bem construída, mas neste livro ele faz questão de frisar que tanto os poderes como as "kryptonites" dos Épicos fazem pouco sentido. Pelo que estou em pulgas para saber como é que eles têm estes poderes tão estranhos.

Sanderson explora neste livro (na série) o conceito do "poder corrompe", de uma forma bastante literal, mas interessante. Confesso que acho a sua abordagem pouco subtil, mas não foi por isso que gostei menos da leitura.

O mundo é aquilo a que muitos autores já nos habituaram em distopias pós-apocalípticas, com os governos totalitários, a tecnologia mais avançada mas por pouco e mesmo assim sujeita a falhas e, sobretudo, um mundo destruído devido à ânsia de poder de alguns indivíduos.

As personagens são interessantes (ou seja, dá gosto ler sobre elas, tê-las como protagonistas), mas não foram particularmente desenvolvidas neste primeiro livro.

No geral, uma leitura bastante agradável. Como sempre, a imaginação do autor merece parabéns. No entanto, considero que este Steelheart fica um pouco aquém de outras obras do autor. Talvez seja pela localização mais familiar ou pela exploração simplista de um conceito que daria pano para mangas, mas pareceu-me que o autor foi um pouco preguiçoso. Mas isto poderá dever-se ao facto de este livro se destinar a um público mais jovem (juvenil/young adult); ou talvez o autor esteja a planear um maior desenvolvimento nos livros seguintes.


Mais livros do autor no blogue:

Opinião: How to Tame your Duke (Juliana Gray)

Editora: Headline Eternal (2013)
Formato: Capa mole | 320 páginas
Géneros: Romance histórico

Mais uma autora que nunca tinha lido, mas cujo livro estava nas minhas prateleiras há já algum tempo (menos do que o normal, no entanto).

Esta série (A Princess in Hiding) faz uso de outra das minhas temáticas favoritas neste género de livros: a rapariga mascarada de rapaz (eu sei, eu sei que é bastante irrealista, mas é divertido).

Emilie, Stephanie e Luisa são três princesas de um pequeno principado alemão. Após o assassínio do seu pai e do marido de Luisa (a irmã mais velha), presumivelmente por um grupo de anarquistas, as três princesas fogem para Inglaterra, de onde era originária a sua mãe. 

O tio delas, o Duque de Olympia, engendra um plano para as esconder de potenciais assassinos ou raptores enquanto ele investiga o caso. O plano consiste em mascarar as três raparigas de rapazes e mandá-las para locais diferentes em Inglaterra.

Este livro foca-se em Emilie, a irmã do meio, que é mandada para a propriedade rural do Duque de Ashland, para ser tutor(a) do filho deste, Freddie, de 15 anos.

O duque sofreu mazelas graves do seu tempo em combate e isola-se devido a isso e ao abandono pela sua mulher, mas Emilie sente-se atraída por ele. Quando surge uma oportunidade de se tornar sua amante, Emilie não resiste. Mas o duque não sabe que a sua amante e Mr. Grimbsy, o tutor de Freddie são a mesma pessoa.

Este livro foi... absurdo. A premissa não encaixa e não é minimamente realista, mesmo tendo em conta o facto de que é muito difícil fazer uma mulher passar por homem (especialmente na Inglaterra vitoriana). Ok, logo aí temos um problema, mas estranhamente há autores que conseguem. Mais ou menos. Neste livro, não é realista porque o duque passa imenso tempo com Emilie na qualidade de amante e nunca suspeita sequer que Mr. Grimbsy é a mesma pessoa. O quê?

Este é um daqueles romances históricos que vive do romance e da sensualidade da situação (ao invés da investigação cuidada da época e do desenvolvimento profundo das personagens), o que não me incomoda de sobremaneira (gosto de ler ambos os "subtipos"), exceto pelo facto de este livro não mostrar um romance especialmente convincente. O duque apaixona-se à primeira vista por uma mulher que mal conhece (ou seja, queria era ir para a cama com ela), parece adorá-la exageradamente mas, novamente, não se apercebe que a Emilie e o Grimbsy são a mesma pessoa.

A parte com mais ação lá mais para o fim também me pareceu um pouco forçada.

O que salva este livro (para além do facto de ser uma leitura rápida e com uma escrita competente) é o filho do duque, Freddie, que é um personagem bastante engraçado.

No geral, uma leitura mediana. Gostei, mas não acho que o livro tenha algo de distintivo dentro do género e tendo em conta que já vou em 180 romances deste género, lidos, penso que começo a procurar algo que não seja tão... cliché, escrito até à exaustão. Mas, para quem está a começar dentro do romance histórico, poderá ser uma leitura engraçada.

Opinião: Um Amor Quase Perfeito (Sherry Thomas)

Editora: Quinta Essência/Leya (2011)
Formato: Capa mole | 328 páginas
Géneros: Romance histórico

Aviso: (Pequenos) spoilers.

Este parece ser o mês dos romances históricos, por isso porque não "abater" mais um livro que está nas minhas prateleiras e que, por acaso (só por acaso), é um romance histórico.

Como já devo ter dito centenas de vezes, o tema "casamento arranjado/casamento com problemas" é dos meus favoritos em romances históricos. Por isso preparei-me para uma boa leitura com este Um Amor Quase Perfeito (Private Arrangements).

E tive-a. Mas nunca esperei que fosse também uma leitura tão intensa, até porque Sherry Thomas é, já reparei, uma escritora mais vocacionada para as relações realistas do que muitas outras autoras dentro do género, e consequentemente os seus romances têm menos sensualidade e menos "romance". Ou seja, o romance é mais discreto, mais "fogo lento" do que "explosão instantânea" (no pun intended). Mas os seus livros não deixam de ser por isso boas leituras, cheias de pormenores históricos interessantes e fruto, obviamente, de uma pesquisa alargada (lembram-se de quando falei da pesquisa que muitos autores dos chamados "boddice-rippers" fazem e de como estes livros podem ser ricos em historicidade, como podem captar bem a época? Este livro fá-lo).

