Curtas: Ataque do romance histórico

Mais uma edição das curtas, dedicada ao romance histórico, porque parece ser tudo o que me apetece ler, de momento. As opiniões, pelo contrário, teimam em não querer ser escritas, pelo que o melhor mesmo é deixar aqui apenas umas breves impressões.

The Duke's Disaster de Grace Burrowes
Editora: Sourcebooks (2015)
Formato: e-book | 448 páginas
Géneros: Romance histórico
Sinopse.

Impressões: O meu primeiro livro de Grace Burrowes. Não sei se este é o estilo habitual da autora, mas gostei bastante da forma como este livro está escrito, apesar de ter levado um bocado a habituar-me.

Já li muitos romances históricos com a temática do casamento arranjado e uma coisa que têm em comum é o facto de quase todos apresentarem "insta-lust", ou seja, os protagonistas sentem-se sexualmente atraídos e a história parte daí.

Neste livro, não é tanto assim. Há essa componente, mas não se lhe dá essa importância toda. Por isso é que gostei tanto, porque me pareceu que o desenvolvimento da relação foi convincente e realista. O estilo de escrita de Burrowes também me pareceu adequado e a forma como desenvolveu as personagens fez com que me sentisse mesmo transportada para a época: os protagonistas têm uma relação distante, educada e mesmo quando começam a ficar mais íntimos, há aquela forma de estar que associamos às classes altas do século XIX... uma rigidez de costumes que prende mesmo os casais e que me parece mais realista, tendo em conta a educação dos envolvidos, do que a familiaridade moderna que costuma ser a norma nesta temática.

Grace Burrowes é um nome a reter.


Editora: Harper Collins Ebooks (2009)
Formato: e-book | 384 páginas
Géneros: Romance histórico

Impressões: As leituras dos livros de Long são sempre agradáveis, mas nunca nada fora do comum ou que fique na memória.

Não tenho nada de realmente errado a apontar a este livro: foi uma leitura agradável, fluída, com personagens minimamente carismáticas e sem sexo gratuito a cada duas páginas. Os protagonistas poderiam ter tido mais química, mas no geral gostei.

Tendo dito isto, acho que até agora, nunca li um livro desta autora que se destacasse e este The Perils of Pleasure não é, sem dúvida, o livro que se destacará. Uma leitura agradável, mas nada de especial.


Editora: Eternal Romance (2013)
Formato: e-book | 254 páginas
Géneros: Romance histórico

Impressões: Explorando os temas da doença mental e dos asilos na época Vitoriana, este livro poderia ter tido um melhor desenvolvimento nestes campos.

Gostei da temática e da escrita, mas não adorei as personagens. Achei que, para um livro que pretendia ser algo gótico e com personagens complexas e torturadas pelas suas ações, houve pouco desenvolvimento e que as personagens foram mais irritantes do que propriamente pessoas com problemas reais e sobreviventes de uma tragédia.

No geral, foi bom, mas podia ter sido melhor.

It's Monday! What are you reading?

Mais uma segunda-feira. Esta semana, continuo a ler os contos dos irmãos Grimm (que será uma leitura para durar, uma vez que compila várias versões das mesmas histórias, e mais um romance histórico (parece que isto também está para durar).



Quanto a publicações, tivemos algumas, especialmente opiniões, mas também um "Aquisições da Semana"!

  • A Night to Surrender - Tessa Dare (aqui ou aqui - em inglês)

Rubrica da autoria de The Book Journey.

Opinião: Jovens Rebeldes (Edith Wharton)

Editora: Europa-América (1996)
Formato: Capa mole | 384 páginas
Géneros: Ficção histórica

(A edição lida está em inglês, mas apresentam-se os dados da portuguesa)

Edith Wharton foi uma escritora norte-americana nascida em meados do século XIX (faleceu em 1937), que escreveu diversas obras, sendo a mais famosa das quais (e também a vencedora de um prémio Pulitzer) "A Idade da Inocência" (The Age of Innocence).

