Opinião: A Lâmina (Joe Abercrombie)

Editora: Gailivro/ 1001 Mundos (2011)
Formato: Capa mole | 624 páginas
Géneros: Fantasia

Mais um livro das minhas prateleiras conquistado.

Este "A Lâmina" é a obra de estreia de Joe Abercrombie, um aclamado escritor de fantasia britânico.

Segue as desventuras de três personagens muito diferentes entre si, que têm todas, aparentemente, a particularidade de serem... más pessoas. Ou pelo menos é o que é apregoado, porque sinceramente nunca me pareceu que qualquer uma delas fosse particularmente malévola... apenas humana.

Logan Novededos é um bárbaro do norte que anda com uma má sorte desgraçada. O seu bando foi atacado e morto às mãos de estranhas criaturas, que denominam "cabeças rasas". E ele próprio anda fugido, quer dessas criaturas, quer do novo, autoproclamado Rei do Norte. Quando um aprendiz de mago lhe diz que o grande Bayaz, o Primeiro dos Magos, pede a sua presença, Logan encolhe os ombros e pensa: "porque não".

Jezal dan Luthar é filho de uma poderosa e nobre família da União, uma potência política e militar encaixada entre o norte (que tem povos reminiscentes dos vikings) e o sul (onde residem povos com uma cultura parecida com a da antiga civilização chinesa, talvez). O seu título militar foi comprado pelo pai e tudo o que Jezal quer fazer é ser um típico adolescente (apesar de não o ser, em idade) e beber, ir para a cama com montes de gajas e, no fundo, curtir a vida. Infelizmente, sem saber bem como acabou inscrito na "Prova" uma competição onde guerreiros combatem por honrarias e prémios.

Glokta, antigo soldado é hoje um Inquisidor de Sua Majestade. Com o corpo e a alma partidos, parece conseguir alguma felicidade em arrancar à pancada e através de tortura, todo o tipo de confissões aos traidores (sejam elas verdade ou não). Vai-se ver metido numa conspiração política cujo objetivo não é claro.

E são estes os heróis improváveis deste livro. Oh... há ainda Ferro Maljinn uma antiga escrava do Imperador (do Sul), cuja especialidade é desancar tudo o que se mexe.

Como já terão podido adivinhar (talvez) pelas minhas descrições algo sarcásticas das personagens, este livro não me encheu, de todo, as medidas. Para uma fantasia épica tão popular e bem cotada, achei que foi extremamente... aborrecida.

Primeiro problema: o mundo. Tão genérico, senhores. As ideias sem qualquer originalidade, os reinos estereotipados, enfim, podia chamar-se "Mundo de fantasia A-3" ou "União" que seria a mesma coisa. Não há descrição que permita a visualização das cidades, da geografia (exceto que no norte está frio e no sul há desertos, I mean, really?), da história... de nada. A mitologia, o pouco que o livro dedica a ela, pareceu-me vagamente interessante e pode ser a única razão pela qual continuarei a ler esta série. De resto... total snoozefest. Pelo menos não há elfos e anões. Ainda.

Segundo problema: as personagens. As suas ações não parecem ter qualquer sentido. O Logan embarca numa viagem para ir conhecer o Primeiro Mago porque... não sei. O Jezal é o mestre da indolência. O Glokta é constantemente usado pelo Inquisidor chefe e sabe que está a ser usado mas não faz mais do que seguir ordens. 

Depois temos o Bayaz, que é um mago Mui Poderoso e que anda de um lado para o outro a intrometer-se em todo o lado e a dizer que é um homem que viveu há eons atrás (e espera que todos acreditem assim, sem mais nem menos).

E nem me ponham a falar da Ferro. A solução dela para tudo é dar porrada em toda a gente. Muito profundo.

Terceiro problema: a história. E qual história, pergunto eu. O livro tem umas impressionantes 624 páginas que são passadas a... apresentar as personagens. I kid you not. Intriga política? Bem, uma coisinha incipiente lá pelo meio, mas apenas para mostrar que o Glokta não tem tomates e que o Bayaz tem todo o direito a interferir em tudo. No fim de tudo, as personagens andam de um lado para o outro a realizar ações perfeitamente corriqueiras: Logan viaja com Bayaz para a capital da União, Jezal treina-se para os Jogos da Fome a Prova e Glokta recebe ordens para torturar pessoas because... razões (que nunca percebemos porque a tal intriga política não leva a lado nenhum e as pessoas torturadas e afastadas não parecem ter assim tanta importância, no final fica tudo em águas de bacalhau). O Bayaz fala numa demanda (uuuuh!) mas isso é só para o segundo livro.

Gosto de personagens desenvolvidas, mas 1) 624 páginas é demais e 2) se realmente se tem de utilizar 624 páginas para o fazer, por favor deem-me personagens que sejam mais do que estereótipos de personagens de fantasia épica (o bárbaro, o guerreiro e o inquisidor) sem profundidade! Vá lá isto não é um RPG online. 

No geral... desapontante. Apenas a mitologia e a promessa da visita a novos mundos me fez ter interesse no segundo livro.

Opinião: Deixa-me Entrar (John Ajvide Lindqvist)


Editora: Contraponto (2010)
Formato: Capa mole | 448 páginas
Géneros: Fantasia urbana, Terror

O blogue tem andado parado por diversas razões: pessoais e também porque, possivelmente por causa da primeira razão, não me tem apetecido escrever opiniões. 