Estamos em 1883. Phillipa "Gigi" Rowland é filha de um industrial e de uma mulher da baixa nobreza rural. Uma família muito rica, certamente, que aspira a entrar na alta sociedade, algo que pode acontecer apenas se Gigi casar bem. E ela consegue o maior dos triunfos, ficar noiva do filho de um duque empobrecido. Mas quando o noivo morre num acidente, Gigi pensa que tudo acabou... até conhecer Lorde Tremaine, o novo herdeiro do ducado.

Camden, Lorde Tremaine, levou a vida toda a contar tostões, apesar de ser primo de um herdeiro a duque inglês e aparentado com metade das casas reais europeias. Mas, homem de palavra, não aceita a proposta de casamento de Gigi, quando esta a faz. Isto porque Camden já está comprometido com outra mulher.

Após algumas circunstâncias, Camden acaba por aceitar Gigi... mas não apenas porque ela pode saldar as dívidas da família. Camden ama-a e sabe que Gigi também o ama. 

Mas uma terrível traição vai separá-los durante dez anos, até que Gigi decide fazer algo escandaloso: pedir o divórcio. Camden, que vivera separado da mulher, nos Estados Unidos, volta a Inglaterra e pede apenas uma coisa: um ano de relações conjugais, para que ela lhe dê um herdeiro.

A história do livro vai alternando entre 1883 e 1893 e ficamos a saber como os protagonistas se conheceram, como se apaixonaram e porque acabaram por se separar. Na narrativa presente, vemos o evoluir dos sentimentos dos dois, os entraves colocados pelo passado e a forma como ambos viveram a vida. É claro que a questão aqui não é falta de afeto, o que me agradou imenso; a maioria dos romances históricos passam a ideia de que o amor vence e conquista tudo, mas este romance diz-nos que não. Que há coisas que podem estragar até o amor. Claro que, sendo este livro um romance histórico, creio que não será nenhum "spoiler" dizer que tudo acaba relativamente bem (até para a mãe de Gigi).

No geral, gostei das personagens. Gostei do facto de não serem demasiado torturadas, de serem realistas enquanto protagonistas. Gostei da escrita da autora, do detalhe histórico, do facto de o realismo e racionalidade do romance fazer com que esta seja, de facto, uma grande história de amor. Recomendado.


Outras obras da autora no blogue:

Opinião: Conspiração Mortal (J.D. Robb)

Editora: Chá das Cinco/SdE (2011)
Formato: Capa mole | 333 páginas
Géneros: Mistério, Romance contemporâneo, Ficção científica

(A versão lida está em inglês, mas apresentam-se os dados da edição portuguesa.)

Para mudar um pouco "de ares", decidi retomar a leitura da série "Mortal" de J.D. Robb (ou Nora Roberts). A minha última leitura, em finais de agosto do ano passado, tinha sido pouco satisfatória, talvez porque tinha andado a ler os livros todos de seguida e, assim, foi-me difícil não reparar que as histórias eram sempre parecidas.

O oitavo livro não foge muito à fórmula a que J.D. Robb já nos habituou em livros anteriores, mas desenvolve as personagens principais e introduz um crime que, mesmo sendo cometido por uma pessoa mentalmente instável, se distingue um pouco dos crimes anteriores.

Eve é chamada a uma cena de um crime, cuja vítima é um sem abrigo. Devido à sua filosofia, Eve sente que tem de "defender os mortos", independentemente da sua classe social pelo que, apesar de muitos polícias não se importarem muito com tais mortes, Eve irá fazer tudo para descobrir o culpado. Além disso, o coração do sem abrigo, de nome (ou alcunha) Snooks, foi levado. Eve, cedo suspeita que um cirurgião profissional possa estar envolvido no caso.

A sua investigação leva-a a descobrir que crimes semelhantes tiveram lugar em diversas cidades não apenas nos EUA mas também na Europa. À medida que Eve se aproxima do culpado, forças poderosas tentam impedir a sua investigação das mais diversas formas... parece que este assassino tem boas ligações.

Como disse, este livro não foge muito do estilo dos anteriores. No entanto, há mais tensão e um maior sentido de urgência, porque o assassino tem alguma influência em diversos meios políticos e Eve sofre alguma pressão para encerrar a investigação. Pressão essa, que não a impede de continuar, até que os seus inimigos tomam medidas drásticas.

Gostei deste livro devido à tensão que mencionei acima e porque, pela primeira vez, vemos Eve completamente vulnerável. Ela que é sempre tão dura e pronta para todas as situações, que vence constantemente os seus fantasmas, mostra-nos, neste livro, um lado mais humano. E Roarke também, de certo modo. Apesar dos constantes "Amo-te", de ambas as partes, senti que neste livro a relação deles foi testada pela primeira vez, realmente testada e isso deu mais alguma profundidade às personagens.

No geral, uma leitura que me agradou. O intervalo que fiz entre leituras de livros desta série ajudou certamente, mas penso que este livro é mais rico do que alguns dos anteriores, em alguns aspetos. Explorou-se um tipo diferente de crime, a questão da ética nas experiências médicas e ficámos a saber um pouco mais sobre como funciona a medicina em meados do século XXI.


Da mesma série:
  1. Nudez Mortal
  2. Glória Mortal
  3. Fama Mortal
  4. Êxtase Mortal
  5. Cerimónia Mortal
  6. Vingança Mortal
  7. Oferenda Mortal

Opinião: Ligeiramente Perverso (Mary Balogh)

Editora: ASA (2014)
Formato: Capa mole | 368 páginas
Géneros: Romance histórico

Há livros, dos quais gostamos apesar dos muitos defeitos que obviamente têm. Ligeiramente Perverso, o segundo livro da Saga Bedwyn, da autoria de Mary Balogh, é um desses livros (para mim, bem entendido).

Judith Law é filha de um pastor anglicano e a sua família tem alguma classe, embora não possa nunca ter a pretensão de se dar com a alta sociedade. Mas Banwell, o único rapaz de uma prole de cinco irmãos, tem outras ideias e gasta quase todas as poupanças da família para tentar alcançar o estilo de vida dos seus amigos mais ricos. 

Como consequência, Judith é enviada para casa da irmã do pai, Lady Effingham, que fez um bom casamento e é esposa de um baronete. Será uma "parente pobre", pouco mais do que uma criada a quem a família não paga. Qualquer oportunidade de casar ou de ter uma vida independente desaparece para Judith, com esta reviravolta.