Não sou muito de me forçar a ler clássicos; creio mesmo que, ao longo dos anos, adquiri uma espécie de aversão a tudo o que fosse livro classificado como "grande literatura" ou "clássico", por teimosia e porque não gosto muito de rótulos. Mas, se for sincera, é também um pouco por preguiça que não costumo pegar neste tipo de livros, que poderão, talvez, dar algum trabalho a ler e a absorver.

No entanto, a sinopse para esta obra de Edith Wharton interessou-me, pelo que, apesar de já ter visto a adaptação cinematográfica de "A Idade da Inocência" e achado que era demasiado dramática para o meu gosto, decidi ler, mesmo assim, este The Buccaneers ("Jovens Rebeldes" em português).

Este livro conta a história de quatro jovens americanas, filhas de duas famílias ricas (os St. George e os Elmsworth) mas ainda demasiado nouveau riche para poderem "entrar" na alta sociedade americana em Nova Iorque. Desanimada, Mrs. St. George segue o conselho da inglesa Laura Testvalley, precetora da sua filha mais nova, e leva as suas filhas para Londres, para tentar arranjar casamentos prestigiosos com aristocratas.

Os Elmsworth depressa seguem o exemplo e todas as quatro raparigas conseguem casar-se com partidos ricos. As raparigas St. George conseguem mesmo casar-se com aristocratas (Virgínia, a mais velha, com um herdeiro de um marquês e Annabel ("Nan"), com um duque.

Mas nem tudo são rosas... as raparigas, e especialmente Nan, em quem a história se vai focar, sentem-se como peixes fora de água no seio de uma sociedade alicerçada em tradições, rituais e na crença de que nada deve mudar.

Jovens Rebeldes explora as sociedades americana e londrina de 1870. As suas diferenças, como uma (a americana) tenta emular a outra (a inglesa) adotando uma visão elitista da riqueza: as antigas fortunas valem mais do que os "novos ricos", assim como em Inglaterra. Mas as diferenças são também exploradas, uma vez que as meninas St. George viajam para Londres; aqui vê-se, que apesar das tentativas de imitação, a sociedade americana não se rege pelos mesmos preceitos da inglesa. E que essa estranheza vai fazer com que os casamentos, pelo menos o casamento de Nan, não sejam felizes,

Gostei desta leitura. A autora consegue mostrar claramente as diferenças entre americanos e ingleses, o declínio do modo de vida inglês e como os aristocratas recusam a mudança, simbolizada pelas ricas herdeiras americanas que vêm para Londres para ganhar estatuto social, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. O que não me agradou particularmente foi a falta de desenvolvimento das personagens, especialmente Nan e Guy.

Fiquei impressionada com a dimensão da tragédia que envolve Nan, o seu marido, o duque e Guy, porque não há realmente um vilão entre eles: apenas uma educação e valores ultrapassados pelo mundo real, decisões feitas sem todas as informações e um amor trágico (mas não demasiado trágico, o que me faria torcer o nariz). Mas, lá está, o problema foi não ter havido desenvolvimento das personagens. O de Guy é quase nulo, o de Nan é incipiente, e por vezes, não consegui sentir grande simpatia por ela, porque me pareceu uma personagem egoísta que não fez o mínimo esforço para tentar perceber a sua situação e mudá-la em vez de, simplesmente, se sentir sufocada.

Percebo que a ideia da autora poderá ter sido fazer com que as personagens representassem comportamentos, problemas e classes inteiros, mas, penso que poderia, ao mesmo tempo, ter feito algo para fazer com que o leitor se "ligasse" um pouco às personagens... para mim, isso não aconteceu.

Esta obra foi a última escrita por Wharton e ficou inacabada. A edição que li foi concluída por uma estudiosa de Wharton, Marion Mainwaring, e pareceu-me que esta última fez um bom trabalho. Mas, mais uma vez, não conseguiu tornar as personagens mais... humanas e menos conceitos.