No entanto, Deixa-me Entrar do autor sueco John Ajvide Lindqvist foi uma surpresa tão grande não só em termos daquilo que esperava do livro e daquilo que obtive, mas também do teor da história, que achei que merecia uma opinião, por mais desconjuntada que pudesse ser.

Deixa-me Entrar passa-se num bairro social de Estocolmo, nos anos 80 e tem diversos protagonistas, embora os mais notórios sejam Eli e Oskar. Eli muda-se para o prédio de Oskar, um rapaz de 12 anos que é vítima de bullying na escola e os dois jovens tornam-se amigos improváveis. Isto porque Eli é uma rapariga estranha, que apenas sai à noite e que por vezes parece estranha e demasiado adulta para a idade.

Como disse, este livro foi uma surpresa. Primeiro porque esperava que o foco da história fosse o facto de Eli ser uma vampira e como tudo isso é sobrenatural. Mas estranhamente, este livro está tão cheio de horrores de várias espécies, que o facto de Eli ser uma criança imortal que necessita de sangue para sobreviver não é, de todo, o mais assustador neste livro.

John Ajvide Lindqvist aborda temas pouco agradáveis e incomodativos como a pedofilia, a violência contra as crianças e o bullying. Eli é forçada a manipular um pedófilo para que ele mate por ela e lhe traga o sangue de que necessita. Oskar leva tareias e é humilhado na escola. E temos também o passado de Eli, surpreendente e horrivelmente violento. O vampirismo parece ser algo secundário.

A relação entre Eli e Oskar é uma mistura de manipulação, inocência e apoio mútuo. É, em muitos aspetos, uma relação pouco saudável e estranha, mas no final, tanto Eli como Oskar retiram dela benefícios inesperados. Oskar consegue dela coragem e Eli aprende humildade e a gostar de um ser humano, algo que não fazia há muito.

A maioria das outras personagens são todas seres humanos asquerosos, de uma maneira ou de outra, mas também tão humanos que nos dão nojo e ao mesmo tempo nos fazem ter vergonha de sermos da mesma espécie.

Deixa-me Entrar é um livro "sujo", realista e desconfortável que mostra algumas das facetas mais escuras e desprezíveis da humanidade. É também um livro que não transmite assim muita esperança. Mas tenho de admitir que é isso que faz dele um livro tão impressionante.

No geral, uma leitura que me deixou incomodada e um livro cujo foco me surpreendeu. Não diria que adorei ou que o vou ler de novo, mas foi um livro que me tocou, algo que se torna cada vez mais difícil, se for sincera. Nunca será um favorito, na verdade nem tenho a certeza se gostei... mas talvez seja isso que torna um livro grande. 

Opinião: Wayward Pines - Paraíso (Blake Crouch)

Editora: Suma das Letras (2015)
Formato: Capa mole | 336 páginas
Géneros: Mistério, Ficção científica

Nunca tinha ouvido falar deste livro até a FOX começar a dar anúncios sobre a série; também tenho de confessar que este tipo de histórias reminiscentes do "Lost" (Perdidos) não me cativam por aí além uma vez que devo ser uma das poucas pessoas que não suporta a série.

Mas, uma vez que o livro é um fenómeno tão grande, tão popular e (dizem) com um final tão inesperado, decidi tentar a leitura. Que não foi má de todo, apesar de estar longe de ser brilhante.

E. Burke, agente dos Serviços Secretos dos Estados Unidos acorda no hospital de Wayward Pines depois de ter sofrido um grave acidente em que o seu parceiro morreu. Burke tem uma concussão e mal consegue sair da cama, mas isso não o vai impedir de realizar sua missão: investigar o desaparecimento de dois outros agentes na pequena cidade.

Mas cedo Burke começa a perceber que nem tudo é o que parece. Algo de estranho se passa na cidade e parece que muita gente está a esconder algo. À cabeça da conspiração, Burke suspeita, está o xerife. 

Não é possível dizer muito mais sobre este livro sem "spoilar" potenciais leitores, mas posso dizer que não fiquei assim muito impressionada.

(os SPOILERS começam aqui).

A frase na capa prometia-me um "crescendo" de suspense, mas na verdade a escrita de Crouch não é boa o suficiente para criar a tensão que supostamente, a história devia ter. Na verdade o livro é demasiado pequeno para existir mais do que um esboço de uma história que deveria (e poderia, nas mãos certas) ter dado para muito mais.

Este primeiro livro mostra-nos a situação da cidade e como a população sobrevive num mundo pós-apocalíptico. Houve diversas situações que achei que não faziam muito sentido, como as caçadas ao homem e, bem, na verdade todo o planeamento do homem atrás da cortina, um tal de David qualquer-coisa.

O facto de eu não me lembrar do nome desta personagem, mostra o quão pouco esta e outras estavam desenvolvidas. Mais uma vez, meros esboços, com pouca personalidade e poucas características intrigantes.

No geral, um livro bastante mediano. Não senti a tensão crescente que esperava e o mundo desenvolvido é bastante genérico, com criaturas que não são zombies, mas quase e uma data de sobreviventes que nem sabem que o são. Não existem quaisquer pormenores inovadores e as personagens pouco interessantes não ajudam. A escrita é pouco mais que competente. Uma boa leitura de praia, mas não esperem nenhuma obra-prima ou um enredo complexo. Ficarão desiludidos.