Mas, durante o caminho, a diligência onde Judith viajava sofre um acidente e quando um desconhecido que ia a passar a convida para ir com ele no seu cavalo pedir ajuda para os outros viajantes, ela aceita. Porque o seu futuro iria ser para sempre cinzento, Judith decide que esta aventura será aquilo que a susterá durante o resto da sua vida. 

O desconhecido é Rannulf Bedwyn, originário de uma das melhores famílias de um reino, irmão de um duque e bastante rico. 

Os dois acabam numa estalagem e quando Ralf, atraído por Judith, a convida para partilhar a sua cama, ela aceita (aventura de uma vida e tudo o mais). Ambos utilizam identidades falsas e enquanto Judith pensa que ele é um cavalheiro de classe mais baixa ele pensa que ela é Claire, uma atriz.

No entanto, os seus destinos voltam a cruzar-se quando Rannulf chega à propriedade da sua avó que é mesmo ao lado da dos Effington. Com Rannulf a cortejar a filha dos Effington, prima de Judith, esta última pergunta-se o que poderá acontecer e se poderá ser descoberta.

Como disse, há livros de que gostamos contra todo o senso e diverti-me imenso a ler Ligeiramente Perverso. Oh, o livro tem imensos problemas, desde o facto de ser previsível nalguns aspetos (que não o romance, porque aí estes livros são sempre previsíveis) ao facto da atitude inicial da heroína (perder a virgindade com um homem sem medo das consequências) não encaixar nem com a personalidade que demonstra mais tarde nem com a época.

Mas, mesmo assim gostei. Talvez tenha sido o facto de este livro ser uma mistura da história da Cinderella, com uma tia e uma prima más que fazem tudo para que a Judith não seja notada, com Orgulho e Preconceito, uma vez que o herói apanha uma valente descompostura da heroína quando pela primeira vez lhe propõe casamento. E talvez tenham sido também as duas avós da história, a de Rannulf e a de Judith (especialmente a de Judith), que são personagens fofinhas e verdadeiramente engraçadas. E, claro, a escrita da autora ajuda.

O romance não foi particularmente realista e o livro não é particularmente sensual (apesar da capa e do título), mas houve mais aspetos positivos do que negativos.

No geral, uma leitura rápida e agradável. Houve alguns aspetos que podiam ter sido aprofundados, como as inseguranças de Judith e a personagem de Rannulf em geral, que nunca ganhou verdadeiramente vida. As discrepâncias relativamente ao período também poderiam ter sido evitadas, mas não constituíram uma falha grave, se não se estiver à espera de um grande rigor histórico. O romance, poderia ter sido mais verosímil. Apesar de tudo isto... até nem desgostei. 


Outros livros da série:
  1. Ligeiramente Casados

Opinião: The Diabolical Miss Hyde (Viola Carr)

Editora: Harper Voyager (2015)
Formato: e-book | 464 páginas
Géneros: Ficção histórica, steampunk, fantasia urbana

Decidi ler este livro depois de ver uma opinião muito positiva do mesmo no blogue Smart Bitches, Trashy Books. Pareceu-me uma transição interessante dos romances históricos que andava a ler para outros géneros (neste caso, fantasia urbana, steampunk e mistério), por isso arrisquei.

"The Diabolical Miss Hyde" é, sem dúvida, uma leitura multifacetada, que mistura diversos géneros e linhas de ação de forma mais ou menos coerente e eficaz.

Eliza Jekyll vive numa época vitoriana um pouco diferente da que conhecemos. Invenções diversas permitiram a utilização de eletricidade nas mais diversas máquinas, desde o sistema elétrico comum (iluminação de ruas e de casas), até meios de transporte (como o metro), entre outros. O estado parece também ser muito mais totalitário, com a Sociedade Real, uma organização dedicada à ciência e dedicada também a erradicar aquilo que considera crendices (magia, por exemplo) e "heresias científicas", a ter um comando quase total da sociedade.

No entanto, tal como na nossa época vitoriana, as mulheres são também consideradas seres inferiores. É por isso que Eliza encontra tanta contestação à sua ocupação: médica e médica legista.

Eliza tem também de ter muito cuidado com a Sociedade Real, porque ela tem um segredo sombrio: tal como o seu pai, Dr. Jekyll, também Eliza tem uma "sombra" ou segunda personalidade dentro de si: Lizzie Hyde, uma mulher desenrascada e sociopata. 

O livro abre com Eliza e o seu amigo inspetor da polícia (cujo nome não me lembro) a investigar um assassínio brutal de uma mulher. Remy Lafayette, um agente da Sociedade Real, aparece na cena do crime e Eliza pensa que finalmente foi descoberta.

Este livro foi certamente uma leitura interessante. Já tinha lido um livro que misturava steampunk com elementos do livro The Strange case of Dr. Jekyll and Mr Hyde de Robert Louis Stevenson, mas foi uma obra para jovens adultos e sinceramente não gostei assim muito.

Já este "The Diabolical Miss Hyde" tem todos os elementos para uma boa leitura: um mundo interessante e bem construído, um mistério horripilante, elementos sobrenaturais subtis e uma heroína carismática (mais Lizzie do que Eliza, no entanto).

 A autora foi parcialmente bem sucedida na construção deste livro que explora tantas vertentes. O seu mundo inclui dois lados opostos e aparentemente irreconciliáveis: um mundo mágico onde as crianças têm caudas de rato e as pessoas fazem magia e um outro mundo onde inovações tecnológicas e experiências científicas aprovadas são postas ao serviço da sociedade. É também um mundo à beira da revolução social e política.

Achei o mundo imaginado por Carr muito intrigante e bem conseguido. É descrito em termos claros (e muitas vezes num inglês mais das "classes baixas" pois é Lizzie quem fala) mas não deixa de ser fascinante e, talvez por ser apresentado de forma tão... crua, parece estranhamente realista.

As personagens de Lizzie e Eliza também me pareceram bem desenvolvidas e interessantes assim como Mr Todd, um assassino em série por quem Eliza tem uma paixoneta que se pode tornar mortal (Mr. Todd gosta de brincar com facas).