No geral, uma boa leitura. Foi ótimo ler algo sobre a sociedade da época, escrito por quem a viveu e a escrita é bastante boa. Não consegui criar empatia com as personagens, mas gostei de ler sobre a minudências das sociedades inglesa e americana em meados do século XIX e ver como eram ao mesmo tempo semelhantes e diferentes, uma simbolizando o progresso mas tentando emular valores do passado e outra presa no passado, tentando resistir a uma mudança inevitável, mas entrando, ao mesmo tempo, em decadência.

Aquisições da Semana (47)

Esta semana desgracei-me na Feira do Livro da Fnac. E apercebi-me de que preciso urgentemente de uma câmara como deve de ser que a do telemóvel deixa muito a desejar. Acho que não há mais nada a dizer. :P


Baseado na rubrica In my Mailbox.

Opinião: Firelight (Kristen Callihan)

Editora: Forever (2012)
Formato: Capa mole/bolso | 372 páginas
Géneros: Romance histórico, romance paranormal

Continuando na senda dos romances históricos, mas desta vez com um toque de paranormal, decidi ler mais um livro que cá tenho por casa, intitulado "Firelight".

Miranda Ellis é a filha mais nova de um comerciante (penso eu... talvez ele seja apenas proprietário de um navio de mercadorias, não sei bem) que passa por tempos difíceis, principalmente porque também gostava de roubar os seus clientes. Assim, devido a uma perda de fortuna ele e Miranda vivem muito mal e ela tem de roubar para poderem comer. E embora Miranda não goste de o fazer, ela sente-se responsável pela situação porque foi por sua culpa que o pai perdeu parte da fortuna (mas não toda, entenda-se - o resto foi mesmo culpa do pai).

Benjamin Archer, é um conde (de qualquer coisa, já me esqueci do quê) e é muito rico. Quando salva uma jovem de 19 anos na escuridão de um beco, decide que a quer e fica ainda mais interessado quando descobre que ela é filha de Ellis, o homem que fez com que perdesse uma mercadoria importante. Por isso, Archer decide poupar a vida de Ellis e perdoar-lhe as dívidas em troca da mão da filha.

Três anos depois do acordo, Miranda torna-se a mulher de um homem que não conhece de lado nenhum e que ainda por cima usa sempre uma máscara. Mas a própria Miranda tem um segredo: poderes sobre o fogo.

E é isto. Estava com curiosidade acerca da forma como a autora trataria um conceito tão complexo como desenvolver uma relação entre pessoas que não se conhecem e que, ainda por cima, têm ambos segredos que envolvem o sobrenatural. A resposta: a autora não se saiu nada bem.

Primeiro, falta desenvolvimento ao mundo. A história passa-se na época vitoriana, mas não se tem bem a noção de tal coisa porque os personagens parece que vivem isolados do mundo e da época; não há grande descrição sobre a sociedade, normas, vestuário, política, e todos os aspetos que caracterizam um período com regras tão rígidas e enraizadas. Oh, eles vão a um baile e ele é um lorde, mas não me parece que a autora tenha sido bem sucedida na tentativa de associar a sua história ao período. A atmosfera não é a correta, pareceu-me que a história poderia ter ocorrido em qualquer período, o que, suponho, não era o que a autora pretendia.

Segundo, o romance soou a (ou leu como) falso. A Miranda casa-se com um homem que não conhece e ele casa-se com uma mulher que havia encontrado uma vez durante alguns minutos (e esses minutos foram tudo o que precisou para saber que a queria). Houve ali uma atração instantânea que, sinceramente, não é do que mais gosto de ler em romances históricos (ou qualquer outro tipo de romance, para dizer a verdade).

Tudo bem, não digo que seja preciso retratar uma relação 100% genuína e real (não é para isso que se leem estes livros, penso eu), mas ao menos que seja uma coisa mais ou menos gradual. O tom inflamado e super dramático da narrativa quando se focava no romance também não me agradou, uma vez que personagens com pensamentos ultra torturados do género "oh woe, não posso tocar na minha amada, mas como a quero, pobre de mim" não são algo que adore (por estranho que pareça há muito romance histórico por aí que não se serve deste tipo de linguagem, felizmente). E de repente... bam, eles amavam-se ferozmente, mas woe, tantos obstáculos, tantos! E, não, não falo da máscara.

Terceiro, o elemento paranormal. Os poderes de Miranda nunca nos são explicados. Como é que ela ganhou aqueles poderes (nasceu com eles ou ganhou-os) e quais são as suas limitações? Qual é a origem dos mesmos? Não sabemos.
O problema de Archer, pelo contrário é explicado ao pormenor por meio de "info-dumps" algo chatos, que criam uma história tão ridícula que vai muito para além do que tenho capacidade para acreditar... mesmo dentro do fantástico. Talvez tenha sido porque as explicações eram confusas e tinham a ver com uma mitologia egípcia completamente mal percebida, misturada com anjos, druídas e coisas assim estranhas. Para já não falar do facto do Archer utilizar não uma mas duas máscaras para esconder a cara. A Miranda achava que era porque ele era desfigurado (e eu também), mas afinal era uma maldição (que não desfigura em nada o herói) e woe, a nossa vida é uma tragédia. E o final? Fiquei de boca aberta com o facto de não fazer sentido nenhum e do vilão ser uma autêntica caricatura.

No geral, uma desilusão. O mundo está mal desenvolvido, as personagens são irritantes e demasiado dramáticas, os elementos sobrenaturais são ridículos e tudo é tão exacerbado que fiquei a pensar se isto não seria uma paródia. Por isso, a tentativa da autora de criar um mistério gótico com romance à mistura? Falhou redondamente.

Opinião: The Devil Takes a Bride (Julia London)

Editora: HQN Books (2015)
Formato: e-book | 368 páginas
Géneros: Romance histórico

Continuo com a pancada dos romances históricos e, entre tanta leitura, continuo a encontrar algumas obras do género que tratam de mais do que simplesmente a atração entre duas pessoas.

Este "The Devil Takes a Bride", o primeiro livro que leio da autora Julia London, é mais uma história sobre um casamento arranjado (um tema de que gosto muito, reitero). 

Grace Cabot tem pouco tempo para se casar bem. Agora que o seu padrasto, o Conde de Beckington morreu e que a sua mãe está demente, depressa esta e as suas irmãs serão postas na rua pelo novo conde e pela sua ambiciosa noiva. 

Por isso, Grace vai para Bath e arranja forma se ser apanhada numa posição comprometedora com um jovem de quem ela gosta bastante. Infelizmente, quando chega a altura, encontra-se num abraço amoroso com... o irmão mais velho do seu pretendido!

Geoffrey, o Conde de Merryton é tido como altivo, reto, seco e afastado da sociedade. Quando segue furtivamente o irmão até a uma loja escura em Bath, acaba numa posição comprometedora com uma jovem de boas famílias pelo que tem de casar com ela.

Este livro trata então de um casamento arranjado e do dia a dia de duas pessoas que se veem forçadas a casar, apesar de mal se conhecerem (isto seria bastante normal na época). Mas há uma dificuldade acrescida: Geoffrey sofre do que hoje conhecemos por TOC ou Transtorno obsessivo-compulsivo. Como tal, tem de completar diversos rituais, muitos associados ao número oito, para conseguir "afastar" os seus pensamentos infames ou malignos, que se centram, sobretudo em fantasias sexuais.

Devo dizer que a personagem de Geoffrey me interessou bastante, porque foi intrigante ler sobre uma pessoa com uma doença quase desconhecida no século XIX (e considerada um tipo de "loucura" pelo menos até meados do século) e com uma educação rígida e puritana, que considerava pensamentos e fantasias sexuais que hoje não nos chocam tanto, como erradas ou malévolas (sexo com mais de uma mulher ao mesmo tempo, bondage, etc.).