Este livro explora então estes mundos, as duas personalidades que vivem dentro de um só corpo e também um mistério, uma vez que Eliza é médica legista e está a investigar um crime. Na maioria das vezes, a autora consegue um equilíbrio mais ou menos balançado entre tudo isto; afinal, para desenvolver Eliza, Lizzie precisa de ter também tempo de antena e Eliza tem de ter alguma angústia emocional. O mistério é um pouco relegado para segundo plano e a resolução parece um bocado forçada, mas mesmo assim é um mistério intrigante.

A parte que mais sofreu, na minha opinião, foi a interação entre Eliza/Lizzie e o misterioso Lafayette. Isto porque Lafayette tem também os seus segredos, mas já se estava a passar tanto no livro que foi impossível fazer com que este personagem fosse mais do que um estereótipo do homem torturado e alfa.

No entanto e no geral, esta foi uma leitura extremamente satisfatória. Apesar da capa um bocado a pender para o boddice-ripper, este livro não se foca particularmente no romance (que, aliás, é quase inexistente, a não ser aquando das perturbadoras confissões de Mr. Todd), mas sim no desenvolvimento de personagens (quase sempre) complexas, de um mundo original e intrigante e de um mistério que fará as delícias de quem gosta deste género (especialmente mais na onda de "Mentes Criminosas"). Recomendado! 

Novidade Marcador (e um bom presente para o Dia do Pai): 1089 de Emílio Miranda

UM ROMANCE SOBRE AS ORIGENS DE PORTUGAL

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO
AS LUTAS DOS HOMENS
Ano de 1089. Uma nação em formação ergue-se na bruma do tempo, movida pelo forte e leal braço do povo, pelo arrojo de senhores feudais e pela fé nos ditames da Igreja e dos seus ministros. Num velho mosteiro, são muitas e sinceras as preces, mas também as manobras pela conquista do poder nesse novo território.

O DESTINO DE UM POVO
1089 relata, de forma precisa, viva e cativante, os dias da fundação de Portugal tendo como palco central as terras de um mosteiro beneditino. E não deixa de fora relatos da ambição dos homens e, em particular, dos da Igreja, com os seus segredos e jogos de luz e sombra. 

EMÍLIO MIRANDA nasceu em Luanda, Angola, em 1966. Em 1975, fruto da guerra colonial, vem viver para o Norte de Portugal, de onde os pais são originários, mais concretamente para a aldeia de Lordelo, próxima de Vila Real, onde mais tarde passou a residir. É o contacto com esta nova realidade – de espaços abertos no verão e horizontes fechados nos longos invernos – que definitivamente o vai marcar. Uma realidade na qual conviveu com costumes como a matança do porco, a vindima e a pisa do vinho, com a agricultura regida por preceitos tradicionais. Foi com essa mistura mágica das práticas religiosas com as pagãs que também cinzelou esse território. 

 À VENDA A PARTIR DE 17 DE MARÇO

Opinião: The Sum of all Kisses (Julia Quinn)

Editora: Little, Brow Book Group (2013)
Formato: Capa mole | 373 páginas
Géneros: Romance histórico

Quando comecei a ler romances históricos, comecei pela Amanda Quick e pela Julia Quinn e esta última tornou-se uma das minhas escritoras preferidas dentro do género. Adorei, especialmente, os primeiros seis livros da sua série "Os Bridgertons" e a obra "Minx" é uma das poucas a que dei cinco estrelas no Goodreads. 

O facto de gostar tanto da Julia Quinn prende-se, primeiro com o seu humor e personagens divertidas e segundo com os romances fofinhos. 

Mas, tenho notado que é muito difícil um escritor manter-se original e continuar com a mesma qualidade, depois de já ter escrito umas boas dezenas de livros. E isto tem acontecido com a Julia Quinn, infelizmente. As suas últimas obras têm sido "mais do mesmo".

Foi o que senti relativamente a "The Sum of all Kisses", o terceiro livro da série "Smythe-Smith Quartet". Quem já leu livros da série Bridgerton já ouviu certamente falar dos eventos musicais dos "Smythe-Smith", onde quatro jovens apresentam um número musical a uma plateia sofredora. Esta série foca-se nas jovens que têm de estar na ribalta, muitas delas com a consciência perfeita que não são boas músicas.

"The Sum of all Kisses" tem como protagonista Sarah Pleinsworth, filha de um Conde e prima dos Smythe-Smith (do lado da mãe, claro). Sarah viveu dolorosamente a tragédia que tocou os Smythe-Smith (devido a um duelo, o filho mais velho dos Smythe-Smith e herdeiro ao título de Conde - esta família parece ter muitos - teve de fugir para a Europa e viver exilado) e a família mais próxima.

É por isso que ela odeia Lord Hugh Prentice, que foi o causador da tragédia, quando, há três anos, desafiou Daniel Smythe-Smith para um duelo. Hugh ficou com mazelas devido a um tiro errante e o pai dele jurou vingar-se. Por isso Daniel fugiu.

Hugh quer apenas uma vida calma, mas os fantasmas perseguem-no: ele tem uma perna que não funciona bem e culpa-se pela tragédia que se abateu sobre a família do amigo, os Smythe-Smith. Mesmo quando Daniel volta para Inglaterra, Hugh tem dificuldades em acreditar que aquele o tenha perdoado. Por isso vive atormentado e a antipatia de Lady Sarah Pleinsworth não ajuda.

Mas, forçados a estar juntos devido a dois casamentos na família, Sarah e Hugh terão de conviver, conhecer-se melhor e, talvez, perceber que estavam errados relativamente às suas perceções.

Este livro tem muito de "Orgulho e Preconceito", na medida em que os protagonistas têm uma ideia errónea um do outro e vão ser forçados a estar juntos e a repensar essa ideia.

O que me incomodou neste livro é que tudo é muito... brando. A história é incrivelmente dramática, mas não senti as emoções que deveriam estar por detrás do discurso inflamado de Sarah ou da "auto-depreciação" de Hugh. Todas as "postas de pescada" (perdoem-me a expressão peixeira) trocadas entre os protagonistas me pareceram vazias e sem fogo e isso fez com que me fosse difícil acreditar na mudança de sentimentos que se operou.