Também gostei do facto de o amor pela heroína não ter curado Geoffrey... isso seria o cúmulo do irrealista, mas por vezes já espero tudo. O que retirei daqui foi que, para pessoas com esta doença (tal como acontece com a maioria das doenças do foro mental), uma das coisas mais importantes é o amor, compreensão e apoio de quem é importante para eles.

A exploração deste tema pela autora foi bem conseguida, sem dramas excessivos por parte das personagens ou uma compreensão desmesurada por parte de Grace, porque convenhamos: quem não sofre deste transtorno não pode compreender plenamente os mecanismos pelos quais opera, especialmente se estivermos a falar de uma pessoa sem informações sobre a doença... a reação seria estranheza, pura e simplesmente, pelo menos de início.

No geral: embora, em termos de esquema de enredo, este livro não fuja muito ao que é típico no romance histórico, o facto de introduzir uma personagem que necessita de bastante desenvolvimento, torna a leitura bastante interessante.  

Opinião: Silk is for Seduction (Loretta Chase)

Editora: Avon (2011)
Formato: e-book | 384 páginas
Géneros: Romance histórico

Há livros sobre os quais temos muito a dizer. Livros que nos tocaram por uma ou por outra razão, nos quais notámos algo de especial, como um enredo bem construído, umas personagens bem desenvolvidas ou um mundo original. Isto não depende do género de livro que é, apenas do livro em si.

E depois há outros sobre os quais pouco mais podemos dizer a não ser que gostámos da leitura. "Silk is for Seduction" de Loretta Chase pertence a esta última categoria.

Marcelline Noirot é dona, juntamente com as suas duas irmãs, de uma loja de vestidos. A sua ambição é vestir a fina nata da sociedade britânica, mas tem de competir com outras lojas já mais bem estabelecidas pelo que, por agora, veste apenas a baixa nobreza. 

Surge uma oportunidade de mudar o panorama quando o casamento do Duque de Clevedon com a filha de um conde (há muito programado), parece ir, por fim, realizar-se. Marcelline viaja até Paris para se pôr no caminho do Duque, antes de este voltar a Inglaterra, de forma a conseguir a promessa deste, em como a sua futura esposa será patrona da loja Noirot.  

O Duque de Clevedon vive há anos em Paris, em grande parte para fugir às suas responsabilidades. Quando o filho do Conde de Longmore lhe faz um ultimato relativamente à união com a sua irmã, Clara, o duque não tem outro remédio senão voltar a Inglaterra e, finalmente, casar-se.

Mas, durante as suas últimas semanas de liberdade, conhece uma mulher misteriosa e mercenária que o irrita e inflama ao mesmo tempo.

Mais uma leitura agradável mas pouco memorável. Este romance é tudo o que é típico neste género, com duas personagens que se sentem violentamente atraídas uma pela outra, mas que por qualquer razão, não podem ficar juntas. Neste caso, é a diferença de classes que é o obstáculo (para além da pobre noiva do duque).

Marcelline e Gervaise (o duque, já agora) entram numa batalha de vontades, tentando fazer prevalecer a sua. Marcelline quer que a futura duquesa compre o guarda-roupa na sua loja e tudo fará para o conseguir... mas sente-se oh tão atraída pelo duque. E ele por ela.

Não senti grande ligação com as personagens e certamente não achei que o romance fosse original por aí além. O passado da família Noirot (aristocratas franceses caídos em desgraça depois da Revolução, que se tornaram caloteiros e manipuladores) tem algum interesse e a filha de Marcelline é uma personagem engraçada, mas de resto... muita parra e pouca uva. Certamente que dá gosto ler sobre uma heroína que é autossuficiente e confiante, sobretudo tendo em conta a época, mas havia muito que a autora poderia ter explorado, como os vestidos, as modas, os materiais usados, e outros aspetos do género (afinal, Marcelline adora o seu trabalho), mas não o faz. E é por isso que este romance nunca passa de "leitura rápida e medianamente interessante" para algo mais.

No geral, um romance histórico que se lê bem, mas que não traz nada de novo ao género. É um livro formulaico e pouco original, mas não é mau de todo. Recomendado para quem gosta do género e não se importa que seja um romance com pouco brilho e que recorre a temas e estratégias narrativas sobreutilizadas, de forma pouco intrigante.

Opinião: The Rake (Mary Jo Putney)

Editora: Zebra Books (2012)
Formato: e-book | 282 páginas
Géneros: Romance histórico

Aviso: Pequenos (quase insignificantes) SPOILERS.

Março começou e acabou, e em abril continuo com os romances históricos.

"The Rake" de Mary Jo Putney, foi publicado pela primeira vez em 1989 (com o título "The Rake and the Reformer") e é considerado um dos "clássicos" do romance histórico sensual.

A edição que li, data de 2012 e sofreu algumas alterações, mas creio (segundo a autora), que a essência do original continua presente.

Foi uma boa leitura. A personagem do aristocrata despreocupado que gasta fortunas ao jogo, tem amantes e priva com prostitutas de luxo, e passa as noites no clube a beber e a jogar é bastante comum neste tipo de livros, mas "The Rake" mostra-nos o outro lado deste estilo de vida libertino, celebrizado na Inglaterra do século XVII por vários aristocratas de alto gabarito (falamos de condes e duques).

Reginald Davenport acreditou quase toda a sua vida que iria herdar o título de Conde de Wargrave do seu tio... tio esse que o preparou meticulosamente para o papel, de forma rígida e sem lhe dar o mínimo afeto. Talvez tenha sido por isso que Reggie se tornou a essência do libertino, bebendo, seduzindo e jogando por Londres inteira.

A sua situação torna-se ainda mais complicada quando o neto do velho Conde aparece e se torna o herdeiro, fazendo com que Reggie fique sem fortuna, sem título e sem perspectivas. 

O novo Conde de Wargrave não gosta de ver o primo autodestruir-se, pelo que restaura a Reggie a propriedade de Strickland, que o antigo Conde havia apropriado ilegalmente da família da mãe de Reggie e avisa-o que não pagará mais as suas dívidas ou suportará mais os seus hábitos dissolutos.

Sem escolha, Reggie ruma às suas novas terras, decidido a começar uma nova vida como proprietário rural. Em Strickland conhece Lady Alys, que trabalha, estranhamente, como administradora da propriedade.

Alys fugiu de casa há 12 anos e teve de se valer das suas capacidades para sobreviver. Com algumas pequenas mentiras (nomeadamente, relativamente ao seu sexo), conseguiu o posto de administradora de Strickland, que gere desde então com imenso sucesso. Quando Reggie aparece, como novo proprietário, Alys pensa que será despedida... mas o seu novo patrão surpreende-a e deixa-a ficar. Os dois desenvolvem uma grande amizade, apesar dos segredos que ambos têm.

Como disse, esta história explora o outro lado da vida dissoluta destes aristocratas que são tão charmosos em muitos outros livros deste género. Também na maioria dos livros, os heróis deixam a sua vida de libertinagem com facilidade e sem problemas. Isso não acontece aqui. De facto, "The Rake" mostra-nos que essa libertinagem tem consequências.

Isto porque Reggie é alcoólico. Depois de anos a beber mais do que a sua conta, não consegue passar sem algumas bebidas e muitas vezes embebeda-se a tal ponto que perde a memória do que acontece nessas horas. E o livro foca-se muito nesta vertente, nos perigos da bebida (Reggie não é das pessoas mais agradáveis quando bebe), no esforço que um alcoólico em recuperação tem de fazer para se manter afastado da tentação e como o apoio de outras pessoas é vital para que tal aconteça.

A amizade entre Alys e Reggie é bastante realista e interessante. Ao contrário do que se passa na maioria dos romances históricos, em "The Rake", não temos um amor fulminante, com os protagonistas a professarem o seu interesse e luxúria quase imediatamente. Certamente que Reggie e Alys se sentem atraídos um pelo outro, mas não acham logo que é amor... isto pode também dever-se ao facto de serem um pouco mais velhos do que a maioria dos protagonistas de romances históricos. 