Outro aspeto: Sarah foi algo irritante (e o mesmo se pode dizer da sua família), porque julga Hugh por ter feito fugir Daniel e nunca para para pensar que se calhar Hugh também perdeu algo, como por exemplo, o uso normal da perna (só um exemplo). Isto pareceu-me bastante mau, especialmente porque na época não se podia estar sentado a ver TV, a maioria das atividades eram físicas (dançar, caçar, jogos, mesmo andar) e Lord Hugh está assim, bastante limitado, mesmo na escolha de profissões (não nos esqueçamos que, como segundo filho de um nobre, Hugh não tem direito a heranças, tem de fazer dinheiro por si próprio, ou seja tem de escolher o exército, a marinha ou o clero).

Isto fez-me comparar o livro de Julia Quinn aos dois últimos romances históricos que li, em que as atitudes das personagens estão cuidadosamente em sintonia com a sociedade da época e sinceramente, Julia Quinn fica a perder.

No geral, este não é, de todo o melhor livro de Julia Quinn. O seu ponto forte sempre foi a interação entre personagens, mas neste livro as mesmas não têm brilho, vivacidade ou espírito. Uma leitura rápida mas que me desapontou.


Outras obras da autora no blogue:

Opinião: To Charm a Naughty Countess (Theresa Romain)


Editora: Sourcebooks Casablanca (2014)
Formato: e-book | 384 páginas
Géneros: Ficção histórica, romance histórico

Por vezes, é complicado dar uma opinião sobre romances históricos como "To Charm a Naughty Countess". Toda a gente espera que um livro com a palavra "naughty" (marota, para quem quer saber), com uma mulher e rosas, e com um tipo de letra feminino e cheio de arabescos e curvas seja um livro formulaico, com foco no romance e com tanta substância como algodão doce.

Mas, por vezes, estes livros encerram surpresas e podem ser bastante interessantes. Para quem já está a torcer o nariz, asseguro que já vi os autores destes supostos "bodice-rippers" e "romances" tocarem em assuntos como a diferença entre classes, a Revolução Industrial e diversas doenças, geralmente do foro psicológico (como Síndrome de Asperger) e mesmo problemas de aprendizagem como a dislexia.

Também se deve louvar a pesquisa histórica que algumas autoras fazem; por mais que goste da Julia Quinn, tenho de admitir que os seus livros desenvolvem apenas superficialmente as complexidades da alta sociedade londrina do século XIX e até chegam a modernizá-la.

Mas, como disse, nem todos os romances históricos são assim (apesar das capas serem todas muito parecidas).

"To Charm a Naughty Countess" não se foca, ao contrário do que se poderia pensar, na sedução de uma condessa inglesa. Aliás, o romance neste livro é discreto e não nos é atirado na cara (nada contra isso... adoro esses romances históricos em que o "histórico" só lá está para que as personagens tenham uma dificuldade acrescida em irem para a cama); não é, diria eu, sequer o foco.

Este livro foca-se em Caroline Stratton, uma condessa viúva que é uma referência na alta sociedade londrina. Todos gostam dela e todos seguem a sua opinião.

Do outro lado do espectro, temos Michael, um duque empobrecido que sofre de um problema que, claro, ninguém conhecia no século XIX: ansiedade social. Por isso, Michael é considerado louco e decide refugiar-se na sua casa de campo, até que o estado das suas finanças o obriga a entrar no chamado "mercado de casamento" e a procurar uma herdeira com quem casar. E quem melhor para o ajudar do que Caroline, a mulher que dita as tendências da sociedade?

Mas Caroline e Michael têm um passado, que pode fazer com que a convivência entre eles seja difícil.

É sobre as dificuldades de Michael que o livro se debruça, claro, juntamente com a crescente (mas, novamente, discreta) atração entre os protagonistas. Mas, talvez porque ambos sejam já mais velhos do que a generalidade dos protagonistas (pelo menos femininos) neste tipo de livros, a "fogosidade" que costuma caracterizar estas relações (por vezes até ao ponto de se tornarem ridículas e irrealistas) não está presente no livro.

E Romain é uma das autoras que fez o trabalho de casa: não só a ação se passa num período altamente específico da história inglesa e europeia (1816, o Ano sem Verão), como a autora nos dá imensos pormenores interessantes acerca da forma como as novas tecnologias que utilizavam o carvão, o petróleo e o vapor se estavam a imiscuir na vida das pessoas. O nosso protagonista é um amante das novas invenções e tenta aplicar inovações agrícolas nas suas terras (com pouco resultado devido ao clima).

Adorei toda esta contextualização. Adorei a forma discreta e realista como o romance foi abordado. Adorei a forma como a autora explorou os problemas sociais de Michael e como estes afetam a sua relação com todos os que estão à sua volta, mesmo aqueles que Michael ama. Achei que foi feito de forma realista (tendo em conta a época) e informativa.

No geral, uma ótima leitura. Não, não temos muitas cenas sensuais, nem um foco quase completo no romance (coisa de que também gosto nos romances históricos, nada de enganos) mas isso não significa que não tenha gostado do livro. É algo diferente do que se esperaria, tendo em conta a capa e mesmo a sinopse, mas vale a pena ler. A meu ver, não difere muito de obras que são consideradas "ficção" histórica em vez de "romance" histórico. Recomendado.

Opinião: Vision in Silver (Anne Bishop)

Editora: Penguin Publishing Group (2015)
Formato: e-book | 416 páginas
Géneros: Fantasia, Fantasia urbana

Aviso: Spoilers dos livros anteriores
O terceiro livro da série "The Others" introduz, não apenas novas linhas de ação e novos desenvolvimentos, como lida com as consequências das ações levadas a cabo por Simon e os Outros a seu cargo em Murder of Crows, o segundo livro da série.

Os Outros libertaram as cassandra sangue, jovens humanas que conseguem ver o futuro através do derramamento do seu próprio sangue. Tiveram de o fazer, uma vez que estas jovens eram mantidas prisioneiras e o seu dom era oferecido a quem pagasse mais. 

No entanto, isto pode não significar uma melhoria de vida para as cassandra sangue, que sempre viveram em prisões douradas e que sentem dificuldades em adaptar-se às suas novas condições. Para além disso, estas jovens sentem o impulso de se ferirem a si próprias, o que dificulta a tarefas das pessoas que as recolheram, os Intuit.