Seja como for, gostei do facto do romance ser uma parte importante do livro, mas que não fosse a única coisa de que trata o livro. O alcoolismo de Reggie, a insegurança e os segredos de Alys compõem uma parte bastante grande do enredo e são importantes para o desenvolvimento dos sentimentos entre as duas personagens.

No geral, um livro muito interessante. Se esperam cenas quentes e amor quase à primeira vista, este livro não vos agradará. Se preferem um romance mais multifacetado, mais longo e mais realista, que se insere no contexto de outros acontecimentos, irão gostar de "The Rake".

It's Monday! What are you reading?

Depois de um fim de semana prolongado e muito produtivo em termos de leituras, chega mais uma segunda feira. Estou a ler dois livros, algo que não costumo fazer. No entanto, como um dos livros é composto por pequenos contos, que posso ir lendo de vez em quando, abri uma exceção.



Quanto a publicações, não foram muitas (nem poucas), mas tivemos o post sobre as leituras do mês:

Rubrica da autoria de The Book Journey.

Opinião: Uma Fortuna Perigosa (Ken Follett)

Editora: Editorial Presença (2015)
Formato: Capa mole | 568 páginas
Géneros: Ficção histórica

Só muito recentemente comecei a ler livros do Ken Follett (com uma notável exceção). Apesar da sua enorme popularidade, tanto internacional como em terras lusas, confesso que tenho algum receio de ler este tipo de autores super famosos, com inúmeros bestsellers em seu nome. Isto porque, geralmente, estes autores escrevem thrillers e livros de ação que, para mim, se revelam leituras muito semelhantes umas às outras e de uma forma que não aprecio particularmente. Exemplos são os livros de Dan Brown, que li uma vez e já não consigo reler e os de James Patterson, que não achei nada por aí além.

Suponho que não serão os meus livros de eleição. Mas Ken Follett escreve também ficção histórica e, depois de ter lido o famoso "Pilares da Terra" (e de ter gostado) e o primeiro livro da trilogia "O Século" (do qual gostei ainda mais), comecei a pôr este autor num patamar diferente dos Dan Browns e James Pattersons do mundo.

Quando saiu este novo livro (novo como quem diz... a versão original é de 1993), corri a comprá-lo, até porque, mais uma vez, se tratava de um romance histórico. E não fiquei desiludida.

Corre o ano de 1866 quando uma tragédia se abate na Windfield School, uma escola preparatória para a classe média e para a classe abastada composta por homens de negócios. Um rapaz de 13 anos é encontrado morto numa lagoa e, no centro do mistério estão alguns dos seus colegas: Edward Pilaster, filho de um rico banqueiro, Micky Miranda, filho de um rancheiro de Córdova, um país na América do Sul e Hugh Pilaster, primo de Edward, cujo pai tem uma fábrica de tinturas. O segredo do que aconteceu naquele dia em 1866 vai unir estas personagens ao longo das décadas seguintes, acabando por dar origem a um acontecimento de proporções devastadores, que quase destruirá a família Pilaster, na altura uma das mais ricas de Inglaterra.

O livro explora então a vida destas personagens, a sua relação e o clima de segredos que são perpetuados por Augusta Pilaster, a matriarca da família que tem, deixei-me dizer-vos, uma afeição quase obsessiva pelo filho Edward.

As personagens não fogem muito aos seus papéis predefinidos. Ou seja, vemo-las crescer, certamente, mas as características fundamentais de cada uma continuam sempre inalteradas: Hugh é o homem reto e honesto, cuja vida está repleta de adversidades, quer nos negócios quer no amor; e claro, é um génio banqueiro. Edward é o indolente, o permissivo, aquele a quem tudo lhe é dado em virtude do seu nascimento e que, no fim, toma decisões desastrosas. Micky é o encantador de serpentes, sedutor e manipulador. E temos Augusta, também manipuladora, que apenas se interessa em avançar a causa do filho, cega aos seus defeitos e que quer mover-se em círculos cada vez mais elevados. Achei que a sua personagem é algo irrealista porque Augusta não me pareceu burra e, no entanto, apesar de estar casada com um banqueiro e de conviver com banqueiros, não mede as consequências das suas ações no banco.