É por isso que os Intuit pedem ajuda a Simon Wolfgard e aos habitantes do "Courtyard" de Lakeside; afinal, entre eles vive a única cassandra sangue que escapou e consegue viver uma vida relativamente normal: Meg Corbyn. E os Intuit precisam mesmo de ajuda, porque algumas das raparigas estão a suicidar-se. Meg terá de tentar descobrir como ajudá-las a adaptar-se à sua nova vida.

Por outro lado, as tensões entre humanos e Outros adensam-se, com a visibilidade cada vez maior do grupo "Humanos em primeiro e último lugar", que defende que os humanos têm direito a todos os recursos de Thaisia e não devem fazer acordos com os Outros para conseguirem recursos. Simon e o resto da Associação Comercial do "Courtyard", Tess, Vlad e Henry, terão de descobrir quais são os planos do grupo extremista, uma vez que as ações e a agitação contra os Outros estão a crescer nas cidades... e se os Outros que vivem nas "Terras Selvagens" decidirem que os humanos estão a causar demasiados problemas, o seu veredicto será claro: extermínio.

Como sempre, este foi um livro de leitura rápida e compulsiva. Bishop sabe definitivamente como manter a atenção do leitor. Em "Vision in Silver", Meg começa por ter uma visão quando efetua um "corte controlado" para tentar controlar a sua adição a cortar-se. Ela vê perigos para os Outros na crescente animosidade dos humanos para com os Outros.

Para tentar combater isto, Simon tenta criar pontos de entendimento entre humanos e Outros, mas tal revela-se difícil quando se apercebem que um grupo extremista tem um plano bem delineado para fazer com que as pessoas passem fome... e culpem os Outros por isso.

Achei que a narrativa neste livro se dividiu entre demasiadas personagens. Para além de Meg (que aliás aparece pouco no livro), temos Simon, uma cassandra sangue libertada, os Intuit, alguns membros da polícia de Lakeside, entre outros. Talvez a narrativa tenha, por isso, perdido um pouco o foco.

Este livro foi, sem dúvida, um livro que desenvolveu o enredo geral, ou seja, as complicadas relações entre humanos e Outros no continente de Thaisia e qual o caminho que irão tomar em livros subsequentes. Ficámos a saber que existem outras raças de Outros (eh) que não têm qualquer contacto com os humanos e que vampiros, animais inteligentes e elementais que controlam o fogo ou a água não são o pior que anda pelas terras de Namid. Relativamente ao enredo mais específico, relacionado com as personagens (especialmente Meg e Simon), não houve grandes desenvolvimentos, o que foi um bocado desapontante. Mas, mesmo assim, foi uma ótima leitura.

No geral, mais um livro fascinante de Anne Bishop. Apesar do mundo ser uma cópia do nosso, gosto imenso da mitologia que a autora desenvolve e estou a achar esta série muito interessante. Uma obra imprescindível para quem gosta de fantasia urbana e desta autora. Mal posso esperar pelo próximo da série!


Outros livros da série:
  1. Written in Red
  2. Murder of Crows (curta)

Opinião: The Serpent Prince (Elizabeth Hoyt)

Editora: Grand Central Publishing (2012)
Formato: Capa mole/bolso | 362 páginas
Género: Romance histórico

"The Serpent Prince" conclui a trilogia "Princes" de Elizabeth Hoyt, cujo primeiro livro, O Príncipe Corvo, foi publicado em Portugal pela Livros da Seda.

A série foi "descontinuada", pelo que se ficou pelo primeiro volume.

Lucy Craddock-Hayes, filha de um capitão naval reformado, vive uma vida calma no campo. Mas tudo muda quando encontra um homem nu e meio morto numa vala. Enquanto Lucy trata do desconhecido, que depois descobre ser o Visconde Iddlesleigh, o mesmo guarda cuidadosamente os seus segredos.

Simon Iddesleigh é um homem consumido pela vingança; o seu irmão mais velho foi morto devido a uma conspiração levada a cabo por quatro conjurados e Simon não descansará até ter morto, em duelo, todos os que tiveram um papel na morte de Ethan.

É essa vingança que faz com que seja atacado e deixado para morrer numa vala.

Mas quando os segredos de Simon ameaçam Lucy, que tanto o ajudou e por quem se está a apaixonar, ele sabe que tem de voltar para Londres e terminar o que começou.

Devo dizer que me senti bastante desapontada com este romance de Elizabeth Hoyt, que escreveu alguns dos romances históricos que mais gostei de ler dentro do género.

Este livro pareceu-me uma sucessão interminável de clichés, desde o herói desmesuradamente torturado à heroína pãozinho-sem-sal e super boazinha, sem um defeito que seja. Estas personagens estereotipadas não me fizeram investir no livro como deveria ter investido. 

O romance também não foi particularmente verosímil.

No geral, um livro pouco interessante. A escrita de Hoyt é boa, como sempre, mas faltou a "The Serpent Prince" paixão, tanto da sensual como por trás das motivações e das personalidades das personagens. Fraquinho, mas uma leitura rápida. Os livros da série publicada em Portugal (A Lenda dos Quatro Soldados) são mais interessantes.


Outras obras da autora no blogue:

Opinião: O Miniaturista (Jessie Burton)

Editora: Editorial Presença (2015)
Formato: Capa mole | 412 páginas
Género: Ficção histórica

"O Miniaturista" é o romance de estreia de Jessie Burton e tem sido um sucesso de vendas nos EUA. Segundo a capa, foi considerado um dos melhores livros de 2014 pela Waterstones.

Foi, em parte, por isso que comprei este livro. As outras razões incluem a maravilhosa campanha de marketing, a bela edição portuguesa (abram o livro, I dare you) e, claro, a sinopse, que me pareceu bastante interessante.

Esta obra foi, nalguns aspetos, bastante interessante. Nunca tinha lido um romance histórico focado nos Países Baixos e como não sei muito sobre a sociedade da época na região, foi bastante intrigante ler sobre a mesma e a sua evolução política, religiosa, social e cultural, em alguns aspetos tão diferente da do resto da Europa.

O livro centra-se em Nella Oortman, uma jovem de 18 anos de uma família rural aristocrata mas empobrecida, que se vê subitamente casada com um rico mercador de Amesterdão, chamado Johannes Brandt.

Nella chega à sua nova casa sem nunca ter conhecido bem o marido (apenas se viram na cerimónia de casamento) e mal preparada para a vida na grande cidade. A adaptação revela-se difícil: o marido é distante, a irmã do marido é autoritária e amarga e os criados tomam demasiadas liberdades. Nella sente-se deslocada, sozinha e como se não pertencesse a lado nenhum e vai encontrar consolo na compra de miniaturas para uma pequena casa, réplica da sua nova casa, que Johannes lhe oferece, como prenda de casamento.

Encomenda algumas miniaturas a um misterioso profissional, que começa depois a mandar-lhe cada vez mais miniaturas, que parecem prever as tragédias e segredos com que Nella terá de lidar na sua nova vida. À medida que Nella procura conseguir a identidade do miniaturista, a sua vida e a sua nova família começam a cair numa espiral de intrigas e segredos negros que podem ter consequências muito graves.

O enredo deste livro tinha tudo para ser genial: uma jovem largada no seio de uma nova família rica e poderosa, parte da elite e aparentemente de bem, mas também com muitos segredos e intrigas à mistura. E, claro, temos o miniaturista, uma figura misteriosa que adiciona ainda mais mistério e alguma magia subtil à história.

Podia ter sido bom, sim. Mas creio que a execução deixa muito a desejar, possivelmente porque é o primeiro livro da autora (e nota-se). O problema, para mim, enquanto leitora, é que este livro deveria ter sido... mais atmosférico. Mais misterioso. Mais... mágico. Mas não foi.

A autora não conseguiu criar a atmosfera que o livro merecia. Não acreditei na "magia" do miniaturista. Os segredos da família não me deixaram de boca aberta, quer por serem demasiado óbvios, quer por terem, pelo contrário, aparecido de repente, sem qualquer explicação racional ou premonição. Nella não é uma personagem suficientemente interessante para sustentar a narrativa, pelo que não consegui ligar-me a ela e sentir algo quando ela descobre o que realmente se passa na sua nova casa. O resto das personagens pareceram-me igualmente sem sal e bidimensionais. 

Gostei, como já mencionei, de ler sobre a cultura dos Países Baixos no final do século XVII, sobre o facto da sociedade ser bastante puritana e do contraste que a autora faz entre estas mentalidades e a realidade de uma cidade governada pela ganância e pela riqueza. Mas aquela magia que esperava sentir, não está lá. 

No geral, uma boa leitura dentro do género do romance histórico. A escrita da autora é competente e mesmo de leitura compulsiva, por vezes, mas o enredo não foi desenvolvido e falta qualquer coisa ao livro para o tornar especial.

Opinião: The Luckiest Lady in London (Sherry Thomas)


Editora: Headline Eternal (2013)
Formato: Capa mole | 304 páginas
Género: Romance histórico

Sherry Thomas, autora com algumas obras já publicadas em Portugal, é mais uma daquelas escritoras que têm livros que gosto bastante, mas outros que não gosto assim tanto. 

Este livro da autora, "The Luckiest Lady in London", é um daqueles que... não gostei tanto como desejaria. Não porque não é um bom livro e um bom romance histórico, mas porque lhe falta aquele componente que acho essencial todos os livros do género terem: a química entre as personagens. 

Louisa Cantwell tem de casar bem para se salvar a si e às suas irmãs da ruína. Por isso, quando a sua benfeitora a convida para uma Temporada em Londres, Louisa desenvolve um plano e modela-se segundo a imagem da debutante perfeita: nem demasiado entusiasta, nem demasiado aborrecida, sempre com um sorriso pronto e sempre bem arranjada, bonita e radiosa.

Assim, consegue ser um sucesso.

Felix Rivendale, o Marquês de Wrentworth é o cavalheiro mais popular de Londres, perfeito em todos os aspetos, tendo ganho até a alcunha de "O Cavalheiro Ideal". Mas, na realidade, Felix é manipulador e sarcástico e diverte-se imenso com o facto de conseguir mascarar tão bem a sua personalidade. Felix consegue sempre o que quer, quando quer... sem escândalos.

Mas Louisa pressente que Felix não é quem aparenta ser. E isso faz com que ele fique interessado nela. Tão interessado que faz tudo para a conseguir e Louisa não tem hipótese senão casar com ele no final da temporada.

Como disse anteriormente, este livro é interessante. Fala de duas personagens pragmáticas e pouco dadas a drama (apesar das suas vidas terem drama suficiente) e o herói não é necessariamente a melhor pessoa do mundo; ele é refrescantemente humano e nem por sombras demasiado dramático ou torturado.

De facto, gostei imenso das personagens e do "jogo do gato e do rato" que jogaram durante a Temporada londrina. Também gostei dos momentos de camaradagem entre os dois.

Sim, foi uma relação muito realista, a que estes dois personagens construíram. Infelizmente não era isto que procurava num romance histórico pelo que, apesar de achar que esta foi uma boa leitura, não adorei este livro. Faltou alguma química romântica às personagens, o que foi uma pena.

No geral, "The Luckiest Lady in London" é uma boa leitura, sim, mas não pode ser considerado um romance histórico típico, com foco na sensualidade (apesar de haver atração sexual entre as personagens, não senti isso enquanto leitora... as personagens limitaram-se a dizer que era isso que sentiam), no romance e na química. Foca-se mais no aprofundamento do conhecimento entre os protagonistas, na construção da sua relação a um nível não romântico. O que é interessante, objetivamente, mas não aquilo que estava à espera de ler, subjetivamente. Por isso, é difícil perceber até que ponto gostei deste livro, uma vez que não correspondeu às minhas expectativas mas não deixa de ser um bom livro. 


Outras obras da autora no blogue:

Opinião: Fated (Benedict Jacka)

Editora: Orbit (2012)
Formato: Capa mole | 322 páginas
Géneros: Fantasia Urbana

... ou "A razão pela qual não consigo escrever nada de jeito ultimamente... porque não há nada para escrever!". 

Sim, este é mais um livro de fantasia urbana que tinha cá por casa e que decidi ler. E sim, esta é uma das séries de fantasia urbana mais populares (pelo menos pelo número de vendas e/ou pessoas que leram os livros no Goodreads), mas tal como aconteceu com Rivers of London, senti-me algo defraudada depois de terminar a leitura (quase que poderia dizer que há dúzias de livros de fantasia urbana que mereciam mais a atenção, mas alas! São escritos por mulheres e o público masculino não se aproxima deles nem que lhes paguem).