O enredo está cheio de intrigas, segredos, traições e todas essas coisas que fazem uma boa telenovela e lê-se de forma compulsiva.

Gostei também de todo o desenvolvimento do mundo. Follett dá-nos informações aprofundadas sobre o sistema financeiro da época, sobre como eram geridas as instituições bancárias, sobre quais eram as leis relativas à finança e sobre o panorama económico da segunda metade do século XIX. E claro, sobre a posição destas famílias, muitas vezes mais ricas do que os próprios nobres, numa sociedade de classes rígidas. Esta foi, para mim, a parte mais interessante do livro.

O romance pareceu-me bastante irrealista, o que não me incomodaria tanto se não fosse uma força motriz para a criação de tanto drama para a nossa personagem principal: Hugh Pilaster.

No geral, um livro que se lê muito bem mesmo e que é extremamente interessante. Recomendado para quem gosta de ficção histórica. 

O mês em leituras (março): números recordes e romances históricos

E eis que passou mais um mês e chegou a altura de fazer mais um apanhado das leituras.

Março foi um mês de números recordes relativamente a leituras: li mais de 20 livros (se contarmos os volumes 1 a 14 do manga Kimi ni Todoke, que reli em preparação para a leitura dos volumes mais recentes). Assim, li no total 33 livros, 16 dos quais foram volumes de manga (com cerca de 250 páginas cada), que, para ser sincera, podem ser lidos rapidamente, e 1 dos quais foi um conto com menos de 100 páginas. Ficamos com 16 livros "normais", ou seja, no fundo estou dentro da média de livros que leio por mês, mais coisa, menos coisa.

Este mês dediquei-me, principalmente, aos romances históricos. Não foi devido a nenhum desafio ou algo assim, foi simplesmente porque estava para aí virada, suponho. Cheguei à conclusão de que agora procuro algo diferente neste género de livros: não apenas o romance, mas também as descrições ricas do período, pois quero ficar a conhecer mais sobre a sociedade da época. Claro que romances focados inteiramente na parte romântica também têm o seu lugar e gosto de os ler... mas o problema com esses romances é que só existe um número finito de enredos que podem levar duas pessoas a ficarem juntas e a viver "um grande amor", é penso que já as li todas.

No fundo, gosto de ambos os tipos de romance histórico, mas o nível de apreciação dos livros focados inteiramente no romance irá depender mais da minha disposição, suponho.

Tive boas surpresas, relativamente a romances históricos que exploram as épocas em que têm lugar, com algum detalhe: To Charm a Naughty Countess de Theresa Romain, por exemplo, que explora as mudanças sociais e laborais devidas à introdução de máquinas a vapor na agricultura. Outro exemplo de um livro do género de que gostei foi Um Amor quase Perfeito de Sherry Thomas.

Mas não li apenas romances históricos. Li também o terceiro volume de uma série da qual gosto imenso: Vision in Silver de Anne Bishop.

E quanto a ficção científica, também tivemos alguma. Li The Diabolical Miss Hyde de Viola Carr, um livro de ação passado numa Inglaterra vitoriana muito steampunk. Li também os dois livros da série Reckoners (Steelheart e Firefight), de um dos meus autores favoritos, o Brandon Sanderson. Esta série centra-se nuns Estados Unidos devastados por seres com superpoderes, os Épicos. A Humanidade vive o melhor que pode nesta paisagem pós-apocalíptica tendo como única defesa a fação rebelde dos Reckoners que mata Épicos e extrai o seu ADN para fazer armas.

Rubrica da autoria de vários sites. Título (c) Bookeater/Booklover