Como descrever este livro? Pouco imaginativo, mal desenvolvido, com um protagonista irritante que tenta desesperadamente ser Harry Dresden (e falha redondamente).

Alex Verus é um "mago de probabilidades". Ou, podem apenas chamar-lhe um vidente. A única coisa mágica que Alex consegue fazer é ver todos os possíveis futuros associados, ainda que remotamente, à sua pessoa, e evitá-los. É quase impossível surpreender um "mago de probabilidades" (ou possibilidades), mas os inimigos de Alex fazem-no, neste livro, logo desde o início. Ou então ele é burro demais para não saber o que se passa, apesar do seu aparente acesso aos possíveis futuros. Then again, se ele tivesse analisado bem a situação, tinha fugido a sete pés e não havia livro.

Basicamente, o nosso herói é um pária, porque foi aprendiz de um Mago negro e depois não gosta do Conselho de Magos, porque eles são muito permissivos com os Magos negros. Os magos negros são, aparentemente, iguais aos Magos brancos em tudo exceto na filosofia [de vida], por isso poderia argumentar-se que algumas das pessoas do Conselho dos Magos são magos negros porque lhes faltam completamente os escrúpulos e matam indiscriminadamente. Mas para o autor, não. Penso que o objetivo era reavivar aquele argumento (já abordado em 500 000 livros) que a magia não é má, as pessoas é que são.

Mas voltando à sinopse. O Alex é um pária, mas aparentemente o Conselho e alguns magos negros precisam dos seus "skillz" para tentar "abrir" uma relíquia mágica. Há um objeto muito cobiçado dentro da relíquia e toda a gente ultrapassará toda a espécie de limites para o obter. E como Alex foi o único "mago de probabilidades" que não fugiu a sete pés, andam todos atrás dele.

Como disse, este livro é pouco imaginativo, mal desenvolvido e tem um protagonista irritante. É um daqueles livros em que o autor força os acontecimentos fazendo com que aconteçam coisas extremamente convenientes (como a amiga do Alex encontrar "por acaso" - ou magia - a "chave" da relíquia"). A construção do mundo não me convenceu, com a sua distinção nebulosa entre magos "brancos" e "negros", o seu "Conselho de Magos" (nada cliché) e a sua magia à Dungeons and Dragons.

Alex é irritante e... bem, é irritante e isso estragou logo tudo, pronto.

No geral, mais uma série que vai para a "caixinha" das abandonadas. Fantasia urbana no seu mais cliché, sem nada de remotamente original.

Ora, afinal até escrevi alguma coisita.

O mês em leituras (fevereiro): experiências com banda desenhada e ficção científica

Muitos blogues (o Estante de Livros, por exemplo) fazem uma espécie de apanhado mensal das leituras. Nunca o fiz, quer por preguiça, quer porque... bem, suponho que tenha sido apenas por preguiça. Mas como esta mesma preguiça me levou a pura e simplesmente não escrever opiniões da maioria dos livros que li, achei que esta era uma boa forma de não os deixar passar em branco (e, talvez, de diversificar um pouco o blogue, se bem que... nem por isso?).

Este mês foi marcado pela leitura conjunta (ainda a decorrer, ahah) com a Whitelady, do livro "O Primeiro Homem de Roma" de Colleen McCullough. Foi uma obra que me impressionou pela positiva, se bem que não é uma leitura propriamente "leve" (pun intended). Por isso fui intercalando a mesmo com a leitura de algumas bandas desenhadas da Marvel, nomeadamente os X-Men, que sempre quis começar a ler, mas nunca tive coragem, porque não é fácil começar uma série com 50 anos de edições, finais e recomeços. Mas, como sempre, a Internet veio em meu auxílio e encontrei um artigo intitulado "10 Easy Entry Points into the Continuity Quagmire that is 'X-Men' Comics" e lá me decidi a começar pela série "All New X-Men".

Não publiquei opiniões porque não tenho muito a dizer sobre uma série ainda incompleta, mas estou a gostar da experiência.

Fevereiro foi um mês estranhamente diverso em leituras. Li um pequeno conto clássico, Carmilla, do qual gostei bastante. Li manga e banda desenhada "ocidental" (os tais X-Men, em várias incarnações - também molhei o pé na edição dos Ultimate X-Men que tenho cá em casa). Li as minhas habituais fantasias urbanas (das quais não gostei por aí além).  

E li alguns livros de ficção científica que me marcaram de formas diferentes (e aos quais dou o destaque para este mês):

Rendez-vous com Rama de Arthur C. Clarke foi uma agradável surpresa. Passo a explicar: a minha experiência com a prosa de "1984" de George Orwell, que li no final do ano passado foi... terrível. Por isso fiquei com bastante receio de ler autores clássicos de ficção científica (para além disso, sempre tive medo que estes livros me soassem "datados", com tecnologias que ou já tivéssemos atualmente ou que simplesmente me parecessem ridículas tendo em conta as descobertas atuais). Felizmente, este livro de Arthur C. Clarke foi uma leitura incrível e bastante atual (exceto a poligamia, não percebi bem essa, mas enfim). O final do livro deixou-me bastante interessada e devo dizer que concordo totalmente com ele e com a visão do autor. Esperem mais leituras de livros de Clarke no futuro.

O outro livro de FC que li é bastante mais recente (de 2006). Trata-se de Blindsight de Peter Watts. Este livro deu cabo da minha cabeça porque é mesmo a definição de "hard sci-fi" e não consegui seguir todas as explicações a 100%, confesso. Digamos que não é  muito "user friendly". Além disso, o rumo escolhido pelo autor deu-me a volta à mioleira e, enquanto estudante de ciências sociais com alguma afinidade pela filosofia, achei o seu conceito ao mesmo tempo revoltante, impossível (ou pelo menos assim o gostaria de acreditar) e muito, muito apelativo (e horrivelmente possível, pelo menos da forma como o autor o descreve. Hei, é uma possibilidade! Que medo.). Recomendo este livro a todos os amantes do género, muito mais do que alguma vez poderia recomendar outros livros recentes como Robopocalipse, por exemplo.


Rubrica da autoria de vários sites. Título (c) Bookeater/Booklover